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24/06/2021 às 15h45min - Atualizada em 24/06/2021 às 15h45min

Pesquisadores e estudantes da UFU não conseguem visto para estudos na França

País europeu está com as fronteiras fechadas para brasileiros; pesquisa sobre tratamento do Mal de Parkinson pode ficar comprometida

NILSON BRAZ
Brasil está na categoria vermelha para o governo francês, impedindo que brasileiros entrem no país I Foto: Ministério da Europa e Relações Exteriores
Ter um título acadêmico internacional é, para muita gente, um grande sonho. Além disso, ter estudado em outro país e desenvolvido pesquisas em universidades renomadas do mundo inteiro garante um currículo de peso para qualquer profissional. Mas, até nisso, a pandemia está influenciando negativamente. Como a França está com as fronteiras fechadas para brasileiros, pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) estão com dificuldades para conseguir o visto estudantil para o país europeu, mesmo apresentando toda a documentação necessária e até com convite das universidades francesas.

A pesquisadora e pós-doutoranda em engenharia biomédica Isabela Alves Marques é uma dessas pessoas. Ela desenvolveu um jogo que ajuda a reabilitar pessoas com Mal de Parkinson. O projeto faz com que as pessoas que têm a doença consigam continuar com os estímulos necessários para que a doença não se agrave, mas que não sejam estímulos repetitivos, cansativos ou até entediantes.

A pesquisa da Isabela é um convênio entre a universidade Lorraine, na França, e a UFU, e está em uma fase em que a maior parte dos dados já foi coletada, mas que precisa ser processada. E esse processamento precisa ser feito com a tecnologia e outro banco de dados que pertence à universidade francesa. Para isso, foi liberada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) uma verba para custear, além de equipamentos e outras despesas da pesquisa, bolsas de estudo.

“É um projeto que atende na melhora das funções de atividades diárias das pessoas que têm Parkinson. E além do projeto oferecer esse tratamento, também busca formas mais eficientes para avaliar uma possível melhora do paciente, ou impacto que determinado tratamento está proporcionando. São esforços múltiplos para um bem comum, para os dois países e até para o mundo inteiro”, afirmou a pesquisadora.

Mas nem mesmo todo o material da pesquisa e a carta convite do reitor da universidade de Lorraine foram suficientes para que ela e outros colegas conseguissem o visto para entrar no país. “Desde abril eles cancelaram a entrada de brasileiros e a partir de junho abriram algumas exceções, mas o estudo não é uma dessas exceções. Aí a gente fez esse movimento de estudantes e pesquisadores que estão em situações parecidas com a minha, para que o estudo seja visto como um motivo muito importante e possibilite a entrada de estudantes no país”, afirmou Isabela.

Além do transtorno que esse impedimento pode causar para o estudo, que é tão promissor no tratamento e criação de novos protocolos para o Mal de Parkinson, a pesquisadora não consegue planejar o futuro dela e da família, que estava todo programado com base na continuidade do projeto.

“Meu marido pediu demissão do trabalho para me acompanhar, com a nossa filha, porque já estava tudo certo, carta do reitor, confirmação da Capes, tudo ‘ok’ pra gente ir. Agora eu me encontro nessa situação sem saber quando vai ser, como vai ser, que tipo de resposta vamos ter que dar pra Capes, já que eles avisaram que vão depositar o dinheiro em agosto”, disse Isabela.

ESTUDANTES
Quem está em uma situação parecida é a engenheira civil Ana Laura Berger Cokely. Formada há pouco tempo pela UFU, ela foi aprovada em duas universidades francesas para começar um mestrado lá. Mas também não consegue tirar o visto para ser aceita no país. Ela conta que, no caso dela, existe a possibilidade de tentar novamente em outro ano, caso a França continue irredutível quanto à entrada de brasileiros no país, mas que ainda assim é um processo trabalhoso e caro.

“É um sonho antigo meu, eu tentei por outros caminhos, não deu certo, então eu fui atrás por conta própria, com o meu dinheiro mesmo. Além de todo o trabalho anterior de ter boas notas, um bom currículo, então é um investimento muito grande. Eu consegui, por exemplo, uma isenção na taxa que vou ter que pagar para a universidade. Pode ser que no ano que vem eu não consiga”, afirmou a engenheira.

E o impedimento de Ana Laura é duplo. Além de ser aprovada para estudar no país, o marido dela já está na França, mas ainda assim ela não conseguiu a permissão para, além de começar os estudos, conviver com ele. “As regras mudam muito, meu marido tem um visto técnico, ele podia me levar, mas agora não pode mais porque saiu da lista de motivos imperiosos, que são os que possibilitam a entrada de estrangeiros”, finalizou Ana Laura.

O estudante de engenharia aeronáutica Matheus Lopes Silva também comenta a frustração de ver a possibilidade de não poder concluir algo que foi planejado há tanto tempo. Ele conseguiu bolsa para ter dupla diplomação e até o alojamento para ele morar no período em que estiver estudando já está garantido. As aulas estão marcadas para começar em agosto, e ele não sabe se vai conseguir o visto a tempo.

“É um sentimento de impotência, porque não depende mais da gente. Tudo o que eu poderia ter feito, já fiz. Depende agora da diplomacia dos dois países. E isso trava a nossa vida. Estou desde o início do ano sem saber, sem ter certeza se eu vou ou não, impossibilitando de ir atrás de outras oportunidades”, afirmou o estudante.

POSICIONAMENTOS
O Diário de Uberlândia entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores. Por nota, o Ministério afirmou ter conhecimento da dificuldade dos estudantes brasileiros em ingressar em outros países e que “o Itamaraty – por meio de gestões junto à Embaixada da França em Brasília e da Embaixada do Brasil em Paris junto às autoridades francesas – vem fazendo o possível para alcançar solução satisfatória que atenda ao pleito de estudantes inscritos em instituições de ensino francesas. E seguirá realizando contatos com as autoridades francesas competentes para que considerem a adoção de medidas alternativas que permitam a retomada da emissão de vistos a estudantes e acadêmicos brasileiros e sua entrada no território francês”.

Já a UFU esclareceu que, “por intermédio do sua Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propp), e Presidente do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (Foprop) fez gestões junto aos presidentes da Capes e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para que, juntamente com o Ministério Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), pleiteiem ao Ministério da Saúde (MS) a intermediação junto às farmacêuticas detentoras de vacinas já liberadas em todos os continentes, a doação das doses necessárias para a imunização dos pesquisadores brasileiros com atividades no exterior, prevista para ocorrer a partir de setembro”.

O governo francês também publicou uma nota, esclarecendo a situação de países que, assim como o Brasil, estão na classificação que eles chamam de Zona Vermelha. Para estes locais, as autoridades francesas tomaram medidas de saúde e controle de fronteiras, que são impostas aos viajantes além da necessária obtenção de visto.

Na nota, o Ministério da Europa e Relações Exteriores afirma que “Até o momento, os estudantes que residem em países classificados na "zona vermelha" não foram incluídos nas categorias de viajantes considerados como tendo um motivo convincente para viajar para a França. Como resultado, a emissão de vistos foi temporariamente suspensa. No entanto, estes estudantes têm a possibilidade de apresentar o pedido de visto, que os arquivos estão sendo examinados, mas não serão objeto de decisão sobre a emissão do visto até que a situação de saúde permita que esses estudantes entrem na França”.



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