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25/11/2018 às 07h10min - Atualizada em 25/11/2018 às 07h10min

A moda da tatuagem

Setor apresentou crescimento de quase 25% entre 2016 e 2017, segundo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

IGOR MARTINS
O tatuador Leandro Santos trabalha com o que mais gosta há cinco anos | Foto: Rodney Tatoo/Divulgação
As tatuagens nunca estiveram tão na moda como nos tempos atuais. É praticamente impossível ir ao supermercado, ao banco ou à padaria e não avistar alguma pessoa com um desenho tatuado no corpo. Tendência principalmente entre jovens e adultos, as tattoos têm se tornado algo comum na sociedade, e cada vez mais gente adere a elas, seja pelo estilo ou pela representatividade daquela pintura na vida da pessoa.

Mal vistas por alguns, adoradas por outros. A verdade é que as tatuagens são um tema de amplas discussões e debates. Para Lúcio Crosara Petronzio, o Timba, tatuador em Uberlândia há 34 anos, a realidade das pinturas é completamente diferente desde que começou a tatuar profissionalmente. O uberlandense de 48 anos afirmou que quando iniciou sua carreira o preconceito era muito maior com pessoas tatuadas. “O pessoal achava que gente com tatuagem era malandro”, disse.

Uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostrou que o setor de tatuagens teve um crescimento de 24,1% entre os anos de 2016 e 2017. A busca ainda comprovou que os negócios e empreendimentos de tattoos e bodypiercing no Brasil passaram de 9.151 para 11.380. Estes números, de acordo com Timba, mostram que a população procura cada vez mais os estúdios para pintarem seus corpos, o que também aumenta o número de novos tatuadores.

Por outro lado, o uberlandense acredita que grande parte deste crescimento se deve à “modinha”, como ele mesmo disse, que é fazer uma tatuagem ou se tornar um tatuador. “Hoje, uma pessoa que desenha bem pode se tornar um tatuador. Para mim, isso não funciona. Tatuagem é para quem ama e gosta, tem que estar no sangue”.

O uberlandense que faz cerca de 25 tattoos ao mês falou ainda sobre o futuro cenário das tatuagens no mercado. “Cada vez mais gente me procura para tatuar. O mercado tem crescido. Uma dica que eu posso dar a quem quer fazer uma tattoo é pensar bem antes de fazer. Sua tatuagem é para a vida toda. É muito difícil de tirar”, conclui Timba. 

No mercado há cinco anos, Leandro Santos é outro tatuador que notou um grande crescimento nesse mercado nos últimos anos. Apaixonado pelas tattoos, o mineiro de 33 anos viu no setor uma oportunidade de trabalhar fazendo o que mais gosta: desenhar. “Quando eu comecei [a tatuar], a procura já era considerável, mas eu percebi que ela tem aumentado cada vez mais. Hoje em dia eu tatuo muito mais do que há cinco anos”, disse.

Natural de Capinópolis (MG), Santos ainda afirmou que o mercado na região do Triângulo Mineiro é exemplo e referência para o cenário nacional. “Temos muitos tatuadores profissionais atuando na região do Triângulo Mineiro. Em Uberaba, por exemplo, tem um dos maiores fabricantes de material para tatuagem do mundo todo”, diz.


Timba diz que o preconceito reduziu bastante desde que começou a tatuar
Foto: Divulgação

ARREPENDIMENTO
AFINAL, AS TATTOOS SÃO REMOVÍVEIS?


Pense você desembolsar uma alta quantia de dinheiro para pintar o seu corpo com alguma imagem e se arrepender futuramente. O avanço da tecnologia permitiu aos tatuados arrependidos maneiras de retirarem suas tattoos por meio da remoção a laser. O problema é que geralmente o processo custa mais do que a própria tatuagem, além de ser muito mais dolorido, de acordo com especialistas.

Quando se faz uma tattoo, a agulha utilizada atravessa uma camada da pele e a tinta é injetada na derme. A tinta inserida é reconhecida pelas células de defesa, os glóbulos brancos, que tentam a todo custo retirar aquela tatuagem do corpo humano, mas como a quantidade de tinta é muito grande, a expulsão não acontece.

O laser utilizado no processo de remoção da tatuagem consegue quebrar a tinta em partículas muito pequenas, tornando a ação possível e expelindo o pigmento do corpo.

MANIFESTAÇÃO CULTURAL


Com 21 tatuagens espalhadas pelas pernas, braços, peito e mãos, o fotógrafo e empresário Felipe Flores Alexandre brinca que após as primeiras tattoos, as marcas de tinta viram um vício na vida da pessoa. Influenciado pelo pai, basquete e rap, o uberlandense opinou sobre o preconceito existente com pessoas tatuadas no Brasil.

“Eu vejo isso [o preconceito] como uma postura retrógrada. Lá nos anos 50, 60, era normal. Falo ainda do meu pai, que é militar, tem um trabalho bem conservador, mas sempre teve tatuagem”.

Flores acredita que o mercado de trabalho também atua de maneira preconceituosa em alguns casos. Para ele, a tatuagem é uma expressão e manifestação cultural, e não um parâmetro para medir competência profissional ou caráter. “Tem muita gente tatuada que é extremamente competente, caridosa e tranquila, que gostam de ambiente familiar e tudo mais”.

O empresário e fotógrafo Felipe Flores se manifesta culturalmente por meio de suas 21 tattoos | Foto: Arquivo pessoal



QUEBRA DE RESISTÊNCIA
MERCADO TEM PERMITIDO CADA VEZ MAIS TATUADOS


Diretora e fundadora de uma escola especializada em cursos técnicos e profissionalizantes em Uberlândia, Creusa Batista acredita que a inserção de pessoas tatuadas no mercado de trabalho tem se tornado cada vez mais acessível. De acordo com ela, a diversidade cultural aumentou nos últimos anos e isto fez com que o mercado se adaptasse ao surgimento de novas culturas no ambiente corporativo.

Por outro lado, a mineira de 68 anos acredita que mesmo assim, em determinados empreendimentos, a clientela nem sempre reage bem às pessoas com tattoos. “Se você tem uma loja mais jovem, focada em jovens e adultos, é algo completamente normal. Se você tem um empreendimento, uma financeira que financia veículos de alto valor, por exemplo, o cliente não absorve isto bem”, disse.

Diretora regional da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), Gleide Starling afirmou que o mercado já alcançou um alto nível de adaptação no que diz respeito à contratação de pessoas tatuadas. Para ela, os empregadores têm se tornado cada vez mais abertos a esse tipo de situação. “A tatuagem hoje é algo comum. É claro que os jovens têm mais do que o pessoal adulto. A tendência é que cada vez mais pessoas tatuadas entrem no mercado de trabalho sem qualquer tipo de restrição”, disse.

Por outro lado, Starling, que também é gestora do Sistema Nacional de Emprego (Sine) em Uberlândia, alerta para possíveis problemas em certas áreas no mercado. Para ela, muitas empresas acabam tendo um pé atrás com pessoas com tatuagens que cobrem todo o pescoço ou o braço, assim como o excesso de piercings visíveis. “Se a pessoa tem uma tatuagem na perna ou no antebraço, ela pode usar roupas pra cobrir. Mas se o empregador observar um excesso de tatuagens visíveis, isso pode acabar gerando um desconforto”, afirmou ao Diário.
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