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08/07/2021 às 13h30min - Atualizada em 08/07/2021 às 13h30min

​Movimento pede cassação do vereador Cristiano Caporezzo

Em outra situação, Dandara (PT) faz denúncia de racismo contra comentários de seguidores do parlamentar

SÍLVIO AZEVEDO
Em fala na tribuna, vereador chamou representante do FAPO de feminazi I Foto: Aline Rezende/CMU
O coletivo Feminino de Ação Popular (FAPO) protocolou na Câmara Municipal de Uberlândia uma denúncia por suposto abuso da prerrogativa da imunidade de palavra por parte do vereador Cristiano Caporezzo (Patriota), que atacou o movimento feminista na primeira sessão ordinária de julho, na última segunda-feira (5).
 
No pedido, o coletivo pede a cassação de Caporezzo fundamentado pelo artigo 49 do Regimento Interno da Casa, que trata da perda do mandato por ofensa a dignidade de investidura, por desrespeitar o movimento das mulheres, ofender moralmente uma mulher com direito de fala na Tribuna, e por se opor à luta das mulheres por uma vida livre de opressões e violências.
 
“O pedido de cassação é motivado na nossa consciência de que o Poder Legislativo não é lugar para performances machistas e fascistas. O mandato legislativo exige responsabilidade ética, política e principalmente respeito pelas cidadãs e cidadãos da cidade, e este Vereador já demonstrou, não só em relação a nossa atuação, mas em muitas outras ocasiões que não têm perfil para ser parlamentar. Talvez ela possa ocupar algum palco de stand up e fazer sua comédia em outro lugar, que não atinja a vida de ninguém, nem atrapalhe o exercício da política séria em favor das pessoas dessa cidade”, informou o FAPO. 
 
Ainda de acordo com nota do coletivo, o movimento sai fortalecido com a situação. “Os apoios recebidos só demonstram que o movimento feminista na cidade é forte, é potente na fala das mulheres que lutam contra as opressões cotidianas da estrutura patriarcal. O que sai fortalecido é o movimento de mulheres, que não serão silenciadas”.
 
Durante a sessão, que teve participação da advogada defensora dos direitos étnico-raciais e de gênero, Sandra Nascimento, do FAPO, Caporezzo atacou a convidada, chamando-a de feminazi, e também o movimento feminista.
 
“É motivo de alegria e satisfação e eu vibro de felicidade quando uma feminazi me ataca, porque isso pra mim é a prova de que eu estou no caminho certo. Me chamou de misógino. Não, eu amo as mulheres. Quem me ensinou a ser homem foi minha mãe, que foi uma mulher de verdade. E não uma feminista imunda”, disse Caporezzo.
 
O Diário de Uberlândia fez contato com o presidente da Casa, Sérgio do Bom Preço, que informou que recebeu a denúncia e encaminhará para a Procuradoria, responsável pelo parecer. Caso seja favorável, a denúncia será direcionada para o Comitê de Ética da Casa.
 
Procurado pela reportagem, Caporezzo explicou os motivos da fala na tribuna. "O Coletivo FAPO é um grupo feminista que fez uma carta de apoio a Helena Paro, uma médica da UFU que fez uma cartilha de aborto por telemedicina. Isso é um completo absurdo que coloca em risco a vida da criança e da própria mulher. Receber um pedido de cassação de um grupo feminista me deixa muito feliz, pois é claro sinal de que estou no caminho certo", disse o vereador.
 
RACISMO
Durante a sessão desta quinta-feira (8), na leitura dos requerimentos, os parlamentares se solidarizaram com a vereadora Dandara Tonantzin (PT) que foi agredida nas redes sociais por falas racistas e de perseguição religiosa por seguidores da página de Caporezzo. Em sua maioria, os parlamentares pediram que medidas fossem tomadas.
 
“É muito importante para mim, como parlamentar, perceber que não estou sozinha. Perceber que tem parlamentares preocupados com o combate ao racismo, a todas as formas de discriminação, que viram e subiram na tribuna pra repudiar o que aconteceu”, ressaltou Dandara.
 
Entre os comentários feitos, dois chamaram a atenção da vereadora. “Tenho preguiça desse povo encardido”, publicou uma consultora imobiliária, e “Quem votou nisso aí???? Socorro... ainda analfabeta?... Mãe de santo?? Macumbeira?? O que é isso aí? Cigana?? Não sabia que tinha isso na Câmara... coisas de petebas...pqp”, disse um deles.
 
“Existiram vários comentários na postagem, de toda ordem. Mas o que me assustou profundamente foi ver dois comentários profundamente racistas, que foram, inclusive, curtidos pelo vereador. Além de não repudiar os comentários dos seguidores dele, ele ainda curtiu. Quem curte uma coisa, a fortalece nas redes sociais. É como se ele concordasse, aplaudisse aquela ação”, disse a parlamentar.
 
A vereadora e sua assessoria jurídica foram à Polícia Militar e registraram um boletim de ocorrência e uma representação no Ministério Público uma representação por racismo e injúria social.
 
Questionado sobre os comentários dos seguidores nas redes sociais, Caporezzo afirmou que desconhece qualquer comentário de cunho racista nas suas páginas. "Sei que uma mulher chamou o PT de 'povo encardido', ou seja, sujo/corrupto, e a vereadora parece ter entendido, de maneira inexplicável, que ela estaria se referindo a cor de sua pele”, afirmou o vereador.



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