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23/08/2022 às 15h30min - Atualizada em 23/08/2022 às 15h30min

Pesquisadores da UFU desenvolvem jogo virtual para auxiliar no tratamento de AVC

Iniciativa busca a reabilitação de pessoas com sequelas nos braços após terem sido acometidas pela patologia

REDAÇÃO I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA

Buscando auxiliar na recuperação efetiva de membros comprometidos por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) desenvolveram um sistema de treinamento utilizando realidade virtual. A iniciativa se trata de um jogo para reabilitação de pessoas com sequelas nos braços após terem sido acometidas pela patologia.

 

O jogo foi criado em 2019 por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Engenharia Elétrica (Feelt), os então mestrandos Gabriel Cyrino e Júlia Tannús, além do doutorando Leandro Mattioli e os professores Eduardo Naves e Edgard Lamounier. O AVC, popularmente chamado de derrame, acontece quando os vasos que levam sangue ao cérebro entopem ou se rompem, provocando paralisia da área cerebral afetada e, consequentemente, de outras partes do corpo.

 

A novidade era controlada por meio de um aparelho chamado Myo. O equipamento conseguia capturar os movimentos do braço do paciente, mas de uma forma livre. Já para calcular o grau de espasticidade, foi desenvolvido um dispositivo no Núcleo de Tecnologia Assistiva (NTA), por Andressa Rastrelo Rezende e Camille Marques Alves, que eram mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica (PPGeb) da UFU.

 

Conhecidos como Jogos Sérios, eles são utilizados de forma educacional e já existem para o tratamento de AVC, mas, em sua maioria, não detectam movimentos compensatórios. Algumas formas de compensação são claras, mas outras são sutis o suficiente para passar despercebidas, como a utilização do outro membro, movimento no tronco e ombros, e outras formas de facilitação, sendo confundidas com recuperação.

 

A falta de detecção desses movimentos compensatórios pode levar o paciente a aprender padrões novos e incorretos, comprometendo as sessões de treinamento. Pensando nisso, Cyrino, agora em seu doutorado em Engenharia Elétrica na UFU, se uniu às fisioterapeutas Najara Zago e Roberta Aramaki, ao professor de Engenharia Elétrica Alexandre Cardoso e ao professor de Engenharia Biomédica Alcimar Soares para aprimorar o sistema e detectar os movimentos compensatórios. O trabalho também contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), com o Grupo de Realidade Virtual e Aumentada (GRVA) e com o Laboratório de Engenharia Biomédica (BioLab) da UFU.

 

“Após a defesa e testes dessa versão de 2019, nos aproximamos mais no BioLab e identificamos várias formas de dar continuidade ao projeto e corrigir a principal falha apontada na primeira versão: a captura com o Myo permitia que o paciente fizesse movimentos compensatórios que poderiam agravar o estado dele ao invés de reabilitar”, explicou Cyrino.

 

Desse modo, os pesquisadores desenvolveram um sistema que consiste em um Jogo Sério de realidade virtual personalizável, com níveis e tarefas adaptáveis. A interação com o jogo é feita através de uma alça de uma plataforma robótica que pode ser configurada para estimular ou restringir a execução dos movimentos. “A solução permeada por Jogos Sérios parece indicar que a utilização dos mesmos suporta bons tratamentos de natureza fisioterápica e de reabilitação de usuários que sofreram AVC”, enfatizou Alexandre Cardoso.

 

O SISTEMA

O modelo proposto é dividido em três elementos principais: uma plataforma robótica, um Jogo Sério e uma rede de rastreamento. No jogo, o paciente deve controlar uma ave de rapina para caçar e fugir de predadores, com objetivos e desafios a serem cumpridos. Para isso, são colocados rastreadores de movimento 3D em diferentes pontos do braço parético, aquele afetado pelo AVC. Por meio desses rastreadores, é possível detectar um movimento compensatório.

 

Por exemplo, se no jogo o pássaro precisar virar para a direita e o sistema detectar que o paciente está utilizando um movimento compensatório, o pássaro não se move, induzindo o paciente a fazer os movimentos corretamente. O sistema também é composto por um painel de controle, onde o terapeuta pode cadastrar, alterar e consultar os dados do paciente, configurar os parâmetros gerais do ambiente virtual, selecionar os níveis de cada sessão e adaptar os desafios para cada um deles.

 

“A maioria dos Jogos Sérios se limitavam a simples ambientes 2D ou ambientes 3D de baixa qualidade gráfica, o que poderia afetar o interesse e o engajamento do paciente. Assim, o Harpy Game foi concebido, onde, através de um ambiente lúdico e realista, permitiria ao fisioterapeuta a customização dos níveis e tarefas a partir de um painel de controle desenvolvido”, explica Cyrino.

 

Para o experimento, foram utilizados cinco rastreadores posicionados no peito, braço, antebraço e mão, além de um rastreador utilizado como referência. A partir dos dados coletados e de uma análise utilizando um modelo musculoesquelético biomecânico, é possível corrigir os movimentos compensatórios. Como resultados, os pesquisadores perceberam que a utilização de um sistema integrado pode ser de grande valia para o processo de reabilitação neurológica, principalmente quando realizada em ambientes altamente ajustáveis  que respeitam as limitações individuais, oferecendo ao terapeuta ferramentas para analisar a evolução e os resultados do tratamento.

 

Cyrino destaca que o principal desafio é o tratamento dos dados capturados para identificação e classificação dos movimentos. “Assim, será possível identificar, por exemplo, quais conjuntos musculares foram ativados e quais não foram, para que o fisioterapeuta possa retroalimentar o tratamento com tais informações”, completou.

 


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