14/12/2021 às 15h53min - Atualizada em 14/12/2021 às 15h53min
Coronavírus vitimou mais homens do que mulheres em Uberlândia
Pesquisa do CEPES revela que índice de óbitos foi maior entre a população preta
GABRIELE LEÃO
Pesquisa revelou intensa mortalidade em 2021, em comparação a 2020 | Foto: Agência Brasil A população masculina foi a que mais concentrou óbitos por conta do coronavírus em Uberlândia. De acordo com um levantamento divulgado pelo Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômico-Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (Cepes/UFU), entre 2.900 mortes analisadas até 13 de agosto deste ano, 58% correspondem a vítimas do sexo masculino. Segundo o estudo, o índice de mortalidade foi maior entre os homens e mulheres pretos (o termo exclui os classificados como pardos).
Os dados foram disponibilizados por meio do “Painel de Informações Municipais de Uberlândia - 2021: A covid-19 em Uberlândia", que traz um panorama do perfil de mortes do município, analisando faixa etária, raça e classificação socioeconômica.
Segundo o demógrafo, economista e pesquisador do Cepes, Luiz Bertolucci Júnior, ao analisar os casos da doença em Uberlândia, entre 2020 e 2021, foi possível identificar que o coronavírus foi responsável pela morte de 507 homens pretos a cada 100 mil habitantes. Já entre os homens brancos, o número é de 447 mortes para cada 100 mil habitantes. A doença também vitimou mais mulheres pretas. Entre esse público, o índice foi de 368 óbitos de mulheres pretas a cada 100 mil habitantes, enquanto entre as mulheres brancas, o índice é de 287.
“O que mais nos chamou atenção foi em como a mortalidade atingiu os grupos mais fragilizados, quando se coloca em categorização a classe socioeconômica e acrescenta a raça como outro fator de classificação. Além disso, os óbitos passam a incluir pessoas nas idades adultas centrais e os mais jovens, nas idades entre 20 e 39 anos, ou seja, pessoas que estão no mercado de trabalho”, explicou.
Ainda de acordo com o levantamento, a doença provocou óbitos, em sua maioria, entre pessoas idosas com 65 anos ou mais, assim como aquelas com comorbidades. “É evidente que as pessoas com comorbidade foram as mais afetadas pelo vírus e o município teve um início de vacinação demorado, assim como foi em todo o país, mas para uma cidade com o desenvolvimento de Uberlândia, um conjunto de efetivas políticas públicas e ações de distanciamento social, evitando aglomerações, garantido a utilização de máscaras e ter acentuado o ritmo de vacinação da população residente poderia ter evitado o grave número de mortes e contágio”, explicou.
ONDA DE CONTAMINAÇÃO
Em uma análise por períodos mais curtos dos óbitos provocados pela covid-19 no município, pode-se observar que a onda de contaminação e mortes ao longo de 2021 foi muito intensa. Segundo a avaliação feita pelo estudo do Cepes/UFU, a prevenção e vacinação não conseguiram evitar o aumento do nível quantitativo de óbitos, entre fevereiro e agosto deste ano.
“O período entre 14 de fevereiro e 13 de maio de 2021 foi o mais mortal pela covid-19, quando 1.364 uberlandenses morreram. Foram 182 mortes por 100 mil habitantes entre 14 de fevereiro a 13 de maio de 2021, mortalidade acentuada nos grupos etários a partir de 55 anos. Ou seja, grupos que ainda estavam sendo vacinados”, comentou Luiz Bertolucci Júnior.
DESTAQUE NEGATIVO
De forma geral, com o avanço da pandemia ao longo de 2020, intensificada no primeiro semestre de 2021, a mortalidade no município atingiu o patamar de 384 mortes a cada 100 mil habitantes. A marca é superior à média nacional que, para o mesmo período, apresentava aproximadamente 270 óbitos para 100 mil habitantes.
A alta mortalidade ocorreu não apenas nos grupos de pessoas mais idosas, mas a partir de 40 anos para os homens e dos 55 anos para as mulheres, índice superior à média brasileira, sugerindo, de acordo com o levantamento do Cepes, que o controle da pandemia no município de Uberlândia não foi suficiente para minimizar as mortes que ocorreriam por conta de comorbidades graves ou problemas acentuados no sistema imunológico de pessoas contaminadas, nem tão pouco conseguiu impedir que mortes evitáveis pela covid-19 ocorressem.
“Ainda vivemos em um ambiente inseguro por causa da variante e considerando que ainda não superamos 70% da população vacinada, incluindo crianças, é necessário manter os cuidados com a prevenção até que o vírus seja uma outra patologia que possa ser controlada com a vacinação”, avaliou o especialista do Cepes.
Em março e agosto deste ano, Uberlândia registrou os maiores picos de internações, chegando a 100% da ocupação dos leitos da Unidade de Tratamento Intensiva (UTI). Até o momento a cidade contabiliza 3.186 mortes pela doença.
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