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02/05/2021 às 12h15min - Atualizada em 02/05/2021 às 12h15min

Pandemia afeta imigrantes e refugiados de outros países que vivem em Uberlândia

Desemprego, preconceito e falta de auxílio fazem parte da lista de problemas vivenciados pelos estrangeiros que, por escolha ou obrigação, chegaram à cidade para tentar construir uma vida melhor

BRUNA MERLIN
O sírio Anwar Abo Madi mora há quase 6 anos com a família em Uberlândia I Foto: Arquivo pessoal
Com o passar dos anos, a cidade de Uberlândia vem se tornando cada vez mais o lar de imigrantes, principalmente refugiados de outros países. Assim como os cidadãos nativos do município, eles também estão enfrentando dificuldades com a pandemia do novo coronavírus. Desemprego, preconceito e falta de auxílio fazem parte da lista de problemas vivenciados.

Dados do Sistema Nacional de Cadastramento de Registro de Estrangeiros (Sincre) apontam que, até o mês de maio de 2020, a cidade de Uberlândia tinha 4.043 imigrantes cadastrados no Registro Nacional de Migrante na Polícia Federal. Contudo, esse número é considerado bem maior, já que muitos imigrantes ainda não são cadastrados no sistema ou se cadastraram em outra cidade e se mudaram para o município tempo depois.

Uberlândia recebe pessoas de diversos países. Ainda de acordo com o Sincre, a maior população de imigrantes é composta por haitianos, seguido de venezuelanos e senegaleses.

Por escolha ou obrigação, esses cidadãos buscaram refúgio e uma chance de melhorar a vida no Brasil. Mas, o que já era difícil e complicado, se tornou ainda pior com a chegada das diversas consequências causadas pela Covid-19.

Conforme dito pela coordenadora da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, vinculada à Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a pandemia deixou imigrantes, principalmente os refugiados, em uma extrema situação de vulnerabilidade. Muitos perderam o emprego e a dificuldade para encontrar outra ocupação é grande.

“Muitos não dominam a língua portuguesa e isso os distancia do mercado de trabalho. Outra dificuldade é que os espaços públicos de atendimento a essa população estão todos com restrição devido à pandemia, dificultando o acesso ao auxílio, especialmente a emissão de documentação. Elas também não têm acesso a equipamentos eletrônicos e internet que auxiliam na busca de informações porque muitas largaram tudo para trás e chegam aqui sem nada”, ressaltou.

O preconceito também é outro fator que aumenta ainda mais a dificuldade dos imigrantes de encontrarem um emprego na cidade. Em razão da soma dessas questões, muitos chegam a optar por opções informais e ilegais de trabalho para conseguir sobreviver.

“A perda da renda geral aumentou o número de pessoas vivendo nas ruas, sem acesso à infraestrutura básica e sem acesso aos direitos fundamentais à alimentação, saúde, moradia adequada, entre outros”, afirmou.
 
BUSCA POR DIAS MELHORES
O sírio Anwar Abo Madi, de 31 anos, mora em Uberlândia há quase seis anos e disse que todos os dias luta para conseguir sustentar a esposa e os dois filhos, sendo um de cinco anos e o outro de oito meses de idade. Ele saiu de Damasco, capital da Síria que estava em guerra, e procurou refúgio no Brasil.

No início, Anwar e a esposa contaram com a ajuda de um colega que morava na cidade, mas mesmo assim, passaram por algumas dificuldades. Sem saber falar português e com pouco dinheiro, o casal precisou batalhar para conseguir se socializar.

Com o passar do tempo, as coisas foram melhorando e o sírio conseguiu abrir um restaurante árabe no Centro de Uberlândia. Entretanto, com a chegada da pandemia e a crise econômica, ele precisou fechar o estabelecimento, pois não tinha mais condições de quitar o aluguel e outras despesas. “O movimento começou a cair e foi difícil manter as despesas. Precisei demitir os funcionários e fechar o comércio”, destacou.

Para continuar trabalhando e não deixar de levar renda para casa, Anwar decidiu vender eletrônicos nas ruas da cidade e também pelas redes sociais. “Procurei uma alternativa. Conto com a ajuda de dois funcionários do restaurante que estavam sem trabalhar”, complementou.

A esperança de conseguir reabrir o restaurante é grande em Anwar. Ele espera que ao fim da pandemia possa retomar as atividades do comércio e conquistar cada vez mais clientes com a culinária árabe.
 
AUXÍLIO
Com o objetivo de apoiar e auxiliar imigrantes, Uberlândia conta com a ONG Taare, que existe desde 2017. Um dos principais serviços da organização são aulas de português para essa população, que são essenciais para a autonomia do cidadão estrangeiro na cidade.

“Aprender a língua é muito importante para a comunicação e inserção dessas pessoas. Ajuda na procura por empregos e também para conseguir atendimento médico”, frisou a presidente e coordenadora de projetos da ONG, Kelly Moraes.

Em 2020, a Taare realizou mais de mil atendimentos e, devido à pandemia, juntou forças para doações de cestas básicas e roupas que foram destinadas aos estrangeiros prejudicados e em situação de vulnerabilidade. “Continuamos contando com esse apoio para levar produtos básicos a eles”, continuou.

A ONG também oferta orientações sobre direitos humanos e do trabalho e conta com uma equipe de assessoria jurídica que auxilia na regularização de documentos. Além disso, a instituição faz uma ponte com empresas interessadas em contratar. “Eles precisam de informações e auxílio para conseguir se estabelecer na cidade. Muitos chegam aqui perdidos e, sem esse apoio, acabam ficando nas ruas e sem estrutura nenhuma”, concluiu.

Mais informações sobre os serviços oferecidos pela Taare podem ser conferidas nas redes sociais da ONG, pelo Instagram ou Facebook @ong.taare.

 
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