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25/02/2021 às 07h35min - Atualizada em 25/02/2021 às 07h35min

Pacientes contestam eficácia dos testes rápidos da rede pública de Uberlândia

Quem precisa fazer o exame vive indefinição com diagnósticos adversos em exames diferentes

IGOR MARTINS
Pacientes alegam que, na maioria das vezes, resultado apresenta “falso negativo” I Foto: Cleiton Borges/Secom/PMU
Com o avanço da Covid-19 em Uberlândia, a demanda pelos testes para diagnosticar a presença do vírus também aumentou. Entretanto, diversas pessoas têm questionado a precisão nos testes rápidos disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Os pacientes alegam que, na maioria das vezes, o resultado apresentado é o já conhecido “falso negativo”.
 
No boletim epidemiológico da Prefeitura, constam informações de casos descartados e casos confirmados. Quem apareceu nos dois índices no mesmo dia foi a coordenadora comercial Taynara de Moura Rodrigues Sales, que apontou diferença nos resultados de dois testes diferentes feitos na mesma data.
 
Em conversa com o Diário, a uberlandense contou que, após apresentar sintomas da doença, conseguiu agendar o exame em um posto de saúde pela manhã. Com a demora pela alta demanda na rede pública, ela também agendou o teste RT-PCR em um laboratório privado da cidade, à noite. Os diagnósticos? Um teste negativo e o outro positivo.
 
“No posto de saúde, eu conversei com várias pessoas que estão com a mesma situação que a minha. No RT-PCR elas testam positivo, mas no teste rápido, que é o de sangue, o resultado dá negativo. É complicado, porque os profissionais não orientam os pacientes de maneira adequada. Com o teste negativo, as pessoas tocam suas vidas normalmente. Vão trabalhar, vão sair, vão na casa dos pais e acabam passando o vírus para todo mundo”, disse.
 
A professora Maria Augusta de Almeida passou pela mesma situação de Taynara. A idosa de 65 anos também apresentou sintomas da covid-19 no dia 28 de janeiro. No primeiro dia de fevereiro, ela foi à Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do bairro Martins, mas o teste deu negativo. À tarde, ela fez o exame do cotonete em um hospital privado, e o resultado apontou a contaminação pelo vírus.
 
“Eu tive dor de cabeça muito forte, coriza, congestão nasal, perda de olfato e paladar e dores no corpo. Eu tive dores na região dos rins que foi muito forte, não conseguia ficar em pé. O cansaço ainda permanece. Essa situação é complicada, porque muitas pessoas acham que realmente estão sem o vírus. O perigo é muito grande”, explicou a professora.
 
REPRESENTAÇÃO
Em entrevista ao Diário, a Conselheira Municipal de Saúde Tânia Lúcia dos Santos confirmou que entrou com uma representação junto ao Ministério Público Federal (MPF), solicitando uma investigação dos custos, validade e eficácia dos testes rápidos disponibilizados pela Prefeitura de Uberlândia.
 
Ela conta que tem acompanhado a situação de diversos pacientes que questionaram a eficácia dos testes rápidos. O colapso na rede de saúde da cidade, segundo Tânia, é preocupante. Para a conselheira, é importante que o Município também faça uma investigação com o objetivo de comprovar a eficácia dos exames.
 
“O Município sempre ostenta que é a cidade que mais testa, mas ao mesmo tempo, todos reclamam da eficácia do teste rápido. Muitas pessoas estão apresentando sintomas pesados, como tosse, falta de ar, perda de paladar e olfato, calafrios, febre, mas o teste dá negativo para a Covid. Como vamos confiar que os números estão corretos? Não estão. Existe uma subnotificação de casos em Uberlândia”, disse Tânia.
 
A servidora alertou para o encaminhamento de pacientes que testam negativo nos exames rápidos da Prefeitura. O perigo, em sua visão, está no fato de os cidadãos voltarem à rotina normalmente, podendo disseminar ainda mais o vírus pela cidade. De acordo com Tânia, o Município precisa simplificar a realização dos testes rápidos, evitando a peregrinação da população pela cidade.
 
“A pessoa com sintomas precisa se deslocar para fazer o agendamento, depois precisa voltar e ir novamente fazer o teste. É um absurdo. Não faz nenhum sentido a pessoa ir na UAI e depois ir em uma UBS. Isso é disseminar o vírus. O Município fala para as pessoas ficarem em casa, mas manda o paciente ir atrás de um agendamento. A pessoa vai disseminando o vírus dentro do ônibus, do carro e do Uber. É preciso que a Prefeitura vá onde os pacientes estão”, detalhou.
 
A conselheira disse que espera que o Município tome atitudes para colaborar com as investigações com relação à eficácia dos testes e defende que, em caso de baixa precisão no diagnóstico, é necessário repensar o orçamento, que segundo ela, pode ser redirecionado para outras áreas, como a compra de novos leitos ou até mesmo a aquisição do teste RT-PCR na rede pública.
 
“Os valores dos testes são muito altos. Se ele não tiver eficácia, isso precisa ser revisto, porque poderíamos estar investindo em mais consultas online, em aparelhos de hemodiálise. Há um risco de descobrir que estamos jogando dinheiro fora. Pode ser aí que está o gargalo. A população é culpada? É sim, mas o sistema faz com que ela seja culpada a partir do momento que o teste dá negativo mesmo ela apresentando todos os sintomas da doença. O Município autoriza essas pessoas a circularem. Cadê o rastreamento do vírus?”, questionou.
 
POSICIONAMENTO
O Diário solicitou à Prefeitura de Uberlândia uma entrevista com um porta-voz responsável pela área da Saúde para esclarecer o motivo da disparidade dos testes que estão sendo realizados na rede pública, ou pelo menos um posicionamento do Município sobre o assunto, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.




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