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19/07/2020 às 10h57min - Atualizada em 19/07/2020 às 10h57min

Empresário é denunciado por aplicar golpes prometendo garantia de financiamento em Uberlândia

Vítimas eram convencidas pelo suposto estelionatário a pagar taxa para melhorar score e ter crédito aprovado

DA REDAÇÃO
Pelo menos 30 pessoas até o momento dizem ter sido lesadas por um suspeito de estelionato por prática ilegal em aprovação de financiamentos em Uberlândia. O empresário, identificado pelas vítimas como Davi de Jesus Barbosa, prometia garantir a aprovação de crédito junto a instituições bancárias para pessoas com baixo score cobrando taxas que variavam de R$ 800 a R$ 1,5 mil. 

Uma das ex-funcionárias da empresa junto a uma das vítimas do possível golpe procurou a Polícia Militar na última segunda-feira (13) para denunciar o caso. Segundo o boletim de ocorrência, a empresa “Ideal Car” cobrava valores por um serviço de “aumento de score” como forma de garantia do financiamento, que, segundo relatos dos clientes, não era efetivado. 

Na tarde desta quinta-feira (16), o Diário de Uberlândia conversou com duas das vítimas do possível estelionatário, identificado por elas como Davi de Jesus Barbosa. Uma das clientes, que preferiu não se identificar, contou à reportagem que procurou a empresa para tentar um financiamento de um veículo com valor estimado em R$ 30 mil após ver um anúncio em uma rede social que apresentava as facilidades para o negócio.

Ao entrar em contato com a vendedora, a vítima foi informada que para efetivar a solicitação do financiamento, a empresa cobrava um valor de entrada para realizar procedimentos necessários, como elaboração de contrato e ficha de cadastro. Na primeira conversa, ela também foi informada de que o financiamento era destinado a pessoas com score baixo.

Segundo o relato da vítima, a taxa cobrada para conseguir a aprovação do valor do veículo era de R$ 1,5 mil e que a quantia poderia ser parcelada. Alguns dias depois, ela e o esposo receberam a visita do gerente, que explicou os detalhes do suposto financiamento. “Ele estava uniformizado, com papéis de contrato já em mãos, nos explicando tudo detalhadamente. Falou que o importante era a aprovação do banco, porque assim que o banco aprovasse o crédito era só escolher o veículo dentro do valor liberado”, destacou. 

Davi explicou que passaria a ficha deles em alguns bancos e o que aprovasse primeiro daria resposta ao casal por telefone. Os dois então fecharam o contrato e pagaram a quantia de R$ 1.500 parcelada.  Segundo a vítima, o esposo também compareceu ao escritório da empresa para ver os detalhes mais de perto. No local, segundo ela, havia funcionários trabalhando uniformizados como em qualquer empresa. 

Alguns dias depois, o gerente voltou a conversar com a vítima pedindo mais dinheiro, dizendo que a ficha dela estava pré-aprovada. Segundo informado pelo negociador, faltaria uma taxa de R$ 2 mil que seria para proceder com emplacamento, laudo do veículo e vistoria completa. Questionado pela vítima, o suspeito alegou que por conta da pandemia era necessário pagar uma outra taxa para um operador que faria todo o procedimento, e que o prazo para a transferência e vistoria do veículo seria de cinco dias úteis após o pagamento.

Por meio de um áudio no aplicativo WhatsApp, o suspeito informa à vítima que o valor inicial que já havia sido pago correspondia a outro procedimento. “Os R$ 1.500 que vocês pagaram foi para fazer declaração de imposto de renda, melhorar o score dele (esposo) que estava baixo e deixar o perfil dele nos critérios bancários. O banco só está aprovando com essas condições”, afirmava o gerente.

Após assegurar que a vítima tinha a pré-aprovação do crédito de R$ 30 mil para adquirir o carro, o casal então pagou em dinheiro os R$ 2 mil reais solicitados por Davi, mas não teve mais retorno sobre o financiamento. Ao perceber o golpe, eles procuraram a Polícia Militar para fazer um boletim de ocorrência, já que o proprietário não foi mais encontrado. 

Anúncio em rede social 
Outra pessoa que sentiu lesada foi o profissional autônomo Douglas Silva, de 21 anos. O jovem procurou a empresa também após visualizar um anúncio em uma página do Facebook. A vítima disse à reportagem que a empresa garantiu o financiamento de uma moto no valor de R$ 13 mil, mediante o pagamento de uma taxa inicial de R$ 800 pelo serviço de aumento de score. 

