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18/07/2022 às 09h20min - Atualizada em 18/07/2022 às 09h20min

Procura por conserto de eletrônicos registra alta de até 80% em Uberlândia

Preço de eletrodomésticos e aparelhos de informática teve alta de 9,2% nos últimos 12 meses na cidade; economista fala sobre queda no poder de compra

IGOR MARTINS e SÍLVIO AZEVEDO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Proprietário de loja afirma que demanda pelo serviço aumentou 80% nos últimos dois anos | Foto: Arquivo Pessoal
O preço dos aparelhos eletrônicos subiu 9,2% em Uberlândia, nos últimos 12 meses, segundo dados do Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômico-sociais (Cepes). A alta, que acompanha a inflação acumulada de 10,71% registrada no último ano, tem impactado na diminuição do poder de compra e provocado uma mudança no comportamento dos consumidores. Em vez de substituir um produto usado, muitos têm optado, quando possível, pelo conserto dos equipamentos em lojas de assistência técnica da cidade, que já sentem um reflexo de até 80% no crescimento da demanda. 

É o caso da loja da qual Roberson Fábio Silva é proprietário. De acordo com o empresário, a Eletrônica FX, que fica no bairro Nossa Senhora das Graças, teve um aumento de 80% na procura por reparos nos últimos dois anos. No início da pandemia de covid-19, o técnico disse que realizava manutenções em equipamentos dentro de casa, mas a procura cresceu tanto que ele alugou um espaço físico e abriu o próprio negócio.

“Esse mercado está em ascensão. Antes, eu trabalhava em casa e tive que alugar um ponto de comércio, porque a minha casa não estava suportando mais. Completei dois anos aqui no meu espaço nesta terça (12), resolvi alugar porque a demanda cresceu muito e precisava dar um atendimento legal aos clientes”, disse.

Os itens mais comuns na assistência técnica de Roberson são televisões, micro-ondas, liquidificadores, sons, aspiradores de pó, DVDs e notebooks. De acordo com o Cepes, instituto vinculado à Universidade Federal de Uberlândia (UFU), esses itens estão dentro da lista dos aparelhos que mais tiveram aumento de preço dentro no último ano, o que reflete na busca pelos reparos. O ranking tem os eletrodomésticos na primeira posição, com 13,6%, seguido por materiais de som, imagem e informática (5,4%). 
 
“Grande parte da população perdeu o poder aquisitivo, e com a inflação a procura aumentou bastante. Aqui, nós ainda oferecemos uma garantia para o cliente entre três e seis meses. Espero que continue dessa forma, em muitos casos compensa mais arrumar um equipamento do que comprar um novo”, explicou Roberson Fábio Silva.


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MAIS ECONÔMICO
No mês passado, a comissária de bordo Gabriella Xavier teve problemas com um micro-ondas. O equipamento precisou ir para a assistência técnica. O preço cobrado pelo estabelecimento foi de R$ 120 com uma garantia de três meses. Ela conta que se fosse comprar um novo, precisaria desembolsar pelo menos R$ 400 pelo produto.

O eletrodoméstico é um dos mais utilizados por Gabriella. Segundo ela, além do melhor custo-benefício, a opção pelo conserto pode ser mais rápida do que comprar um aparelho de fábrica. “Eu trabalho viajando e quase não faço comida em casa, então o micro-ondas é muito útil. Mandar para a assistência técnica valeu muito mais a pena do que comprar outro nesse momento. Se for analisar bem, foi uma economia de praticamente R$ 280, sem contar o frete do produto”, relatou.

Quem também optou pela manutenção de um produto ao invés de comprar um novo foi a estudante de Jornalismo Vitória Caregnato. Recentemente, ela precisou levar a máquina de lavar roupas para a assistência técnica após o mau funcionamento do equipamento. Segundo ela, a decisão gerou uma economia de mais de R$ 300.

“A máquina ficou com calcário e começou a lavar errado. Tentamos arrumar manualmente, com bicarbonato e vinagre, mas não resolveu. Ligamos em uma assistência técnica e deu certo. É uma máquina muito boa e muito nova”, contou.

Outro motivo que levou Vitória a encaminhar o item a uma assistência técnica foi a urgência e a necessidade de utilização do equipamento. Ela conta que se fosse comprar uma nova, o prazo médio de entrega era de 30 dias na maioria das lojas.

“Eu divido o apartamento com duas meninas, então a gente precisa da máquina. Para chegar uma máquina nova ia demorar quase um mês. Na assistência técnica eles arrumaram com uma semana. O custo-benefício foi muito superior”, explicou a universitária.

MENOR PODER DE COMPRA
A mudança de hábito dos consumidores reflete o momento atual vivido no país. Segundo o economista Fábio Terra, a inflação têm sido a maior responsável pela diminuição do poder de compra dos brasileiros. “A gente está perdendo renda muito rápido porque a renda do Brasil não cresce. Como ela não cresce, tem um conjunto de políticas econômicas que estão erradas, o que temos percebido no Brasil há três ano e meio, é que não tem política econômica de fato”, comentou.

O especialista explica ainda que, além da pandemia, a guerra na Rússia e o preço das commodities também têm contribuído para a situação atual. “A inflação tem muito a ver com a covid-19. Quando o mundo parou em 2020, parou muito rápido. Mas o mundo voltou de foram acelerada e heterogênea no final de 2020 e começo de 2021. Porém, mais rápida que a capacidade de oferta conseguia abastecer. Depois veio a guerra da Russa contra a Ucrânia, que fez o preço do petróleo e gás natural aumentarem. E são matrizes duas energéticas do mundo. Esses dois fatores geraram o aumento no preço das commodities”, disse.

Outro fator que pesa na perda do poder de compras do brasileiro passa pelo salário-mínimo, que há alguns anos, tem sido reajustado abaixo da inflação. Para Fábio Terra, esse reajuste precisa ser acima do índice para que as pessoas tenham melhores condições de vida.

“Então quando eu digo que o salário precisa ser moderadamente ajustado acima da inflação, eu estou falando em a gente recompor um pouquinho do poder de compra, mas gradualmente. Então 1% acima da inflação agora, 2% ano que vem, quando a situação estiver melhor, num horizonte de tempo”. 

SALÁRIO IDEAL
Em Uberlândia, de acordo com o CEPES-UFU, o salário mínimo ideal para a manutenção de uma família composta por dois adultos e duas crianças ou por três adultos está estimado em R$ 5.479,80, realidade bem diferente de boa parte. Em matéria publicada recentemente, o Diário mostrou que, de acordo com o Ministério da Cidadania, mais de 56 mil famílias vivem com apenas um salário mínimo na cidade, que atualmente é de R$ 1.212,00.

De acordo com o economista ouvido pelo Diário, uma solução seria promover um aumento escalonado acima do índice de inflação, assim o reajuste do salário-mínimo não causaria aumento nos preços de serviços e produtos. “Quando a subida é moderada, para o empresário não é um impacto muito grande e pode ser um benefício, porque se a massa trabalhadora do Brasil, que hoje são 39 milhões de pessoas com carteira assinada, vai passar a receber um pouquinho a mais do que a inflação. Elas têm uma capacidade de consumo, de poder real de compra, maior. E quem ganha com isso? Quem vende, que são os empresários”, explicou.

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