22/09/2020 às 10h35min - Atualizada em 22/09/2020 às 10h35min
Sobrecarga de trabalho afeta professores de Uberlândia durante aulas remotas
Diário ouviu docentes da rede pública e particular, que revelam estresse vivido em home office
DHIEGO BORGES
Quadro de estresse, carga horária estendida e sobrecarga de trabalho. Essa tem sido a realidade vivenciada por boa parte dos professores de Uberlândia, que relatam dificuldades para manter as atividades escolares com aulas remotas durante a pandemia da Covid-19, seja na rede pública ou na particular.
Em entrevista ao Diário de Uberlândia, uma professora que atua com alfabetização de crianças de 1º ano em uma escola privada da cidade, que preferiu não se identificar, disse que tem se sentido sobrecarregada com o novo modelo de aulas. Segundo ela, por conta dos atendimentos extras aos alunos, a carga horária foi bastante acrescida, o que tem refletido no estado de saúde.
“Antes, eu trabalhava cinco horas por dia, agora são pelo menos oito. Temos um planejamento muito mais extenso, que demanda muito mais tempo. Por conta disso, passei a ter pressão alta, bruxismo e outros sintomas relacionados ao estresse. Sabemos que é algo inevitável neste momento, mas infelizmente nem o empregador e nem a sociedade têm visto o lado do professor”, destacou.
Outra professora da rede particular, que também preferiu manter a identidade preservada, relatou à reportagem que as aulas remotas têm sido um desafio tanto para alunos quanto para os docentes. Além da pressão, a professora, que atua com o ensino para séries iniciais, relata um desgaste emocional também por conta da cobrança dos pais.
“No começo, eu fiquei mais de um mês sem dormir direito, porque a minha cabeça não parava. Tive que me adaptar e passei a tomar remédios por conta da ansiedade. Estamos cansadas e percebemos que as crianças também estão exaustas. Também tem a cobrança da família, pais que nos procuram o tempo todo por telefone, WhatsApp e acabamos ficando ligados por 24h”, relatou.
No ensino público, a realidade não é muito diferente. A professora Stella Santana, de 41 anos, que ministra aulas na rede municipal, disse que o modelo não tem sido nada positivo. Segundo Stella, há uma baixa adesão dos alunos em relação às atividades e o retorno é insatisfatório.
“Praticamente todos os alunos pegam as apostilas na escola, 90% deles devolvem, mas apenas 30% fazem as atividades de forma integral. Quando vão justificar, eles dizem que não dão conta e que os pais não têm tempo para ajudar. Dessa forma, fica muito complicado avaliar e cobrar do aluno”, revelou.
A professora conta que as aulas remotas têm sido realizadas de três a quatro vezes por semana, mas além disso também há o trabalho de planejamento das aulas e o atendimento extra aos estudantes, muitas vezes fora do horário. “Meu horário normal são oito horas diárias e normalmente tínhamos um dia específico para formação docente, que não está existindo. Agora trabalho uma média de dez horas por dia, podendo chegar a 12, a depender da semana. Também tem o atendimento fora do horário, já teve casos de alunos me mandando mensagem com dúvidas à meia noite, por exemplo”, contou.
O Diário conversou ainda com alguns professores universitários da rede privada que, embora não quiseram conceder entrevista, também reclamaram da situação precária na qual a classe tem sido submetida. Entre as principais reclamações estão a redução de salários em razão do enquadramento na Medida Provisória 936 do governo federal, porém sem redução de jornada na prática, o consequente desgaste emocional e a sobrecarga de trabalho.
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