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19/09/2020 às 08h00min - Atualizada em 19/09/2020 às 08h00min

Estudo com participação da UFU aponta que metalofármacos podem atuar contra Covid-19

Fármaco composto por metal já é utilizado em outros tratamentos e demonstra resultados positivos para combate de vírus

DA REDAÇÃO
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) publicou um artigo que explica sobre como os metalofármacos podem ajudar no combate dos vírus e também do SARS-CoV-2, causador da Covid-19. Os autores da pesquisa acreditam que cientistas precisam ampliar os estudos do fármaco em relação ao coronavírus.

Segundo o estudo, publicado pela Dalton Transactions, metalofármaco é um fármaco (princípio ativo de um medicamento) que contém metal na sua composição. Vários metalofármacos já são utilizados, como a cisplatina e os seus derivados, no tratamento de tumores de cabeça, pescoço e testículos. Outros exemplos são a sulfadiazina que tem atividade antibacteriana e é aplicada na forma de pomada para queimadura, a auranofina usada para tratar artrite reumatoide e o ferro bisglicinato que combate a anemia.

Muitos metais têm atividade antimicrobiana intrínseca. Segundo um dos autores da pesquisa, Fernando Bergamini, que é professor do Instituto de Química da UFU, na época medieval, uma mistura contendo o sal metálico nitrato de prata era usada como ferramenta de cirurgiões para impedir o crescimento de microrganismos. "Aí vem a pergunta: por que não há, até o momento, compostos de coordenação metálicos aprovados para aplicação como fármacos antivirais, sendo que a gente sabe que os metais têm a capacidade de inibição de certos processos biológicos?", questionou o Bergamini.

Os cientistas demonstraram, no artigo, que a faixa de atividade antiviral dos metalofármacos in vitro é muito similar à atividade de fármacos orgânicos, inclusive frente ao Sars-Cov-2. Assim como os antivirais "puramente orgânicos", os metalofármacos têm que seguir o paradigma da seletividade, ou seja, devem atuar contra a maquinaria viral e não contra as células humanas.

Segundo Bergamini, os íons metálicos tendem a ser mais versáteis que os orgânicos, o que permite aos cientistas fazerem ajustes finos durante o desenvolvimento de fármacos. "É uma das razões por que a natureza inclui íons metálicos nos nossos sistemas biológicos. Cerca de 30% a 40% das nossas proteínas contêm íons metálicos para desempenhar efetivamente suas funções", explicou o pesquisador.

Quanto ao tratamento da Covid-19, de acordo com Bergamini, está em fase de testes in vitro a auranofina, como proposta de reposicionamento de fármacos já aprovados para outras aplicações. "Os metalofármacos podem chegar a ser a única solução para casos muito específicos. Além de antivirais, no desenvolvimento de fármacos antibacterianos. No futuro podemos ter vírus e bactérias mais resistentes. Os metalofármacos, muitas vezes, desempenham, mais do que um mecanismo de ação. Eles impedem que haja surgimento muito rápido de resistência", finalizou Bergamini.


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