Alguns dias depois, o jovem recebeu uma ligação da empresa dizendo que o crédito não havia sido aprovado porque a mãe de Douglas, que era uma das pessoas informadas como referência para receber o contato da possível financiadora e aprovar o crédito não havia atendido às ligações. 

Ao questionar o procedimento, a empresa disse que o jovem havia perdido o dinheiro, mas era possível fazer uma nova tentativa em dois meses. Na última semana, Douglas recebeu um novo contato dizendo que o cadastro havia sido aprovado e recebeu inclusive foto da moto.

“Mandaram alguém de São Paulo me ligar, sabiam todos os meus dados, o veículo que eu queria e disseram que meu cadastro estava aprovado”. 

Ao fazer contato novamente com o proprietário da empresa, Douglas foi surpreendido por Davi, que disse que precisaria de mais R$ 1 mil para dar entrada em procedimentos de transferência do veículo. “Disse a ele que não tinha aquele valor, mas tinha R$ 500 em dinheiro. Ele buscou e disse que em poucos dias avisaria para irmos ver a moto”.

Depois disso, Douglas não conseguiu mais contato com Davi. “Ele excluiu a conta de WhatsApp, o telefone da loja não atendia mais. Quando fui até a empresa, encontrei uma placa de aluga-se. O proprietário do imóvel disse que eles haviam sumido”, conta. 

POLÍCIA CIVIL
A reportagem conversou com o delegado regional da Polícia Civil em Uberlândia, Luciano Alves, que recebeu um boletim da Polícia Militar feito por uma das ex-funcionárias da empresa com a participação de uma das vítimas, mas esclareceu que até o momento não houve por parte das vítimas uma denúncia formal à Polícia Civil, que só poderá instaurar um inquérito investigativo caso haja manifestação por parte das pessoas lesadas. 

Ainda segundo o delegado, esse tipo de prática é ilegal tanto por parte da empresa quanto por parte de quem contrata o serviço. “Se você está dando dinheiro para alguém para interceder e aprovar seu crédito, você pode estar fomentando uma atividade criminosa. Temos que entender se essa vítima foi tão ingênua de acreditar nisso ou se ela tinha alguma outra intenção”, destacou.

De acordo com Luciano Alves, o número de denúncias de estelionato em Uberlândia cresceu 31% durante a pandemia. Segundo dados informados pelo delegado, neste primeiro semestre foram 1.972 ocorrências contra 1.496 comparado ao mesmo período de 2019.

O Diário não conseguiu localizar o suspeito e nem sua defesa para falar sobre o assunto.


GOLPE DUPLO
Funcionárias contratadas pelo empresário Davi de Jesus Barbosa para fazer a captação de clientes para o negócio também alegam que foram enganadas pelo suspeito. Uma das ex-funcionárias, que não quis se identificar, contou ao Diário que ela e outras colegas receberam a proposta de emprego para o cargo de consultoria de vendas. 

Segundo o relato da ex-funcionária, o suspeito disse que elas trabalhariam com a oferta de financiamento fazendo anúncios através do próprio perfil delas nas redes sociais. O acordo não contemplava um salário fixo, apenas uma comissão pelo desempenho nas vendas. 

As orientações repassadas aos clientes, segundo ela, eram todas previamente dadas por Davi. “Ele enviava para a gente toda a explicação com o texto pronto e todas as dúvidas que surgiam ele já nos enviava a resposta pronta e a gente encaminhava”. 

Ela conta também que com o tempo foi percebendo um crescente número de reclamações dos clientes com a quantidade de reprovações de financiamentos. Ao questionar o proprietário, ela foi informada de que a culpa pela não aprovação era dos próprios clientes, que não estariam repassando as informações corretas para o banco ou não atendiam às ligações.

Ao suspeitar das ações, ela pediu demissão da empresa, mas continuou recebendo mensagens dos clientes, questionando valores extras que estavam sendo cobrados após a assinatura do contrato. Ao tentar buscar informações de Davi, a ex-funcionária não conseguiu mais contato com o ex-chefe. 

“Ele contratou mais ou menos umas seis meninas e fomos lesadas de forma moral. Acabamos levando a culpa por algo que a gente nem sabia. Depois bloqueou todas as funcionárias e sumiu. Usou a gente para assumir toda a responsabilidade”, afirmou.   

No boletim de ocorrência feito na Polícia Militar, outra funcionária relata que também recebeu reclamações dos clientes e que, ao procurar Davi na última sexta (10) para obter explicações, foi informada pelo suspeito via mensagem de voz no WhatsApp de que ele não respondia mais pela empresa desde fevereiro e que portanto não iria se responsabilizar por nada, que iria embora para São Paulo e que “quem ficasse que se responsabilizasse pelos problemas”. 


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