Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
11/03/2022 às 17h49min - Atualizada em 11/03/2022 às 17h49min

“Dia da Consciência Humana” levanta discussão sobre racismo entre vereadores de Uberlândia

Proposta vetada pelo Executivo gerou embates entre os parlamentares em sessão desta sexta (11)

SÍLVIO AZEVEDO
Dandara, Cristiano Caporezzo e Amanda Gondim trocaram acusações na sessão desta sexta (11) I ARTE: DIÁRIO
A discussão de dois projetos de inclusão de datas no calendário oficial de Uberlândia gerou embates entre os vereadores durante a sessão desta sexta-feira (11) na Câmara Municipal. As duas propostas, de autoria do vereador Cristiano Caporezzo (PATRIOTAS), tinham como objetivo estabelecer dentro do Município a “Semana Municipal da Consciência Sobre a Monarquia” e o “Dia da Consciência Humana”.
 
O primeiro debate ocorreu durante a votação da proposta que instituía a "Semana Municipal da Consciência Sobre a Monarquia". Após algumas críticas de parlamentares, a vereadora Dandara (PT) pediu vistas do projeto, que foi aprovada pelo plenário. Com isso, o projeto fica retido por 48h para uma análise da proposta.
 
Mas, a grande discussão surgiu com a votação do projeto que institui o dia 21 de novembro como o Dia da Consciência Humana no Município. A proposta havia sido aprovada pela Câmara em 14 de dezembro do ano passado, com apenas quatro votos contrários, mas foi vetada pelo prefeito Odelmo e retornou à Câmara.
 
Na justificativa do veto, o Executivo acompanhou o parecer da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, afirmando que a data escolhida geraria controvérsia, já que um dia antes, 20 de novembro, é Dia da Consciência Negra.
 
“O Dia da Consciência Negra foi instituído visando aclamar e respeitar as origens africanas que resultaram na formação da sociedade brasileira, honrando a história de luta e resistência das pessoas negras, neste contexto a inserção a intenção de uma conscientização genérica desvirtua as finalidades trazidas pelo dia 20 de novembro. Há que se reforçar ainda que a eventual sanção da presente proposição resultará em inegável mitigação aos efeitos históricos do movimento negro na sociedade brasileira”, afirmou o veto.
 
A primeira vereadora a concordar com a recusa do Executivo e a questionar o projeto foi Dandara, que parabenizou a fundamentação do parecer, pois, segundo ela, resgata a necessidade de debater as mazelas e os resquícios do processo de escravização das pessoas negras. “E ressalto que nós precisamos trabalhar as consequências do racismo e a necessidade de se debater uma consciência negra, de que esse país foi construído por mãos negras e que o povo negro tem uma contribuição inegável para ter a pátria que hoje nós temos”, afirmou.
 
A petista afirmou ainda que o termo “consciência humana” é usado por racistas e preconceituosos. “Consciência humana é usado por bolsonaristas, negacionistas, pelos racistas que não querem reconhecer seus privilégios e, muito menos, o racismo que praticam no seu cotidiano. E usa a tal da humanidade para justificar o seu comportamento preconceituoso e discriminatório. Para nós, 20 de novembro é Dia da Consciência Negra”, disse.
 
Já o autor da proposta, Cristiano Caporezzo criticou a justificativa do veto, argumentando que perante a lei todos são iguais e no projeto não existe referência à cor da pele. “Mas não me surpreende que pessoas relacionadas ao movimento negro se sintam atacadas. Hoje em dia um movimento tão radical quanto a maldita Ku Klux Klan, que é o Black Lives Matters, de supremacistas negros que tentam fazer a mesma coisa no Brasil. Então, devemos parar de olhar o branco da pele, o preto da pele, e olhar o vermelho do sangue, que todos nós somos iguais”, defendeu.
 
Já direcionando sua fala à Dandara e Amanda Gondim (PDT), que também foi a favor do veto, Caporezzo ainda afirmou que as acusações de racismo feitas pelas vereadoras na defesa do veto, são calúnias. “Agora, em relação às falas das vereadoras que antecederam e disseram que é um projeto racista, deixa eu falar uma coisa para vocês, a imunidade parlamentar de vocês não cobre esse tipo de molecagem. Racismo é crime no Brasil e calúnia não está abarcada na lei de Imunidade Parlamentar. Vocês tinham que tomar vergonha na cara e deixar de se vitimizar. Mas é difícil né, porque só chegou aqui dentro, se vitimizando”, completou.
 
Após a manifestação de outros vereadores da Casa, o veto do Executivo foi mantido com 20 votos favoráveis, um contrário, duas abstenções e três ausências. Consultado pela reportagem, o vereador Caporezzo afirmou que está avaliando com o departamento jurídico se medidas serão tomadas contra os parlamentares que afirmaram que o projeto apresentado é de cunho racista.
 
Ainda durante a sessão, os vereadores aprovaram a lei nº 619/22, de autoria do vereador Ronaldo Tannus (PL), que institui no calendário oficial de eventos de Uberlândia o "Dia do(a) Influenciador(a) Digital, a ser lembrado, anualmente, no dia 10 de maio.
 
VEJA TAMBÉM:
 

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90