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10/03/2021 às 12h30min - Atualizada em 10/03/2021 às 12h30min

Servidores relatam más condições de trabalho no transporte coletivo de Uberlândia

Motorista revelou má higienização e problemas mecânicos em ônibus

IGOR MARTINS
Servidores paralisaram atividades na última semana por parcelamento de salários | Foto: Arquivo/Diário de Uberlândia
Menos de uma semana após a paralisação de funcionários do transporte público de Uberlândia, alguns servidores das concessionárias reclamaram sobre as condições de trabalho durante a pandemia. Dentre as principais queixas recebidas pelo Diário, estão o parcelamento de salários, falta de higienização e más condições dos ônibus.
 
Um vídeo encaminhado à produção mostra um motorista exibindo a haste da seta quebrada em um ônibus de uma empresa do transporte público. Em outro vídeo, o servidor diz ainda que a buzina do veículo está estragada. “Se eu precisar de uma buzina, vou buzinar aonde? Não tem buzina, se eu tiver que buzinar vou evitar um acidente”, reclama.
 
O motorista também alerta em um dos vídeos para os pneus de um dos ônibus, além de encobrimento do volante com fita adesiva. “Olha o volante desse carro, todo com fita isolante. Você põe o carro na pista e ele não para, fica puxando para os lados. Se não tomar cuidado, bate nos carros laterais”, diz o profissional.
 
Um dos manifestantes da última sexta-feira (5) no Terminal Central, Raimundo Ferreira Silva afirmou ter sido demitido no mesmo dia dos protestos na região central de Uberlândia. Em conversa com a reportagem, o motorista reclamou do parcelamento de salário referente ao mês de fevereiro. Ele conta que, até o momento, recebeu R$ 250, quando deveria ter recebido R$ 2.098.
 
Silva falou ainda sobre a precariedade na estrutura dos ônibus da empresa São Miguel, concessionária onde ele trabalhou por vários anos. “Os ônibus estão deteriorados, fundindo o motor. A manutenção está precária há pelo menos um ano. Tem ônibus caindo o pneu, tem muito motorista infectado pela Covid-19 porque não estão fazendo a devida higienização. Cobrei material para combater o vírus, mas a resposta para mim foi negativa”, declarou.
 
NO LIMITE
Outro servidor demitido após a paralisação foi o coordenador de tráfego José Humberto Borges, da Autotrans. Segundo o servidor, ele foi pego de surpresa com a manifestação realizada por funcionários das empresas do transporte público de Uberlândia, mas acabou tomando partido durante o protesto.
 
“Eu estava fazendo um exame médico, quando passei no Terminal Central e vi uma confusão, eu realmente fui pego de surpresa, eu não sabia da greve. A primeira coisa que eu tentei fazer foi auxilia-los, conversando com um e com o outro. Quando as redes televisivas chegaram, eles me pediram para falar. Eu não poderia deixar os profissionais para trás naquele momento. Eu não sou líder, não sou nada”, disse.
 
Por conta da redução de frota ocasionada pela pandemia da Covid-19, Borges disse que a redução no quadro de funcionários sobrecarregou alguns servidores da empresa. Além disso, o coordenador de tráfego também reclamou sobre uma suposta falta de higienização nos veículos da Autotrans durante a pandemia do coronavírus.
 
“Muitas pessoas estão trabalhando no limite, e a higienização deixa a desejar mesmo. Vários ônibus possuem a mecânica falha. Os mecânicos estão trabalhando no limite, fazendo o máximo possível, mas faltou mecânica preventiva. Sabemos que existe todo um processo para a compra de peças. Na questão da empresa, vários funcionários pegaram Covid e não houve reposição”, revelou Borges.
 
OUTRO LADO
 
O representante do Sindicato dos Trabalhadores no Transporte Coletivo Urbano (Sinttrurb), Márcio Dúlio, cedeu entrevista ao Diário para esclarecer alguns dos questionamentos feitos pelos funcionários. Segundo ele, todas as empresas do transporte coletivo de Uberlândia têm disponibilizado aos funcionários máscaras e álcool em gel normalmente.
 
Dúlio falou ainda sobre a convenção coletiva de trabalho, uma das queixas apontadas por parte dos funcionários na última semana. O ato é caracterizado como um estabelecimento de regras nas relações de trabalho, quando sindicatos e profissionais estipulam condições de trabalho.
 
Segundo o representante da Sinttrurb, as empresas sempre respeitaram a convenção até a renovação do próximo instrumento, que precisou ser adiada por conta da pandemia da Covid-19. Márcio Dúlio afirmou que, no momento da paralisação na última sexta-feira, o sindicato estava em audiência discutindo a convenção e a questão salarial das concessionárias do transporte coletivo de Uberlândia.
 
“O resumo está em negociação. Mesmo com a convenção tendo vencido, as empresas respeitam a convenção até a renovação. Houve queda na arrecadação, e pela Prefeitura não ter anunciado reajuste de tarifa, as empresas alegaram uma suposta dificuldade que o sindicato não reconhece”, explicou.
 
Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Settran) informou, por meio de nota, que é obrigação das empresas responsáveis pelo transporte público da cidade manter a frota em boas condições de segurança e trafegabilidade, além de aplicarem as ações de biossegurança devido à pandemia da Covid-19.
 
O comunicado diz ainda que em relação à frota, a Settran ressalta que o efetivo de veículos tem sido empregado conforme à demanda de passageiros que caiu aproximadamente 54% durante a pandemia.
 
SINDETT
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Triângulo Mineiro (Sindett), José Luiz Rissato afirmou que, no total, 26 funcionários foram demitidos após a paralisação de atividades no dia 5 de março. Questionado sobre a demissão por meio do WhatsApp, ele disse que as empresas utilizaram a plataforma “apenas como ferramenta de notificação. O processo de demissão foi efetivado com todas as formalidades legais”.
 
Com relação à redução salarial, Rissato afirmou que os funcionários não deixaram de receber os salários, mas receberam a diferença do que deixou de ser pago pela empresa através do Governo Federal. Desta forma, o presidente do Sindett disse que o valor final foi mantido e que os servidores tiveram suas escalas reduzidas.
 
“Lembrando que o sistema de transporte no município teve uma redução considerável no número de passageiros, gerando um desequilíbrio entre receita e despesas. Esse desequilíbrio tem sido visto em todo país com empresas parando de operar em algumas cidades. Em Uberlândia, as empresas estão honrando com o compromisso com a cidade e têm se organizado para atender toda a população, independente do horário, realizando viagem, inclusive, sem passageiros para cumprir todas as linhas”, comentou.
 
Outro questionamento respondido por José Luiz Rissato diz respeito ao parcelamento de salários dos funcionários, o que de acordo com ele, está ligado diretamente à preocupação em não deixar com que o salário fosse atrasado por quase um mês, já que necessitam das verbas com entrada nas datas subsequentes para pagamento das demais parcelas. “A opção seria atrasar o salário, mas as empresas sabem que a dificuldade não está só lá, mas em todos os lares”.
 
Por fim, Rissato comentou sobre os procotolos adotados para o combate à Covid-19 no transporte coletivo de Uberlândia. Segundo o presidente, todas as empresas adotaram uma série de procedimentos internos com as recomendações do Ministério Público do Trabalho (MPT).
 
“A preocupação das empresas com seus colaboradores é constante com reposição de álcool em gel diariamente nos veículos, oferta de máscaras, adequação dos carros com telas transparentes para separá-los dos passageiros e acompanhamento por laudo técnico solicitados pelo MPT a cada 5 meses”, falou.




 

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