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27/01/2022 às 09h30min - Atualizada em 27/01/2022 às 09h30min

Uberlândia registrou 3,8 mil denúncias de violência doméstica em 2021

Número de notificações vem sofrendo redução nos últimos dois anos; em contrapartida, casos de feminicídio aumentaram

MARIELLE MOURA
Em 2021, foram contabilizados 3.842 casos, cerca de 300 a menos do que em 2019 I Foto: PAULO H. CARVALHO/ AGÊNCIA BRASÍLIA
O número de denúncias de casos de violência doméstica tem apresentado queda nos últimos anos em Uberlândia. De acordo com um levantamento feito pelo Diário de Uberlândia com dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), em 2021 foram 3.842 notificações. Se comparado a 2019, quando houve o registro de 4.204 casos na cidade, são 362 denúncias a menos. O índice percebido no ano passado também é menor do que o de 2020, período em que foram realizadas 4.047 denúncias. Na contramão da diminuição, os casos de feminicídio aumentaram.
 
De acordo com a Sejusp, janeiro foi o mês que mais teve registros de violência doméstica em 2021, cerca de 359 casos. A realidade é a mesma em todo o estado de Minas Gerais, que contabilizou aproximadamente 13.657 casos somente no primeiro mês do ano passado. Ainda conforme os dados, em 2021, Minas Gerais registrou 144.618 vítimas de violência doméstica. Em 2020 foram 145.424 casos e, em 2019, 151.054 registros de violência doméstica foram contabilizados no estado. O número representa uma redução de mais de seis mil casos em dois anos.
 
O delegado-chefe do 9º Departamento de Polícia Civil em Uberlândia, Marcos Tadeu de Brito, comentou que a redução é fruto, principalmente, de campanhas realizadas na cidade no decorrer dos anos. “No contexto de Uberlândia, as nossas campanhas e nossas atuações têm gerado frutos positivos. Campanhas realizadas em farmácias, o aplicativo Salve Maria e outras. A vítima tem “n” opções para se proteger”, disse.
 
Por fim, Marcos Tadeu ressaltou a importância da integração entre os poderes em garantir a proteção da vítima a partir do momento da denúncia. “Hoje, após a comunicação do crime, a medida protetiva sai rápido. Se o agressor descumprir essa medida ele pode ser preso em flagrante”, completou.
 
SOS MULHER
De acordo com a ONG SOS Mulher e Família de Uberlândia, em 2020 foram atendidas 1.088 pessoas na instituição. Já em 2021, 1.028 mulheres recebem atendimento, sendo 236 pessoas acolhidas para orientações, informações ou agendamentos para atendimentos e 792 pessoas atendidas nas áreas do serviço social, psicologia e jurídico.
 
A ONG tem como objetivo apoiar, orientar e encaminhar pessoas que vivenciam ou vivenciaram recentemente violência doméstica conjugal e familiar, seja física, sexual, patrimonial, moral e/ou psicológica, por meio de atendimentos psicossociais e jurídicos.
 
A coordenadora da ONG, Suyane Rodrigues, explicou que muitas vezes as mulheres encontram dificuldades para denunciar e por isso a importância do treinamento para as pessoas que recebem a vítima em vulnerabilidade. “Muitas vezes escutamos das mulheres as dificuldades de registrar a denúncia, por vários motivos. Um deles é de não ter uma delegacia da mulher atuando 24 horas de plantão em Uberlândia e também a falta de sensibilidade e qualificação das pessoas que trabalham no atendimento das vítimas, porque qualquer movimento desencoraja uma mulher a seguir com a denúncia", disse.
 
Suyane ainda falou sobre a importância de analisar cada situação, porque muitas vezes a vítima acha que a denúncia não é a melhor solução. “No trabalho de enfrentamento à violência contra a mulher a gente não se esgota na situação da denúncia. Falamos de uma situação muito mais ampla de atender essa mulher naquilo que ela traz como problema. Talvez a mulher não vai querer denunciar, não pelo fato de não acreditar na justiça, mas por acreditar que na situação dela o problema resolveria com uma mediação ou resolveria de outra forma”, informou.
 
