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07/05/2021 às 16h00min - Atualizada em 07/05/2021 às 16h00min

Maus-tratos contra animais voltam a crescer na cidade

Setores ligados à proteção animal atribuem resultado à pandemia

NILSON BRAZ
Nos seis últimos meses de 2020, foram registrados 40 casos / Foto: Felipe Flores
Oficialmente, Uberlândia registrou até março deste ano 17 casos de maus tratos que foram atendidos e comprovados pela Polícia Militar. Neste mesmo período do ano passado foram 13 registros. Março de 2020, o mês em que o coronavírus chegou a Uberlândia, foram 2 casos atendidos pela polícia, contra 5 em 2021.
 
Quando comparados o fim dos anos de 2019 e 2020, também é possível perceber que quanto mais tempo de pandemia, mais casos de maus-tratos. Nos seis últimos meses do ano anterior à crise provocada pelo coronavírus, foram registrados 34 casos, contra 40 no ano seguinte.
 
De acordo com o diretor da Associação de Proteção Animal de Uberlândia, com Elson Torres, algumas pessoas que resolveram ter um cachorro ou um gato dentro de casa no início da pandemia, podem ter se arrependido da decisão com o passar do tempo.
 
“Cachorro late, chora, faz xixi, gosta de brincar correr, os gatos têm hábitos noturnos, gostam de brincar de madrugada, ficam inquietos durante a noite. Muitas pessoas não estavam preparadas para ter um animal, muitos nem sabiam como seria ter um animal dentro de casa, principalmente em época de pandemia onde tivemos que ficar 24h sem sair. Isso aumentou não só os casos de maus-tratos, mas de abandono também”, pontuou Torres.
 
De acordo com o Comandante do Pelotão de Meio Ambiente da Polícia Militar de Uberlândia, tenente Diego Jorge de Oliveira, 80% das ligações que recebem via Disque Denúncia Unificado, são de casos de maus tratos a animais. Porém, nem todas se concretizam quando são verificadas.
 
“O que a gente mais tem de demanda quando se trata de cães e gatos, é a ausência de cuidados médicos, que é quando o animal está ferido e a pessoa negligencia, não proporciona tratamento adequado. Outra situação é quando encontramos o animal em exposição constante ao tempo, que é quando a pessoa deixa o animal o dia inteiro exposto ao sol, acorrentado ou sem ter um lugar para se abrigar. Além das agressões”, comentou o tenente.
 
O diretor da APA diz que não há como afirmar com exatidão o quanto os casos de abandono também aumentaram, mas a média é que aproximadamente 30 mil cães e 20 mil gatos vivem nas ruas de Uberlândia. Ele conta ainda que a APA abriga hoje 370 cães e 70 gatos. Todos resgatados de casos de violência ou apreensão.

“Todos os dias eu recebo mensagens de pessoas que encontram ninhadas nas ruas, infelizmente eu não tenho condições de ajudar todos. Faço o que posso pelas redes sociais, divulgando, na tentativa de encontrar lares para esses animais. Era frequente encontrar caixas com filhotes abandonados na minha porta, mas como alguns vizinhos têm câmeras de segurança, as pessoas começaram a abandonar nas ruas próximas. Estes são casos que não tem como contabilizar, porque não tem a pessoa responsável por aqueles animais para responder pelo abandono”, afirmou.
 
MINISTÉRIO PÚBLICO
 
Quem acompanha de perto estes casos de abandono e maus tratos é o Ministério Público Estadual, na pessoa do promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Uberlândia, Breno Lintz. Ele conta que o número de denúncias que chegam até ele também é grande, mas que se a população fosse mais ativa quanto à defesa animal, esse número seria maior.
 
“Aqui, por semana, chegam umas três denúncias. Nós verificamos tudo que chega até a gente e acredito que ainda teria inúmeros casos para fiscalizar, mas muitas vezes as pessoas são acanhadas e o fato não chega ao nosso conhecimento. E existem, claro, as pessoas que não gostam de animais e denunciam maus-tratos quando, na verdade, é porque o cachorro está latindo demais”, comentou o promotor.
 
Ele comentou ainda que existem casos que merecem uma avaliação mais criteriosa e mais cuidado na hora de estabelecer uma punição para uma pessoa, que por ventura, é apontada como suspeita de maus-tratos. O promotor acredita ainda que a política da boa vizinhança deve ser colocada em prática, principalmente em época de pandemia.
 
“Alguns desses casos, de pessoas reclamando de cachorro chorando, ou latindo muito, são resolvidos da forma mais simples possível. Com diálogo. Sei de casos assim em que o animal estava sentindo falta do dono durante o dia. A solução foi o vizinho que ficava em casa e ouvia o animal passou a cuidar dele durante o horário de trabalho do tutor”, contou Breno.
 
Mas, quando existe uma solução tão simples, ou o caso é grave, a justiça precisa interferir. Muitas denúncias acabam sendo aceitas pelo judiciário, que toma as medidas necessárias.

“Todos os casos da polícia tem judicialização, porque eles fazem o boletim de ocorrência e manda direto para o juizado. Dos meus casos, acabam que muitos têm prosseguimento para acusar, para condenar, mas é em menor número comparado aos casos da polícia. Porque muitas denúncias que atendo eu chamo a pessoa aqui, eu procuro saber o que aconteceu. E existem casos em que a própria pessoa não tem o que comer, você não pode penalizar duas vezes. Ele passar fome e ainda acusado de maltratar o animal”, finalizou  Lintz.



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