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09/06/2019 às 09h30min - Atualizada em 09/06/2019 às 09h30min

ONG de Uberlândia propõe medidas de proteção à Bacia do Rio Uberabinha

Estudo elaborado pelo Instituto Angá apresenta áreas consideradas de extrema relevância biológica que merecem maior atenção de órgãos públicos

SÍLVIO AZEVEDO
Estudo apresenta áreas consideradas de extrema relevância biológica. | Fotos: Paula Hemsing
O rio Uberabinha é o único manancial hídrico da cidade. Sua bacia hidrográfica possui uma área total de 2 mil km², com dois grandes afluentes: rio das Pedras e ribeirão Bom Jardim. Apesar da importância, os tempos de uso e ocupação do solo causaram mudanças bruscas no seu bioma. Em cinco décadas, mais de 70% de sua vegetação nativa desapareceu levando parte significativa de sua fauna.

Um estudo realizado pelo Instituto Angá mostra a necessidade de ações para proteger a bacia hidrográfica do Uberabinha. Foram dois anos de pesquisas para atualizar dados sobre o uso do solo da bacia, realizar um levantamento de fauna e flora, avaliar alguns impactos sobre o território e sobre recursos hídricos. Os resultados foram coletados até o final de 2015.

De acordo com biólogo e presidente do instituto, Gustavo Malacco, a ideia surgiu em 2011 para mostrar a importância de se preservar a área da Bacia do Rio Uberabinha. “Por Uberlândia ser a cidade referência da região, e nossa organização ter um contato próximo aos recursos hídricos, entendemos que o planejamento territorial e de política pública deve ser feito por bacia hidrográfica, porque acaba com limites de municípios e você passa a atender outros territórios, avaliando esses impactos e as ações de forma integrada, sinérgica”, disse.

O estudo apresenta três áreas consideradas de extrema relevância biológica ao longo da Bacia do Uberabinha e que merecem uma atenção especial por parte dos órgãos públicos. A primeira delas, localizada no alto curso do rio, denominada de “Veredas de Uberaba”, visa a proteção de espécies da fauna e da flora em risco de extinção e do grande sistema de nascentes que abastece o município de Uberlândia. A segunda fica na transição do alto com o médio curso, no Cerrado nativo, e no baixo curso, os últimos remanescentes de Mata Atlântica.

Com os resultados do estudo, diversos aspectos foram encontrados, o que acabou gerando outros dois projetos. Um com o Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais (Fhidro), destinado a apoiar ações relacionadas à melhoria da qualidade e quantidade dos recursos hídricos do estado, e outro com recursos de um fundo internacional para projetos de proteção de ecossistemas críticos, o Critical Ecosystem Partnership Fund (CEPF).

FHIDRO
O plano trabalha com um zoneamento ambiental produtivo, avaliando uso e ocupação de solo, fragilidades ambientais, questão hídrica, por meio das outorgas que existem no território, e outras variáveis que são utilizadas.

“Também estamos realizando um trabalho de apresentar um índice de avaliação da qualidade ambiental a partir de organismos aquáticos. Então nós vamos pegar peixes e organismos invertebrados para avaliar a qualidade ambiental por meio desses organismos aquáticos, além de um plano geral de recuperação de áreas na nossa bacia, locais que poderão ser implementados corredores ecológicos, além de um plano de comunicação social para o repasse dessas informações para a sociedade como um todo”, explicou Gustavo Malacco.

RECURSOS
A preservação da Bacia do Rio Uberabinha tem tamanha importância que o Instituto Angá conseguiu recursos internacionais para a elaboração de um segundo projeto. O Critical Ecosystem Partnership Fund (CEPF) financia estudos que visam a criação de unidades de conservação junto aos órgãos ambientais competentes nas esferas municipais, estaduais e federais.

“Deveriam criar uma unidade de conservação nas nascentes do Rio Uberabinha e do Rio Claro, que é uma área que os estudos que realizamos entre 2013 e 2015 já apontaram que é de extrema importância biológica. Nessa região foram identificadas cerca de 200 espécies de aves, sendo diversas ameaçadas de extinção associadas a campos naturais e, mais recentemente, em 2017, encontramos uma espécie de ave, a bacurau-de-rabo-branco, que é o segundo local de ocorrência no país. O outro foi no Parque Nacional das Emas, em Goiás.”

RISCOS
Com a ocupação do solo pela agricultura na parte acima da área urbana da Bacia do Uberabinha, os riscos encontrados pelo estudo mostram o impacto sobre as suas nascentes por conta da exploração da argila refratária, com a remoção de locais estratégicos para a conservação da biodiversidade e de recarga hídrica para o abastecimento público de Uberlândia.

“Isso é um problema muito sério que ocorre lá. Um impacto que continua com rebaixamento do lençol freático anual, além da invasão biológica de espécies exóticas da flora, especialmente de pinos. Então você tem aqueles campos naturais infestados por conta dessa espécie, sombreando e matando a vegetação natural. Mais próximo a Uberlândia acontecem os impactos mais representativos, como os incêndios e o desmatamento, seja de ordem legal ou ilegal, especialmente nessas áreas de cerrado”, explicou Malacco.

Já na parte baixa da bacia, há impactos causados pela construção de hidrelétricas. O conflito aparece quando você deixa de ter um ambiente de água corrente com espécies adaptadas a esse meio e passa a ter espécies de ambiente de água parada, criando um desequilíbrio ecológico que acaba com algumas espécies, inclusive ameaçadas e migradoras.

Na área urbana, o principal impacto é a degradação das nascentes urbanas por esse processo territorial desordenado em Uberlândia, com o desmatamento para a construção de imóveis e a destinação de fluentes sem tratamento no rio Uberabinha.

RESULTADOS
No último domingo (2), a equipe de comunicação foi a campo colher imagens e depoimentos para um documentário que divulgará os resultados da pesquisa. No levantamento da flora, coordenado pela botânica Paula Hemsing, foi constatado o acréscimo de 39 espécies em relação à primeira pesquisa desenvolvida pela ONG em 2015, no qual foram identificadas um total de 343 diferentes espécies.

Os resultados do relatório serão divulgados em breve pelas redes sociais e site do instituto Angá. Também haverá um trabalho com oficinas de conscientização em escolas e reuniões setoriais com entidades. “Necessitamos dialogar para quebrar alguma resistência do setor produtivo, apresentar de forma pública nos colegiados ambientais, por exemplo”, finalizou Gustavo Malacco.

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