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25/11/2020 às 12h40min - Atualizada em 25/11/2020 às 12h40min

Polícia investiga caso de jovem que alega ter sofrido injúria racial e agressão em comércio

Diário conversou com a vítima que ficou gravemente ferida; proprietário e funcionário do local deram outra versão sobre o ocorrido

BRUNA MERLIN
Samuel ficou internado e teve diversas fraturas no rosto em decorrência da agressão | Foto: Arquivo Pessoal

A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar o caso de Samuel Davi Vieira Bonifácio, de 27 anos, que alega ter sido agredido e sofrido injúria racial na Distribuidora e Disk Bebidas Radar na madrugada desta terça-feira (24). O Diário de Uberlândia conversou com o jovem e conseguiu mais detalhes sobre o ocorrido. A reportagem também ouviu o proprietário do estabelecimento, que se posicionou sobre a situação. 

 

Segundo o delegado-chefe da Polícia Civil, Marcos Tadeu, Samuel será ouvido formalmente ainda na tarde desta quarta-feira (25). “As pessoas que estavam envolvidas no momento do acontecimento já foram intimadas e também serão ouvidas na próxima sexta-feira (27)”, explicou.

 

Os investigadores também já estão analisando as imagens das câmeras de videomonitoramento do comércio cedidas pelo proprietário. Ainda de acordo com Marcos Tadeu, o objetivo é verificar os fatos narrados pelas partes e também identificar testemunhas que estavam no local no momento do ocorrido. 

 

RELATOS

O caso de Samuel ganhou grande repercussão na mídia e gerou indignação por parte da população e do Movimento Negro da cidade. O jovem alega que sofreu injúria racial e foi brutalmente agredido ao tentar comprar uma mercadoria no comércio que fica localizado na avenida João Naves de Ávila.

 

Tudo começou por volta das 4h de terça. Samuel confirmou ao Diário a mesma versão dada à Polícia Militar (PM) durante o registro do boletim de ocorrência. “Eu estava em frente ao estabelecimento com minha namorada, uma prima e outro amigo quando percebi que tinha perdido meu celular. Instantes depois, um morador em situação de rua que tinha achado o aparelho se aproximou e me devolveu”, explicou ele. 

 

Como forma de agradecimento, Samuel disse que pediu para que o morador em situação de rua escolhesse uma comida do comércio pois iria pagar o produto para ele. “Nós dois entramos no local e o homem que estava no caixa começou a dizer que não nos queria ali e tentava nos expulsar. Outros funcionários do local começaram a chegar perto para ajudar a nos tirar de lá”, complementou. 

 

Ainda de acordo com o jovem, a companheira e a prima dele tentaram discutir com os funcionários e quase foram agredidas pelos mesmos. Diante da situação, Samuel pediu a elas para irem embora com o objetivo de evitar uma confusão maior.

 

“Quando estávamos saindo do estabelecimento, eu estava de costas e senti um soco na minha nunca. Foi quando caí no chão e desmaiei. Lembro somente de algumas partes em que vi pessoas me chutando e gritando. Minha namorada e prima escutaram as palavras de cunho racista. Eles me chamaram de ‘preto’ e outras coisas ofensivas”, narrou a vítima. 

 

O rapaz foi encaminhado até a Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do bairro Pampulha onde recebeu os primeiros atendimentos. Horas depois ele foi transferido para o Uberlândia Medical Center (UMC) onde ficou internado até a noite de ontem.

 

A mãe de Samuel contou ao Diário que ele sofreu diversas fraturas e teve alguns ossos do rosto quebrados, incluindo o nariz. Conforme dito por ela, talvez ele tenha que passar por uma cirurgia para reparar os danos. 

 

“Ele está muito abalado. Sentindo muita dor e assustado com o que aconteceu. Queremos justiça por ele e iremos correr atrás disso”, finalizou ela. 

 

OUTRA VERSÃO

A reportagem também procurou o proprietário da Distribuidora e Disk Bebidas Radar, Gerolino Joaquim da Silva Filho, que foi acusado de agredir e ofender o jovem. Em conversa com o empresário, ele relatou que estava em casa quando o fato aconteceu e que o estabelecimento ficou sob responsabilidade de um funcionário. 

 

Gerolino confirmou a história de que o morador de rua devolve o celular perdido de Samuel e que o jovem queria pagar algo para ele comer. “Eles entraram no estabelecimento e, segundo meu funcionário, o morador de rua queria uma bebida alcoólica, mas depois das 22h nós não vendemos esse tipo de mercadoria devido ao decreto municipal. Depois desse horário, só funcionamos com o mercadinho. Sendo assim, o funcionário disse que não podia e eles foram embora”, explicou.

 

O proprietário contou também que o morador de rua ficou bravo com a situação e tomou de volta o celular de Samuel dizendo que não ia devolver. “Eles brigaram, mas isso não aconteceu no meu estabelecimento e nenhum dos meus funcionários estão envolvidos. As imagens de segurança mostram que nada aconteceu. Essa briga aconteceu em outro lugar”, disse. 

 

Gerolino cedeu ao Diário alguns vídeos captados pelas câmeras de videomonitoramento da distribuidora entre 4h e 4h30. As imagens enviadas à redação não mostram brigas ou desentendimentos no local durante esse período. 

 

Por fim, o empresário disse que o morador em situação de rua é conhecido na região e já causou outras confusões. “Trabalho há 20 anos lá e nunca tive confusão com ninguém. Todo mundo me conhece lá e confio nos meus funcionários”, concluiu. 

 

NOTA DE REPÚDIO

Na noite desta terça-feira (24), antes da entrevista para o Diário, os representantes da Distribuidora e Disk Bebidas Radar divulgaram uma nota de repúdio sobre o ocorrido. O documento enviado à imprensa contém outras informações e detalhes sobre a situação. 

 

Na nota, é informado que Samuel e os companheiros estavam embriagados e chegaram no estabelecimento para comprar bebida alcóolica, e queriam ficar no local consumindo o produto. “O funcionário que estava no local pediu para eles saíssem, uma vez que o horário já não era permitido aglomeração e a choperia se encontrava fechada conforme comprovam as imagens enviadas à Polícia Civil. Os vídeos também deixam claro que não houve nenhuma briga dentro ou em frente do estabelecimento”, esclarece a nota. 

 

O funcionário que estava local e hora do fato também deu depoimento à Polícia Militar durante o registro do boletim de ocorrência nesta terça. Ele confirma a versão de que os jovens estavam alcoolizados e queriam ficar no estabelecimento ingerindo bebida alcoólica. 

 

O trabalhador disse ainda que, ao tentar pedir para que os jovens saíssem do comércio, ele foi ofendido e a companheira de Samuel deu um soco em seu rosto. Em seguida, outros clientes que viram a situação começaram a agredir Samuel com soco e chutes.

 

Por fim, o funcionário informou que não viu mais nada depois pois teria se dirigido para atender outros clientes que estavam no estabelecimento. Samuel nega qualquer ofensa e agressão contra o trabalhador.



 

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