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13/05/2019 às 08h30min - Atualizada em 13/05/2019 às 11h30min

Comércio oferece brindes para conseguir moedas de clientes em Uberlândia

39% dos estabelecimentos não têm troco suficiente para os clientes, segundo pesquisa do Banco Central

MARIELY DALMÔNICA
Levantamento nacional mostrou que 65% das pessoas fazem entesouramento de moedas dentro de casa | Foto: Mariely Dalmônica
Sabe aquelas moedas que você está guardando em um cofrinho ou deixando no porta-luvas do carro? Elas podem estar fazendo falta na padaria da esquina, no mercado do seu bairro e até mesmo no caixa do barzinho onde você se reúne com os amigos no fim de semana. Segundo uma pesquisa realizada pelo Banco Central do Brasil no ano passado, 39% dos estabelecimentos não têm troco suficiente em moedas para entregar aos clientes. Mais da metade procura trocar notas por moedas em estabelecimentos vizinhos, ou pensa em soluções criativas para não perder os centavos de vista. Assim ocorre com alguns estabelecimentos de Uberlânda que oferecem até brindes pela troca aos clientes.

A empresária Lyllie Mameri, proprietária de um bar no Centro de Uberlândia - Banca -, desde o ano passado teve a ideia de presentear os clientes com uma bebida conhecida entre os consumidores, o frozen, em troca de moedas. Ela decidiu criar a promoção junto com o sócio, porque tinham muita dificuldade em encontrar troco, o que segundo Mameri, atrapalha as vendas diariamente.

“Conseguir troco em moeda é o grande terror da nossa vida. A gente propõe que a pessoa leve R$ 50 em moeda, e em troca ela ganha a bebida de R$ 8”, disse Mameri, que pretende aumentar a divulgação da promoção nas mídias sociais para que mais clientes conheçam a novidade e façam a troca.

Segundo Leocádio Rezende Neto, sócio de Mameri, a promoção ainda não está resolvendo totalmente o problema da falta de moedas no troco. “O fluxo do caixa é grande e para atender a demanda precisaríamos de pelo menos cinco vezes mais moedas do que conseguimos reunir com a promoção”, disse.

Sérgio Augusto Silva, proprietário da Via Sabor, padaria que fica na região sul da cidade, também lançou uma promoção para tentar atrair mais clientes com moedas para o estabelecimento. A campanha “Emagreça o seu porquinho” já existe há quase dez anos, e em troca dos centavos, Silva presenteia os consumidores com mimos. “Estipulei que deve ser acima de R$ 100 para ganhar um brinde. Geralmente damos um bolo, uma rosca, um pacote de biscoitos ou uma caixa de bombom. Acaba que as pessoas estão poupando mais para ganhar, isso já virou uma rotina entre meus clientes”, afirmou. Mesmo com essa promoção, o caixa da padaria fica sem moeda de vez em quando. A solução, segundo o proprietário, é arredondar o preço.

O empresário disse que a campanha é positiva e ajuda na circulação das moedas, mas alguns oportunistas também apareceram nesses dez anos. “Tem pessoas querendo vender moedas. Já me ligaram e queriam que eu pagasse em troca 10% a mais do valor total”, conta Silva.

A padaria tem clientes bem fiéis que abastecem o caixa com moedas constantemente, como é o caso da aposentada Sônia Maria Silva, que leva as moedas colhidas no ofertório da igreja para trocar por notas. “Eu também me sinto beneficiada, porque fica muito difícil depositar esse tanto de moeda. Além da padaria, também ajudo um restaurante e um moço que tem uma lojinha de parafusos e sempre precisa de moedas de R$ 0,05 e R$ 0,10”, disse.
 
 

Cofrinho foi suficiente para pagar geladeira e viagem de consumidores | Foto: Mariely Dalmônica
 
Quando Alankardeck Flávio da Silva era proprietário de uma sorveteria, há cerca de nove anos, a falta de moedas não era um problema. Diferente do que está acontecendo hoje nos estabelecimentos, Silva era quem trocava as moedas por nota para ajudar os vizinhos que que também eram donos de outros negócios. “Entrava muita moeda, o que eu não usava no troco eu ia colocando em um balde. Quando o balde encheu, consegui trocar e comprar uma geladeira”, lembra.

Atualmente, Silva trabalha como corretor de imóveis e parou de juntar moedas. Segundo ele, guardá-las hoje em dia não é tão fácil como antigamente. “Essa semana eu precisei trocar R$ 50 e ninguém tinha, todo mundo usa o dinheiro de ‘plástico’ [cartão de crédito e débito]”, afirmou.

Ainda segundo a pesquisa realizada pelo Banco Central, 54% dos entrevistados têm o hábito de carregar moedas na carteira para facilitar o troco e 30% das pessoas que responderam à pesquisa perderam o costume de guardar moedas, seja em casa, no carro ou na bolsa.

O levantamento mostrou que 65% das pessoas fazem entesouramento de moedas dentro de casa, seja em potes, cofrinhos ou gavetas, mas só 12% deles aguentam esperar um ano para gastar o dinheiro. O intuito da maioria (56% dos entrevistados) é juntar o dinheiro para fazer compras, pagamentos e até mesmo viagens, como fez a fotógrafa Tânia Guimarães. Em 2012, Guimarães passou o ano todo juntando moedas, no fim conseguiu economizar R$ 1.678 só no cofrinho, o que financiou a viagem para a praia com a família. “Lembro até hoje. Eu levei para o banco e troquei lá. Pagamos o pedágio em moedas e gastamos o restante na praia”, afirmou.

No primeiro mês que a fotógrafa decidiu poupar e guardar as moedas em lugar especifico, ela juntou R$ 40. “Meu marido logo começou a juntar também. A gente não dá muito valor às moedas, mas é um dinheirão. Eu já paguei muita conta com moeda e já troquei em muita coisa”, disse. Ela também costuma trocar os centavos em lanchonetes de fast food, que dão um lanche em troca de um valor específico.

Guimarães disse que a maioria das moedas que junta em latas dentro de casa vem de troco de supermercado. “Eu não deixo passar nenhum centavo. Se faltar dinheiro eles não deixam a gente ficar devendo nem R$, 0,05. Então eu sempre falo: cadê meu troco?”.

No fim deste ano, a fotógrafa, que também coleciona algumas moedas, como as distribuídas na época dos Jogos Olímpicos do Brasil, espera ter juntado quase R$ 2 mil em moedas. Ela já tem uma ideia do que pretende fazer com o valor juntado nos 365 dias do ano. “Quero dividir com os netos”, diz a avó, que se prepara para a chegada de um segundo netinho ainda neste mês.

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