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11/03/2019 às 08h00min - Atualizada em 11/03/2019 às 08h00min

Especialistas de Uberlândia comentam perigos e vantagens das redes sociais no ambiente profissional

Falta de bom senso pode levar a casos de demissões e problemas pessoais; atendente conseguiu emprego pelo Instagram

NÚBIA MOTA
Laíse Vieira diz que hoje é tudo em excesso nas redes sociais. | Foto: Núbia Mota
As redes sociais são uma vitrine e podem ajudar a alavancar a vida profissional do internauta ou torná-lo mais popular, mas também se tornam vidraça. Se faltar o bom senso, o vacilo pode levar a casos de demissões e problemas pessoais. O Diário de Uberlândia conversou com um advogado trabalhista e uma especialista em mídias sociais para esclarecer o assunto. 

Após o post com um vídeo pornográfico divulgado por Jair Bolsonaro em sua conta no Twitter, criticada tanto por apoiadores como por críticos do Presidente da República, levantou-se a discussão sobre o que se deve ou não colocar em uma rede social. Hoje, profissionais de Recursos Humanos e empregadores têm observado os perfis dos candidatos às vagas de emprego e mesmo quem é chefe, deve tomar cuidado para não manchar o nome da empresa.

O advogado trabalhista e presidente da Comissão de Direito e Processo do Trabalho da Ordem dos Advogados de Uberlândia (OAB), André Carneiro, explica que, em via de regra, os atos do funcionário fora do local de trabalho não podem gerar dispensa por justa causa, mas existem exceções.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê condutas que podem levar a dispensa do empregado, como mal procedimento, violação dos segredos da empresa, atos lesivos à honra do empregador, como por exemplo, críticas ao local de trabalho ou produtos.

Mas é importante também observar as normas e código de ética e conduta da empresa que podem trazer, por exemplo, regras contra atitudes de discriminação e preconceito. Outra atitude cabível de justa causa é quando o funcionário apresenta atestado médico e, no mesmo período, faz publicação em festas e viagens, gerando uma quebra de confiança.

“Todo usuário coloca no perfil o local de trabalho e se ele faz uma crítica reprovável perante a sociedade e que viole os valores que a empresa preza, pode vir a gerar uma dispensa por justa causa. Um exemplo foi aquela clínica que estava preparando o corpo do cantor Cristiano Araújo para o velório e alguns funcionários deixaram vazar imagens daquela situação”, disse o advogado.

Ainda de acordo com André Carneiro, nada impede que empresa dispense o funcionário sem justificativa, caso reprove alguma atitude no meio digital. É claro que, nesse caso, o empregado vai receber todos os seus direitos, como 13º, aviso prévio, férias proporcionais e a multa rescisória, mas o profissional pode ficar com a imagem comprometida quando for procurar uma nova oportunidade no mercado de trabalho.

Sempre que vai contratar algum estagiário, a consultora em etiqueta Bruna Barcelos visita os perfis sociais do candidato, para ver se ele se enquadra nos padrões necessários para ocupar a vaga.  Por isso, ela alerta para os cuidados que as pessoas precisam ter, caso estejam à procura de emprego e mesmo depois da admissão.

Muito cuidado com memes como ‘odeio segunda-feira’, ou ‘odeio o meu chefe”, afirmou. Já para a vida pessoal, a consultora de etiqueta disse que alguns assuntos também precisam ser evitados. “É aquela velha história, evitar falar de  time de futebol,  de religião, de opção sexual, de política. Você pode até ter a sua opinião, mas não precisa brigar. A primeira coisa é o respeito”, afirmou Bruna.

Outra dica da profissional é na utilização do WhatsApp como ferramenta de trabalho, principalmente em relação às mensagens de voz, que não devem passar de 30 segundos.

“E antes de mandar áudio, é bom perguntar, por texto, se a pessoa pode ouvir. Passou de 30 segundos, é melhor fazer uma ligação.  É mais educado. Outro cuidado é em relação a grupos. Pergunte primeiro se a pessoa quer participar antes de sair adicionando todo mundo. Quando  começar uma conversa, fale bom dia, boa tarde, ou boa noite e sempre responda a mensagem. Se não puder naquele momento, utilize os recursos para desativar o sinal de que a mensagem foi lida.  Evite também caixa alta, porque dá impressão que você está gritando com a pessoa”, disse a consultora de etiqueta.

Para a analista de marketing e professora universitária, especialista em mídias digitais, Laíse Vieira, é preciso sempre evitar os excessos. Se a pessoa posta apenas fotos em festa, por exemplo, mas não quer passar uma imagem de baladeira, deve encontrar o equilíbrio nas publicações.

