Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
09/03/2019 às 09h00min - Atualizada em 09/03/2019 às 09h00min

Vereadores querem convocar secretária de Governo de Uberlândia

Pedido foi motivado após post de Ana Paula, que também é secretária de Comunicação, questionando credibilidade de reportagem do Diário

WALACE TORRES
Requerimento foi apresentado pelo vereador Thiago Fernandes (PRP) e já teve a adesão de outros sete vereadores até ontem à tarde. | Foto: Divulgação
A Câmara Municipal de Uberlândia irá colocar em votação na sessão da próxima segunda-feira (11) um requerimento apresentado ontem pedindo a convocação da secretária de Governo e Comunicação, Ana Paula Procópio Junqueira, para prestar esclarecimentos sobre o teor de publicação feita em sua rede social na internet, no dia 7 de março, contrapondo informações veiculadas em reportagem do jornal Diário de Uberlândia, no mesmo dia, a respeito da falta de alguns itens na merenda escolar servida aos alunos da rede pública municipal.

Na postagem, a secretária insinua que o jornal teria faltado com a verdade na publicação da reportagem. “Mentira tem perna curta! Escolas citadas na reportagem do Jornal Diário de Uberlândia!”, diz Ana Paula em post feito no dia 7 junto com fotos mostrando prateleiras com produtos alimentícios em escolas citadas na reportagem.

A reportagem trouxe relatos de pessoas ligadas a diferentes escolas – pais de alunos e servidores - que apontaram situações semelhantes, especialmente em relação à falta de frutas e verduras na merenda.

Na Escola Municipal Odilon Custódio Pereira, no bairro Seringueiras, por exemplo, uma das fontes disse que não havia carnes e nem legumes e que até o sal e alho estavam em falta para temperar os alimentos. O açafrão utilizado no tempero do macarrão foi providenciado por funcionários da escola.

Já na Escola Municipal Hilda Leão Carneiro, no Morumbi, um pai disse que as filhas reclamaram de estar comendo apenas arroz com feijão, sendo que num dos dias o prato foi mingau. A reportagem ainda conversou com pessoas ligadas a  escolas nos bairros Santa Mônica, Shopping Park e Esperança que relataram problemas semelhantes.


Secretária publicou post no Facebook contestando a declaração de pais e servidores à reportagem 

Ontem, diante do questionamento feito pela secretária de Governo, o Diário ouviu novamente algumas pessoas que haviam dado declarações no início da semana para falar sobre a situação. Também recebeu mensagens de pais e funcionários de escolas que contrastam com a declaração postada pela secretária.

“Ontem [quinta-feira] chegou macarrão, arroz, feijão e bolacha [na escola]. Depois que a matéria saiu, chegaram mulheres do Pmae (Programa Municipal de Alimentação Escolar), mandaram arrumar o depósito [antes]”, disse ontem uma fonte ouvida também na reportagem do dia 7. “Ainda não chegou verdura e nem fruta este ano”, completou.

Entre os comentários que acompanham o post feito pela secretária de Governo em sua rede social, ela ainda volta ao assunto para reforçar que não havia problemas desde o início do ano letivo.

“As merendas não foram para as escolas depois da reclamação. As merendas chegaram nas escolas antes dos alunos. Hoje, a merenda chegou no FB para acabar com um mimimi de inverdades”, postou Ana Paula.

O pai de duas filhas que relataram ter comido apenas arroz com feijão na merenda também voltou a falar sobre o assunto. “Ontem [quinta] minha menina chegou e disse que melhorou a merenda”, contou. Ele disse que antes da reportagem a situação realmente era outra na escola e conta que se sentiu revoltado com o post feito pela secretária, alegando que a situação nas escolas estava normalizada antes.

“É péssimo isso, ela [a secretária] tem que sair do gabinete e andar nas escolas pra ver o que o povo está passando [...] O prefeito falou que ia fazer a cidade sorrir e cadê? Está chorando”, disse.

Numa mensagem enviada por uma funcionária de escola à reportagem, ela diz: “Hj minha diretora comprou leite”. Outra professora da rede municipal diz também por mensagem enviada à reportagem que a direção da escola e professores tentam amenizar a situação, pedindo alimento aos pais.

“Queriam que desse bolacha... Absurdo. Eram bebês que ainda estavam aprendendo a comer alimento sólido....Aí as professoras pediam para os pais levarem. Quando o pai não tinha condição, outros pais ajudavam”, relata. “Aquela imagem de saladas, frutas em abundância não existe”, diz em outro post.
 
Requerimento precisa de 14 votos
 
O requerimento pedindo a convocação da secretária de Governo para prestar esclarecimentos sobre sua postagem em rede social, bem como a problemática envolvendo a merenda escolar, será colocado em votação na segunda-feira, e precisa de 14 votos para que seja aprovado. Caso o pedido seja aceito, será a primeira vez que Ana Paula Junqueira é convocada a prestar esclarecimentos no Legislativo Municipal. O requerimento foi apresentado pelo vereador Thiago Fernandes (PRP) e já teve a adesão de outros sete vereadores até ontem à tarde.

Thiago Fernandes disse que após a publicação da reportagem pelo Diário, alguns vereadores também utilizaram as redes sociais para receber informações da população sobre a merenda escolar.

“Fiquei assustado com a grande quantidade de pessoas alegando falta de merenda escolar em outras escolas, por isso queremos entender a gravidade do assunto”, disse. “Ela [a secretária de Governo] não só chama a matéria de mentirosa como diz que os alimentos estão ali desde 5 de fevereiro. Se ela prestou falsas informações, se faltou com a verdade, aí iremos acioná-la judicialmente”.

O vereador Adriano Zago (MDB) disse que lamenta a atitude adotada pela secretária de Governo.

“O Diário cumpriu uma função muito importante nesse processo. Não é o jornal que está faltando com a verdade e sim o Poder Executivo. Tentam criar outra narrativa, quando questionados, para encobrir o que veio à tona. Por que tomaram providências só depois da reportagem?”, disse, ressaltando que os vereadores irão fazer uma fiscalização em todas as escolas para verificar como está a situação da merenda.

“Tentaram atingir o veículo de comunicação, mas esquece que tem pais, servidores que não podem aparecer porque são perseguidos”, completou.
 
Nota da Prefeitura
 
A Prefeitura de Uberlândia reitera mais uma vez que todas as 168 escolas municipais iniciaram o ano letivo abastecidas de mantimentos, tais como arroz, feijão, leite, ovos e carne bovina. As entregas destes alimentícios obedecem a um cronograma elaborado e repassado mensalmente aos diretores.

O Município ressalta também que um chamamento público junto a agricultores familiares para a aquisição de produtos de hortifrúti foi finalizado nos últimos dias, o que garante a oferta semanal de 24 tipos de frutas, verduras e legumes até o fim do ano. Na próxima segunda-feira (11), as unidades começarão a receber os itens.

Outros alimentos, como carne suína e peito de frango, estão em licitação e devem ser incorporados à merenda assim que o processo for concluído. Por fim, reforça ainda que todo o cardápio oferecido é montado por uma equipe especializada do Programa Municipal de Alimentação Escolar e segue integralmente as resoluções federais de garantia à alimentação saudável.

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90