Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
24/08/2022 às 11h50min - Atualizada em 24/08/2022 às 11h50min

Em cinco anos, preço da carne bovina sobe 90% em Uberlândia

Com inflação no alimento, consumo do produto pode ser o menor dos últimos 26 anos no país

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Valor por 6 kg de carne registrado na cesta básica em julho deste ano foi de R$ 240,95 I Foto: EBC
Entre os 13 itens que compõem a cesta básica, a carne vermelha tem sido o produto que mais tem pesado no bolso dos consumidores de Uberlândia. Sozinho, o alimento é responsável por 37% do gasto mensal de uma família de até quatro pessoas. Os dados são do Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômico-Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (Cepes/UFU). O estudo aponta ainda que, de 2018 a 2022, o valor gasto para adquirir 6 Kg do alimento teve uma alta de 90%.
 
De acordo com o CEPES, em julho deste ano, o preço da carne registrado na cesta básica foi de R$ 240,95, valor bastante superior ao mesmo período de 2018, quando o alimento custava R$ 126,69. O levantamento do instituto leva em consideração três tipos de carne: coxão mole, patinho e lagarto.
 
Em julho de 2019, por exemplo, o alimento teve um preço registrado de R$ 131,60, enquanto em 2020 os custos chegaram a R$ 168,90. A escalada dos valores foi ainda mais sentida no ano passado, quando o boletim do Cepes registrou R$ 232,61 pelo item.
 
Com a alta do alimento em todo o país, o consumo de carne tem caído. É o que aponta a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Conforme divulgado pelo órgão, cada brasileiro consumiu 24,8kg durante este ano. Em 2012, o consumo era de 35,9kg por habitante, resultando em uma diminuição de aproximadamente 30%.
 
A disponibilidade de carne por brasileiro é feita por meio do cálculo da soma dos números de produção nacional e importação, subtraindo o volume exportado. Em 2020, a disponibilidade era de 27,7kg e em 2021 foi de 27,8kg. Segundo a Conab, alguns fatores explicam a diminuição do consumo do alimento, tais como a crise econômica e a diminuição do poder de compra.
 
Ainda de acordo com a companhia, o consumo de carne bovina em 2022 pode ser o menor registrado nos últimos 26 anos. Em 1996, a disponibilidade de carne per capita foi de 38,7kg. O ano com maior consumo no recorte foi 2006, quando o brasileiro consumiu 42,8kg. Veja abaixo a comparação:
 
Disponibilidade de carne bovina per capita (kg/hab/ano)
1996 – 38,7kg
1997 – 36kg
1998 – 34kg
1999 – 36kg
2000 – 34,9kg
2001 – 34,3kg
2002 – 40,7kg
2003 – 40,4kg
2004 – 36,8kg
2005 – 39,6kg
2006 – 42,8kg
2007 – 41,2kg
2008 – 35,9kg
2009 – 34,9kg
2010 – 36,5kg
2011 – 35,6kg
2012 – 35,9kg
2013 – 38,3kg
2014 – 35,3kg
2015 – 33,2kg
2016 – 33,9kg
2017 – 33,9kg
2018 – 33,9kg
2019 – 30,6kg
2020 – 27,7kg
2021 – 27,8kg
2022* - 24,8kg
 
PREÇOS NAS ALTURAS
A uberlandense Alessandra Maria Silva, 52 anos, conta que a carne bovina se tornou um alimento raro em casa. Atualmente, a cuidadora de idosos vive com o filho, o tio e a mãe, que é acamada. Com a inflação, ela afirmou que tem dado prioridade a produtos essenciais e substituído a carne vermelha pelo ovo e frango.
 
Neste mês, ela disse que foi ao supermercado e levou um susto com os preços de algumas peças. Segundo Alessandra, a família tem tido dificuldades de comprar até mesmo carne moída e o bife de fígado. “Não como a carne vermelha quase nunca, é uma vez a cada dois meses, precisei mudar o meu consumo”, explicou.
 
“Tenho comprado mais carne de porco e o frango, que está mais em conta, mas mesmo assim está caro. Faz séculos que eu não faço ou participo de um churrasco. Eu pago aluguel, preciso comprar medicações e fraldas em casa, então a renda vai embora. A carne vermelha acabou se tornando algo supérfluo para a gente”, disse.
 
Quem também percebeu a alta nos preços da carne foi o empilhador Roberto Mendes de Jesus. Para continuar ingerindo proteína animal, ele conta que precisou mudar as compras e optar pelo ovo, frango e carne suína, especialmente o suan de porco.
 
“A gente vai fazendo o que dá, comprando mais verdura, comprando frango para fazer um molho. A carne vermelha até consigo comprar, mas a gente come umas três vezes no mês. Antes dava para comer mais, hoje em dia é bem pouco”, contou.

 

• Compartilhe esta notícia no WhatsApp

 
MUDANÇA NO CARDÁPIO
De acordo com a nutricionista Daniela Zuin, além da alta do preço da carne e a crise econômica vivenciada no Brasil, um fator importante pode ter contribuído para a queda no consumo do alimento no país: a mudança comportamental do consumidor. Segundo ela, cada vez mais pessoas têm se conscientizado sobre o consumo da carne vermelha e optado por comidas mais nutritivas e benéficas à saúde.
 
“Consumir carne vermelha em excesso faz mal à saúde. Temos visto, principalmente entre os jovens, um menor consumo de proteína animal e maior consumo de proteína vegetal. Muitas pessoas acreditam que a proteína só vem da carne, mas isso não é verdade. É possível ter um aporte proteico pelos vegetais”, explicou a especialista.
 
Em entrevista ao Diário, Daniela Zuin conta que a mistura entre o arroz e feijão é ótima para os níveis de proteína do corpo. O açaí, quando misturado com granola e banana, também contribui para a saúde. Outros alimentos citados pela nutricionista são o brócolis, lentilha, ora-pro-nóbis, tofu, iogurte e grãos.
 
“O leite com granolas ou aveia é ótimo, assim como ter uma salada com cenoura, batata e gergelim, incluindo ainda uma semente de abóbora ou de girassol. É importante sempre ter uma alimentação variada em legumes e vegetais e monitorar os índices de ferro, ácido fólico, principalmente as mulheres”, detalhou.
 
Ainda segundo Daniela, a pessoa também pode substituir a carne vermelha por outros tipos de proteína animal. O frango, o ovo e a carne suína são as opções mais comuns, mas também há a possibilidade de ingerir frutos do mar. O ideal, conforme relatado pela nutricionista, é tomar cuidado na hora do preparo.
 
“Não adianta pegar um frango e fazer ele frito ou empanado, a preparação também é muito importante. As pessoas precisam ter a noção de que não precisam ingerir proteína animal todos os dias. Duas ou três vezes por semana já está de ótimo tamanho”, explicou Daniela Zuin.

VEJA TAMBÉM:

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90