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07/10/2021 às 14h40min - Atualizada em 07/10/2021 às 14h40min

Retomada das aulas em ensino híbrido divide opiniões da comunidade acadêmica da UFU

Representantes de docentes e técnicos administrativos avaliam retorno como precoce e temem falha nas medidas de biossegurança

GABRIELE LEÃO
Primeiro semestre de 2021 começa no dia 29 de novembro I Foto: Arquivo Diário
Após praticamente 18 meses com as atividades presenciais suspensas, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) decidiu retomar no dia 29 de novembro as aulas em formato híbrido do primeiro semestre de 2021. A decisão, no entanto, está dividindo opiniões da comunidade acadêmica. Representantes do corpo docente e dos técnicos administrativos avaliam o retorno como precoce e temem uma falha nas medidas de biossegurança.
 
Para a coordenação colegiada do Sindicato dos Trabalhadores Técnico- Administrativos em Instituições Federais de Ensino Superior de Uberlândia (SINTET-UFU), existe uma demanda que precisa ser resolvida sobre as aulas remotas da universidade, tanto para alunos quanto para docentes, mas a retomada em novembro pode ser considerada precoce na percepção de todos os cuidados sanitários que precisam ser adequados.
 
É o que aponta Robson Luiz Carneiro, que faz parte da coordenação do SINTET-UFU. Segundo o representante dos técnicos administrativos, a preocupação é que a universidade não esteja preparada para cuidar da segurança sanitária.
 
“No setor onde trabalho, por exemplo, ainda estamos em home office e para os trabalhos presenciais usamos o esquema de revezamento e agendamentos. Sabemos que os alunos tiveram a impossibilidade de fazer algumas aulas e entendemos a necessidade que precisa ser resolvida, mas o que pedimos e queremos garantir é a segurança sanitária de todos, incluindo dos técnicos e professores nos laboratórios. Os protocolos precisam ser cumpridos para poder voltar as aulas”, afirmou.
 
A preocupação se estende aos professores. Segundo Sidiney Ruocco Junior, presidente da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Uberlândia (ADUFU), existem situações ainda obscuras sobre a retomada das aulas.

“Como parte de uma instituição científica, nossa preocupação é a autorização para ingresso dos alunos apenas com uma dose da vacina. Sabemos que a eficácia da imunização só é possível com as duas doses e após um período de 15 dias. Como podemos ser a favor dessa retomada precoce sem as condições adequadas? A partir do momento em que a UFU abre essa brecha, ela precisa abraçar todas essas possibilidades de biossegurança”, pontuou o presidente da ADUFU.
 
Ainda de acordo com o representante dos professores da Universidade, os negacionistas da vacinação e medidas sanitárias também fazem parte do corpo universitário e, até o momento, não houve posicionamento da instituição sobre o assunto.
 
“Pela experiência que temos na sociedade, percebemos que nem todos respeitam o distanciamento social, uso de máscaras e cuidados contra o covid-19. Se um aluno se recusar a ficar de máscara, como podemos proceder? Suspensão das aulas? Quem, dentro do campus ficará responsável pela fiscalização do comprimento das deliberações? Estamos ainda sem saber como será o retorno das aulas e a opinião do sindicato, essa medida é precoce”, questionou.
 
ALUNOS
Diferentemente dos representantes dos sindicatos dos professores e dos técnicos administrativos, o responsável pelo Diretório Acadêmico (DCE) no Comitê de Monitoramento da Covid-19 da UFU e também representante discente no Conselho Universitário (Consun), Arthur Luiz Ferreira, disse que a maioria dos cursos, por parte dos estudantes, foi favorável ao retorno das aulas práticas.
 
“Nós estivemos organizados e reunidos em torno do Conselho de Diretórios e Centros Acadêmicos (Condas), quando tiramos essa proposta de apoiar o retorno de forma presencial das atividades práticas e ser contra o retorno das atividades teóricas nos mesmos padrões. A maioria dos cursos da universidade votou para que o DCE defendesse isso e foi o que fizemos: retorno presencial apenas das aulas práticas”, explicou.
 
Em entrevista do Diário, o representante do corpo discente disse que a preocupação não era baseada apenas na formação acadêmica dos alunos, mas tudo o que envolve o mundo dos universitários, como moradia, alimentação, deslocamento e cuidados para a prevenção da Covid-19.
 
“A vida do estudante envolve muito mais do que o retorno das aulas presenciais nesse primeiro momento, mas também outras questões pontuais, como, um surto de uma nova cepa, aumento do número de casos de coronavírus e deslocamento, pois uma grande parte dos alunos vive em outras cidades e tem custos extras como aluguel, alimentação e transporte. Pensamos em tudo isso na hora de pontuar sobre o retorno das aulas em formato online e presencial”, comentou.
 
ESCLARECIMENTOS
O vice-reitor da UFU e presidente do Consun, Carlos Henrique Martins da Silva, informou que a Universidade está preparada para a retomada das aulas no próximo mês e que já estão sendo criados manuais de conduta para prevenção dentro do campus.
 
“Vamos seguir o protocolo de medidas de biossegurança, como o uso obrigatório de máscara, distanciamento entre as pessoas de um metro nas aulas presenciais e uso de máscaras especiais nos laboratórios e ambientes mais específicos. Quanto à fiscalização fina, contamos com a colaboração de todo o corpo universitário”, afirmou.
 

O vice-reitor comentou ainda que dos 20.814 alunos de graduação, apenas 3% foram favoráveis a aulas presenciais em períodos ordenados e a instituição está preparada para arcar com as despesas da retomada como, por exemplo, oferecimento de insumos, máscaras e algumas adequações nos setores.
 
Sobre a fiscalização para o cumprimento das normas, pontuadas pelo representante do corpo docente da UFU nesta reportagem, o vice-reitor esclareceu que quando detectadas as infrações quanto às medidas de biossegurança, o aluno deverá ser encaminhado para o coordenador do curso, onde este fará uma intervenção de conscientização.
 
De acordo com o vice-reitor, os alunos receberão antes do início das aulas um guia de orientações sobre o funcionamento dos espaços da UFU. Além disso, a UFU trabalha na criação de um comitê de subacompanhamento para alertar sobre casos suspeitos ou confirmados de covid dentro do campus.
 
O RETORNO
Antes de ser anunciada no final de setembro, a decisão trouxe algumas insatisfações entre docentes e técnicos administrativos da instituição e foi motivo de diversas reuniões. Dentre as reclamações dos grupos está a falta de planejamento para controle das questões sanitárias e esclarecimentos sobre punições e posicionamentos de professores na sala de aula.
 
Para adequar o planejamento, foram necessárias cinco sessões extraordinárias, que começaram no dia 20 de setembro e terminaram no dia 27 do mesmo mês, e votação dos pontos mais necessários, como por exemplo, o formato do ensino híbrido para aulas práticas presenciais e teóricas em formato remoto. A reunião extraordinária do Conselho Universitário da Universidade Federal de Uberlândia (Consun/UFU) durou quase 20 horas para a aprovação da versão final do documento.

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