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24/01/2021 às 08h00min - Atualizada em 24/01/2021 às 08h00min

Relações abusivas: elas também estão na família e no ambiente de trabalho

Diário mostra histórias vividas por vítimas de situações abusivas; psicóloga orienta sobre como identificar comportamentos tóxicos

BRUNA MERLIN
Pais e mães com comportamentos abusivos não são tão incomuns | Foto: Pixabay

Quando se fala em relacionamento abusivo, logo se pensa em relações amorosas. No entanto, comportamentos tóxicos podem ser presenciados em diversos relacionamentos como, por exemplo, no ambiente de trabalho e até mesmo dentro de casa, com familiares. Segundo a psicóloga, Maria Isabella Nunes, eles são mais comuns do que parecem e também precisam de atenção.

“Todos os tipos de relações podem ser abusivas. O mais comum é identificarmos essas características entre casais, porém, os abusos podem acontecer de forma ainda mais próxima, entre amigos e familiares”, explicou a psicóloga.

A empresária de Uberlândia Camila Amaral Guimarães, de 44 anos, passou anos de sua vida convivendo com uma pessoa tóxica. Para ela, a situação foi ainda mais difícil, já que era vítima da própria mãe. Humilhações e falta de carinho marcaram a infância, adolescência e até parte da vida adulta dela.  

“Foram momentos muito conturbados. Minha mãe sempre humilhava a mim e meus irmãos. Desde pequenos, erámos chamados de incompetentes. Essas situações aconteciam rotineiramente, tanto no privado quanto publicamente. Além disso, sempre apanhávamos sem motivos”, disse.

Camila contou ainda que todas as palavras de desmerecimento ditas pela mãe causaram diversos transtornos psicológicos que ela precisa cuidar até os dias de hoje. Segundo a empresária, ela sempre conviveu com problemas de autoestima, depressão, ansiedade e outras consequências que influenciaram de forma negativa no crescimento pessoal dela.

O trauma também impactou a vontade de Camila de ter filhos. Na época em que os abusos aconteciam, ela ficou com medo do comportamento tóxico ser genético e optou por não engravidar.

“Eu tinha pavor de pensar que eu poderia ser assim com meus filhos e por isso optei em não ter. Hoje, eu entendo que não se trata de genética. Mas, atualmente, convivo com meu marido e minha cachorrinha, que me mostram o real significado do amor que nunca tive oportunidade de conhecer”, complementou.

Há três anos, Camila não tem contato com a mãe. Para ela, essa decisão foi uma libertação. “Não devemos nos prender a algo que nos faz mal, seja em qualquer situação. Hoje, percebo que, sem o convívio com ela, estou muito bem. Consigo me sentir capaz e sei que sou suficiente, ao contrário do que minha mãe dizia”, concluiu.
 



TRABALHO
Comportamentos abusivos também são muito comuns em ambientes de trabalho. Eles podem acontecer entre o chefe e subordinados, ou até mesmo entre os colegas de profissão. Uma moradora de Uberlândia, que preferiu não se identificar, já vivenciou diversas situações que extrapolaram o normal e se tornaram abusos.

Aos 19 anos, ela conta que foi humilhada diversas vezes pelo chefe enquanto trabalhava em uma ótica da cidade. Segundo relatos dela, o superior sempre queria impedi-la de realizar horários de almoço e fazia ameaças constantes de que iria demiti-la.

“Eu fazia faculdade e precisava do horário do almoço, que era um direito, para conseguir fazer minhas atividades. Diversas vezes em que eu conseguia sair para fazer esse horário, ele me seguia e ficava me vigiando. Além disso, já fui ameaçada em várias ocasiões”, disse.

Em seguida, a uberlandense começou a atuar como engenheira em uma empresa do município. Desta vez, além dos chefes, os comportamentos abusivos também vieram de outros colegas de trabalho.

Ainda de acordo com ela, a empresa era composta por muito homens e eles sempre a discriminavam e humilhavam. “Piadas humilhantes de que eu não era capaz de estar lá. Foram diversos acontecimentos constrangedores que muitas vezes me fizeram acreditar que eu era inferior e incompetente”, explicou.

Cansada do comportamento dos colegas, ela decidiu denunciar os acontecimentos ao chefe, mas ela acabou saindo prejudicada, mais uma vez. “Fui informar a ele o que estava acontecendo e ele, simplesmente, me disse que não poderia fazer nada. Em seguida, me demitiu. Foi horrível”, finalizou.
 
COMO IDENTIFICAR
Segundo a psicóloga Maria Isabella Nunes, existem alguns comportamentos comuns que caracterizam uma pessoa tóxica e abusiva. Entre eles, estão: necessidade de sempre humilhar o outro com palavras ou ações ofensivas, manipulação, agressões verbais ou físicas e falta de demonstração de empatia e afeto.

“Existem graus de relacionamento abusivo. Uns são discretos e difíceis de perceber, mas vai consumindo a vítima devagar. Outros podem ser mais grosseiros. É necessário ficar atento a esses sinais e identificar que aquilo não está bom e que faz mal de alguma forma”, detalhou.

A especialista explicou, também, que não existe uma fórmula para se livrar totalmente de relacionamentos tóxicos, já que para cada pessoa funciona de um jeito. Mas, o primeiro ponto é saber identificar que essa relação não está certa e que não faz bem. Em segundo lugar, o ideal é procurar um apoio psicológico com profissionais especializados, que irão ajudar a encontrar esse caminho.

“Cada pessoa encontra um jeito de sair dessa situação. Umas se afastam e cortam o relacionamento e outras se impõem e deixam claro que não estão gostando daquilo. O importante é que ninguém é obrigado a manter nenhuma relação com quem não se sente bem e confortável”, concluiu a psicóloga.



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