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09/01/2021 às 08h00min - Atualizada em 09/01/2021 às 08h00min

Livro retrata construções rodoviárias em Uberlândia

‘As estradas pioneiras do Brasil’ foi escrito pelo jornalista Antônio Pereira

IGOR MARTINS
Produção mostra a importância do desenvolvimento na região como um ponto logístico | Foto: Divulgação

Antônio Pereira da Silva é um daqueles jornalistas curiosos e com muita história para contar. Sua longa trajetória como comunicador e a paixão pela história de Uberlândia, o permitiram acompanhar e ter acesso a documentos de momentos importantes da cidade, como a chegada da estrada de ferro Mogiana ao Triângulo Mineiro, em 1985, e a estrada construída por Fernando Vilela, em meados de 1912.

Tantas histórias para contar, muitas foram parar em livros escritos pelo Seu Antônio Pereira da Silva. O desenvolvimento do transporte rodoviário e ferroviário na região é tema do novo trabalho escrito pelo jornalista, “As estradas pioneiras do Brasil”, à venda na Revistaria Itacolomy (R$ 35).

A produção de Antônio Pereira mostra como a localização geográfica de Uberlândia impulsionou o intercâmbio comercial entre Minas Gerais, Goiás e São Paulo. “Eu sempre trabalhei na área de memórias de Uberlândia e comecei a pesquisar para escrever alguns artigos. Eu tinha tantos jornais, tantos arquivos, tantas pesquisas, que o material todo que eu tinha dava um livro. A maioria é do tempo dos jornais impressos. Comecei a organizar, e nessa organização surgiram coisas que eu não imaginava que poderiam ter acontecido. Fui atrás e comecei a escrever o livro”, disse.

Para entender melhor, vamos voltar ainda ao final do século XIX, quando Uberlândia ainda tinha o nome de São Pedro de Uberabinha e era distrito de Uberaba. Em 21 de dezembro de 1895, com a emancipação do município, o local recebeu os trilhos da estação Mogiana, que na época pretendia até mesmo expandir para a capital goiana, passando pela cidade de Catalão.

Os trilhos, de fato, chegaram a Uberaba em 23 de abril de 1889. Antônio Pereira conta que, naquela época, as trocas comerciais eram feitas através de carros de bois e mulas. “No fim do século XIX e começo do XX, não havia comunicação nenhuma. Tinha só a Mogiana, a estrada de ferro que começava em Campinas. Ela era um meio de comunicação muito mais rápido, o mais rápido da época. Era muito seguro para as mercadorias, tanto as manufaturadas que saíam das indústrias como as matérias-primas que saíam do sul de Goiás e desciam para as cidades grandes”, explicou o jornalista.

Em entrevista ao Diário, Seu Antônio afirmou que a transformação na região foi grande, já que o intercâmbio comercial se desenvolveu mais rapidamente. “De Uberlândia a Uberaba, eram cinco ou seis dias de carro de boi. Quando a Mogiana chegou foi um susto. O trem de ferro conseguia alcançar até 50km/h, e conseguia transportar muito mais mercadoria do que os bois ou as mulas conseguiam”, analisou.
 
PONTE AFONSO PENA
O livro trata ainda da construção, em 1909, de uma ponte sobre o Rio Paranaíba, em Itumbiara (GO), que integrou ainda mais as regiões do sul do estado goiano e o Triângulo Mineiro. “Construir uma ponte atualmente não significa nada, mas naquele tempo, todo o sul de Goiás era cercado por rios. A comunicação interestadual só existia por causa das balsas. E era um sacrifício danado, eram balsas inseguras, não eram como as de hoje. Eram apenas canoas com uma prancha por cima, então imagine só”, falou Seu Antônio.

O impacto da ponte na cidade foi imediato. Em conversa com a reportagem, o jornalista uberlandense disse que a partir daquele momento, 70% de toda a produção goiana começou a ser transferida pela ponte “Afonso Pena”, como foi chamada. Todos os produtos, então, chegavam até a estrada da Mogiana e, a partir daí, era enviada a cidades principalmente de São Paulo.

“As balsas demoravam ‘pra chuchu’ e a travessia era perigosa. Já pensou um carro de boi cheio de sal grosso em uma canoa? A maioria dos compradores eram paulistas, as mercadorias então começaram a ir para a Mogiana, depois iam para um carro de boi e começavam a ser entregues em cidades da região”, relembrou.


 
ESTRADA DE FERNANDO VILELA
Segundo o escritor e jornalista Lycídio Paes, em artigo denominado “Epopeia Sertaneja”, publicado no Correio de Uberlândia, em 1967, “antes de 1914, Goiás era despovoado e tinha uma produção quase insignificante. O sudoeste do estado fazia comércio com Uberlândia por intermédio dos carros de bois, em estradas poeirentas no verão e barrentas no inverno, estradas com percurso difícil, com ladeiras perigosas e lameiros que amedrontavam os condutores”.

Apenas a Mogiana e a ponte Afonso Pena sugeriam aos comerciantes do Triângulo e Goiás que não bastavam uma estrada de ferro para resolver o problema do transporte de matérias primas e produtos manufaturados, mesmo com o desenvolvimento de infraestrutura nestes locais. Foi aí que o empresário Fernando Vilela deu início a uma importante obra para a região, a construção de uma estrada adaptada para automóveis, a partir de 1913.

O trecho inicial a ser construído ia de Uberabinha a Monte Alegre de Minas, em uma distância de 72km. A importância da estrada, além do desenvolvimento comercial, resultou ainda na criação de cidades como Canápolis, em 1934, e Centralina, em 1945.

“Essa foi a primeira estrada propriamente automotiva do Brasil. Quando ela finalmente chegou em Itumbiara, em 1917, os empresários acharam a ideia muito boa e a partir daí, fizeram muitas estradas. Estradas até Jataí, Rio Verde, Mineiros. A partir daí, Uberlândia virou um ponto de referência no trânsito de mercadorias. Toda a produção paulista descia em Uberlândia. Podemos dizer que isso foi fundamental para que a cidade se tornasse uma cidade logística”, finalizou Antônio Pereira da Silva.




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