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16/11/2018 às 19h01min - Atualizada em 16/11/2018 às 19h01min

Professor condenado foge e amedronta a família

Apolônio Abadio do Carmo abusou da filha por 12 anos e está desaparecido

VINÍCIUS LEMOS
Foto: Divulgação
Foragido da Justiça desde o início de outubro, o professor universitário Apolônio Abadio do Carmo é considerado uma ameaça pela sua ex-mulher e filha. Ele foi condenado em segunda instância a 20 anos de prisão em regime fechado por estuprar a filha entre os anos de 2001 e 2013, contudo, após o período de recursos da sentença do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), o professor não foi mais encontrado. Ele chegou a ficar preso preventivamente por um período próximo de 100 dias no ano de 2016.

O processo começou em 2014, após as denúncias da vítima, então com 21 anos. Ela contou que era estuprada desde os 9 anos de idade e chegou a gravar uma ligação em que questionava o pai sobre os motivos dos abusos, além de trocar e-mails a respeito do assunto com ele. Provas que foram levadas em juízo, além dos relatos da jovem. 

Carmo foi condenado em 2017 pela terceira vara criminal em Uberlândia. Em agosto deste ano, o julgamento em segunda instância manteve a condenação pelos crimes de estupro e estupro de vulnerável, uma vez que os abusos começaram quando a vítima ainda era uma criança.

Apesar das provas, a primeira tese da defesa era de inocência, o que mudou no segundo julgamento, quando a alegação foi de que as relações sexuais aconteceram a partir dos 14 anos da jovem, de forma consensual. Após um período de cerca de um mês e meio dessa condenação pelos desembargadores mineiros e alguns recursos julgados, Apolônio do Carmo não se apresentou para cumprimento da pena.

Foram feitas buscas em um endereço do sentenciado na zona rural de Iraí de Minas e também em endereços na cidade de Uberlândia. Como ele não foi encontrado, consta em aberto o mandado de prisão contra o professor universitário.

Para o advogado Moacir Henrique Júnior, que é assistente da acusação e representante legal da família, a fuga de Apolônio Abadio do Carmo já era esperada. Ele teria apenas ganhado tempo após o julgamento no TJMG. “Nós afirmávamos que ele iria fugir. Demorou um ano para que fosse julgado nosso pedido de nova prisão. Como nesse período, o Apolônio não fugiu, os desembargadores o mantiveram em liberdade para recorrer da primeira sentença. Mas depois dos recursos ele fugiu, ainda que Tribunal tenha julgado rapidamente os novos recursos”, afirmou Moacir Júnior. O Ministério Público Estadual também estava de acordo com a detenção do réu antes do julgamento do Tribunal de Justiça.

Agora, a família teme que ele tente qualquer tipo de violência contra a ex-mulher e a filha antes que seja preso e cumpra a sentença. Elas hoje não moram mais em Uberlândia e não estão juntas para aumentar a própria segurança. Ele, segundo o advogado, já teria feito ameaças contra ambas. “Tenho medo de ele cumprir as ameaças de morte. Isso é uma inversão de valores. Quem está preso e não pode levar vida normal são as próprias vítimas, que deixam família e amigos para trás e não fazem novos por temor”, afirmou.

Apolônio Abadio do Carmo é formado em educação física e pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e além de ter feito parte do corpo docente da instituição, trabalhou como assessor da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, entre 2002 e 2004, e no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), junto ao Ministério do Esporte, na Secretaria Nacional de Desenvolvimento do Esporte e Lazer, entre 2004 e 2006. 

O Diário de Uberlândia tentou contato com o advogado de defesa do sentenciado, em Belo Horizonte, mas quando a produção se identificou ao escritório, a ligação foi desligada. Demais contatos não obtiveram sucesso.

OS ABUSOS
Os estupros começaram em Uberlândia, segundo relatado em juízo, e aconteciam em viagens entre pai e filha, como uma a Florianópolis, na qual um quarto com apenas uma cama de casal foi alugado, segundo provas anexadas no processo. Nessas ocasiões, a mãe nunca estava, uma vez que o trabalho não permitia. Os abusos incluíam conjunção carnal e outras práticas sexuais como masturbação e toque em regiões íntimas da vítima.

Segundo o relatado, Apolônio do Carmo mantinha a filha sob pressão para que ela não o entregasse. Além de ameaças à jovem, Carmo fazia promessas de que mataria a mãe dela e depois se suicidaria, deixando a criança sozinha. Ele também manuseava armas como forma de coação à jovem.

Apenas aos 21 anos, então, a vítima conseguiu contar à mãe o que se passou durante os 12 anos de abuso após um período de tratamento com equipe médica e psicólogos. Ela chegou a gravar ligações por conta própria e mandar e-mail para o pai perguntando o porquê dele a ter estuprado por tanto tempo. Ele teria dito que aquilo era algo que não teria explicação e que não era assunto para ser conversado por telefone ou e-mail. 

“Durante o julgamento, Apolônio não negou o fato sob a justificativa de que a filha vivia em uma fantasia. Ele dizia usar uma técnica de entrar na fantasia da filha para tentar descobrir tendências homossexuais dela, coisa que nunca ficou provada [o fato de ela ser homossexual]”, afirmou o advogado Moacir Henrique Júnior. 
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