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24/06/2022 às 14h08min - Atualizada em 24/06/2022 às 14h08min

Cozinhas solidárias relatam aumento de até 100% na procura por refeições em Uberlândia

Número de famílias com fome cresceu desde o início do ano; local que distribuía 250 marmitas passou a fornecer 400 diariamente

IGOR MARTINS | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Cozinha solidária do Dom Almir entrega 1,2 mil pratos diariamente | Foto: Reprodução/Instagram
Mais de 30 milhões de pessoas não têm o que comer no Brasil, segundo pesquisa da Rede Brasileira em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). O aumento da fome e da extrema pobreza no país tem impactado o trabalho desenvolvido por cozinhas solidárias em Uberlândia, que relataram uma alta significativa da demanda por alimentos desde o início de 2022.

A coordenadora da cozinha do assentamento Maná, Maria Aparecida da Cruz Silva contou que a procura por marmitas no local aumentou 100% de dezembro para cá. Anteriormente, o espaço distribuía 250 pratos diariamente, número que subiu para 400 nos dias atuais. O problema, de acordo com a voluntária, reflete o difícil cenário econômico vivido no Brasil.

“Esse problema vem desde a pandemia. A situação chegou a melhorar no último ano, mas piorou neste ano com as crises de desemprego e inflação. A maioria dos que procuram pelas marmitas são pessoas que moram de aluguel e que não conseguem pagar uma alimentação. Elas não têm dinheiro para comprar um gás de cozinha, um ovo”, disse.

Além da comida, as famílias da região também precisam de moradia e medicamentos, conforme dito por Maria Aparecida. Em conversa com a reportagem, a cozinheira afirmou que em determinados dias não consegue atender a demanda, sendo assim, a instituição pede apoio da população com doações. 

“As doações diminuíram muito. Tem dias que nós ficamos muito preocupados, porque tem gente que almoça e janta aqui. Falta arroz, feijão e macarrão. A pessoa que quiser ajudar, pode fazer doações vindo presencialmente até a nossa cozinha, na rua Quatro. Ficamos abertos até às 19h, ou basta chamar pelo telefone (64) 99944-8220”, falou a coordenadora.

DOM ALMIR
A mesma realidade é vivida na cozinha solidária do SOS Dom Almir. Segundo a coordenadora do local, Eliana dos Santos Lopes, a procura por marmitas subiu 70% neste ano, saltando de 700 para 1.200 marmitas diárias. A cada dia que passa, uma nova família chega com dificuldades financeiras e sem ter o que comer. A baiana que vive em Uberlândia há 26 anos contou que o espaço faz mais de 100kg de arroz todos os dias.

“A situação está muito precária. É muita gente que aparece dizendo que os filhos não comeram no dia anterior. Uma mãe disse que precisou dar água com açúcar para o filho porque não tinha leite em casa. A inflação afetou muito a população, que já vivia em situação de vulnerabilidade. É pior do que muita gente imagina”, detalhou a cozinheira.

O relato de Eliana corrobora com a pesquisa da SAN. Conforme aponta o levantamento, apenas quatro a cada 10 domicílios conseguem manter o acesso pleno à alimentação, ou seja, em condição de segurança alimentar. Os outros seis lares se dividem numa escala, que vai dos preocupados com a possibilidade de não ter alimentos no futuro até os que já passaram fome.

Assim como a cozinha do Assentamento Maná, a do SOS Dom Almir também vive de doações. De acordo com Eliana, o número de contribuições caiu nos últimos meses, gerando dificuldades ainda maiores para o local dar conta da procura. Os itens mais procurados pela organização são o arroz, feijão, macarrão e óleo de cozinha.

“Quem quiser ajudar pode vir diretamente na cozinha ou pode nos avisar pelo telefone (34) 99674-6910 que fazemos a retirada. As pessoas vêm até aqui porque elas têm necessidade. Tem bebê que nasceu durante a pandemia e nunca comeu uma fruta, porque a família não tem condições de comprar”, disse.

O SOS Dom Almir fica localizado na rua João Costa Azevedo, 269, no bairro Jardim Prosperidade.

EXTREMA POBREZA
Além do aumento da fome, a pobreza também cresceu no país. De acordo com dados da Prefeitura de Uberlândia, mais de 21 mil famílias vivem em situação de pobreza ou extrema pobreza na cidade. O número de lares que precisaram ser incluídos no programa do Governo Federal Auxílio Brasil, que oferece um benefício financeiro para famílias que possuem renda familiar mensal per capita entre R$ 105 e R$ 210, teve um salto de 32% neste ano.

De acordo com o Município, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, 5.372 novas famílias foram identificadas para receber o benefício. Com isso, o número de grupos atendidos saltou de 16.373 para 21.685. 

O benefício do Governo Federal é destinado a famílias extremamente pobres ou em situação de pobreza. De acordo com o critério do programa, grupos considerados em situação de extrema pobreza são aqueles que possuem renda familiar mensal per capita de até R$105. Já aquelas em situação de pobreza possuem renda familiar mensal per capita entre R$105,01 e R$210.
 
Para receber o benefício é necessário atender aos critérios do programa e possuir o Cadastro Único dos Programas Sociais do Governo Federal. As famílias em situação de pobreza precisam apresentar em sua composição gestantes, mães que amamentam, crianças e adolescentes e/ou crianças entre 0 e 21 anos incompletos.
 
Segundo o Governo Federal, o ticket mínimo que cada um dos beneficiários recebe é de R$ 400 e o valor médio a ser repassado às famílias, segundo a folha de pagamento do programa para janeiro, chega a R$ 407,54.


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