 
“Hoje é tudo em excesso. É gente postando foto de balada demais, de comida demais, fotos sensuais demais, discussões políticas demais. Eu sempre falo para a pessoa se perguntar. Se eu postar isso, o que vai dizer sobre mim? Vai me trazer coisas boas ou ruins? Eu não preciso sair postando tudo o que eu faço, até mesmo por questões de segurança. As pessoas postam onde estão, onde vão, onde malham, onde os filhos estudam. É um risco”, afirmou a especialista.

Sobre o episódio do último dia 5, da postagem de Bolsonaro de um vídeo pornográfico no Twitter, Laíse acredita que falta ao presidente o acompanhamento de um assessor de imprensa e um relações públicas.

“A rede social é dele, mas ele é presidente de um país e não pode sair postando qualquer coisa. Não tem que ele que gerencia as redes sociais. Dá uma descredibilidade. Precisa de uma assessoria de comunicação que o ajude, criando boas pautas e se preocupado com estética, porque ele mesmo sai postando um monte de coisa, nada a ver, e mancha a imagem dele. Ele vira motivo de piada, porque tem a galera da oposição de olho, que esquece que tiveram presidentes da esquerda que cometeram gafes muito semelhantes a dele”, afirmou a analista de marketing.

Ainda segunda a especialista em redes sociais, ainda falta maturidade para o brasileiro quando o assunto é o mundo digital. “Aqui é muito diferente de outros países. Aqui se faz piadinha com tudo. Por exemplo, a tragédia de Brumadinho. As pessoas começaram a fazer piadas, comemorando a morte de mais de 300 pessoas, porque foi um colégio eleitoral do Bolsonaro. Comemoraram a morte do neto do Lula. O que uma criança de 7 anos tem a ver com o cenário político do Brasil? A internet veio para transformar o mundo, mas deu voz até demais para as pessoas”, disse Laíse.
 

Atendente pede chance pelo Instagram e consegue emprego

Jovânia Cristina Costa Santos, de 28 anos, estava desempregada há quase 1 ano e meio e como queria muito uma oportunidade de voltar ao mercado de trabalho, depois de duas gravidezes consecutivas, usou o Instagram para pedir uma oportunidade na Algar Tech, em uma postagem da empresa.  

Ela foi contratada há 2 meses para o atendimento, mas em uma semana, já recebeu a chance de ir para a área de back office, também chamado de retaguarda, um departamento que faz serviços não diretamente a um cliente.


Jovânia 
usou o Instagram para pedir uma oportunidade na Algar Tech. | Foto: Núbia Mota

“Eu sigo sempre a empresa, meu sogro trabalha lá há mais de 35 anos, meu esposo também. Eu já tinha passado pelo processo seletivo, mas eles não tinham dado resposta, como eu estava muito ansiosa para trabalhar, Deus me deu clique de chamar a atenção deles dessa forma. Quando eu quero alguma coisa, eu dou meus pulos”, disse Jovânia.

Mãe de 3 filhos, de 11 e 2 anos e um bebê de 7 meses, Jovânia conta que sempre tem cuidado com suas redes sociais, com o que posta e sobretudo em relação a imagem das crianças. Como foi vítima de uma tentativa de sequestro na porta da escola, quando tinha 8 anos, ela evita, por exemplo, postar fotos dos filhos de uniforme.

“Meu perfil é muito família, falo coisas de Deus, porque eu sou assim. A gente não pode ser falsa também, mas tem que ter cuidado. Já fui estagiária em um hospital e eles olhavam o perfil quando iam contratar a pessoa. Se fosse uma enfermeira, por exemplo, e se fizesse muitas postagens, eles observavam, porque é uma área que precisa de muita atenção”, afirmou ainda a profissional.

A mensagem de Jovânia no Instagram foi lida pela analista de marketing da Algar Tech, Laíse Vieira e logo chamou a atenção. “Ela fez um comentário muito criativo, pedindo um emprego.  Eu entrei no Instagram dela e vi que ela é mãe, estava sem trabalhar e eu entendi as necessidades delas”, disse Laíse.

De acordo com a analista de marketing, várias outras empresas olham o que os candidatos postam antes de admiti-los, tanto que nos processos seletivos pedem os perfis pessoais.
“Às vezes você chega numa entrevista e se vende com um comportamento totalmente diferente na internet, a reabilitadora vai comprovar isso nas redes sociais. Antes diziam diga-me com quem antes que te direi quem é ou você é o que você come.  Hoje, o que você posta nas redes sociais diz muito sobre você. Não quer diz que não pode postar fotos com os amigos, na balada, bebendo. Mas tudo na vida precisa de equilíbrio”, afirmou Laíse.

Para a profissional, atualmente, não dá para desvincular a vida pessoal da profissional totalmente, porque uma pessoa é a mesma onde quer que esteja. “Por onde eu vou, eu sou a Laíse, uma funcionária da Algar Tech, professora da Esamc. Então imagina eu, como professora, sou referência para os alunos. Eu tenho que ter cuidado. Não posso sair postando qualquer coisa, porque pode assustar, pode criar uma imagem ruim”, disse.

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