A coordenadora também falou da importância da integração dos dados entre as instituições da cidade para avaliar melhor o panorama dos crimes contra a mulher. “Em Uberlândia, nós precisaríamos de dados que compilassem todas essas informações. Por exemplo, existem mulheres que registram situações de violência doméstica em unidades de saúde e que não avançam para outros equipamentos. Entendemos que os dados da cidade são muito separados, não conseguimos reunir os dados para ter uma noção ampla de como está a violência contra a mulher no município", explicou
 
Por fim, Suyane comentou sobre a importância do atendimento e de uma rede de apoio para a vítima depois da denúncia.
 
“Falamos muito que é muito importante a rede de apoio, sendo a família, os colegas de trabalho, os vizinhos, pessoas que possam sustentar essa mulher à medida que ela toma a decisão de denunciar o autor de violência. Desde 2020, a ONG vem implementando um plano individual de atendimento porque compreendemos que cada mulher vivencia a violência de uma maneira distinta e esse plano é para que ela tenha ideia do que oferecemos. A partir da problemática, vamos informar que existe a denúncia, a medida, protetiva, porque é muito importante falarmos sobre o que vem depois da denúncia.”, completou a coordenadora.
 
FEMINICÍDIO
O levantamento feito com dados da Sejusp também mostrou que em Minas Gerais em 2021 foram contabilizados 321 registros de feminicídio, sendo 139 consumados e 182 tentados. Em 2020, foram 341 registros, sendo 151 consumados e 190 tentativas e em 2019 foram registrados 372 casos, sendo 146 consumados e 226 tentativas.
 
Uberlândia foi na contramão do estado e registrou um aumento nos casos de feminicídio na cidade. Em 2021, foram 11 registros, sendo 9  tentativas e dois consumados. Em 2019 e 2020, foram 7 casos em cada ano, sendo dois consumados e 12 tentativas.
 
O Delegado chefe do 9º da Polícia Civil em Uberlândia, Marcos Tadeu de Brito disse à equipe do Diário de Uberlândia que a prevenção do feminicídio também é o foco nas campanhas. “Os feminicídios são crimes passionais e isso é mais difícil de prevenir e de se trabalhar. Mas, as campanhas trabalham na prevenção, mostrando que o ciclo da violência tem que ser rompido”, informou.
 
SALVE MARIA
O aplicativo “Salve Maria” foi lançado em 2019 pela Prefeitura de Uberlândia. O app tem como objetivo facilitar a denúncia de violência contra a mulher. Por meio do aplicativo, é possível que qualquer pessoa denuncie abusos, por meio de um canal direto com a Polícia Militar. Para baixar, é necessário ir até a loja de aplicativos do celular e realizar o download.
 
O app oferece dois serviços. O primeiro é o “Botão do Pânico” que emite um chamado de localização, ou seja, ele compartilha a localização em tempo real. Em ocorrências de extrema urgência, basta que a denunciante o utilize para acionar imediatamente a presença dos policiais militares.
 
O segundo é o botão “Denúncia”, onde a pessoa encontra um pequeno questionário com perguntas que especificam o tipo de violência, se a denúncia será anônima, dados da vítima e agressor, entre outras. A vítima ou o denunciante ainda tem a possibilidade de anexar fotos ou vídeos antes de enviar.
 
No último balanço divulgado pela Prefeitura, ano passado, até 31 de dezembro, houve mais de 550 acionamentos do “Botão do Pânico”, quase 850 denúncias registradas por meio do recurso e o aplicativo soma mais de 13 mil downloads pelas plataformas iOS e Android.
 
DENÚNCIAS
Os canais utilizados para realizar qualquer tipo de denúncia de violência contra mulher são:
 
- Polícia Militar Minas Gerais no 190
 
- Delegacia Virtual do Estado no site www.delegaciavirtual.sids.mg.gov.br
 
- Delegacia Especializada de Atendimento às Mulheres (DEAM): 34 3210-8304;
 
- Defensoria Pública da Mulher: 34 235-0799, 34 3231- 3756, 31 98431-9580
 
- Centro Integrado da Mulher – CIM: 3231-3756;
 
- PPVD – Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica: 34 99968-5878 / 34 99639-6932;
 
- Núcleo de Atenção Integral à Violência Sexual (NUAVIDAS): 34 3218-2157
 
- Ministério Público: 34 3255-0050
 
- Defensoria Pública do Estado de MG : (31)98307-5679 / (34)99776-6109 / (34)3235-0799

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