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07/01/2018 às 05h14min - Atualizada em 07/01/2018 às 05h14min

'Vamos colocar a região no mapa do mundo'

Paulo Piau, prefeito de Uberaba, encabeça projeto de Logística Integrada e Agência Regional de Desenvolvimento

WALACE TORRES | EDITOR
Piau: a oportunidade de ter um aeroporto estruturado na região é única / Foto: André Santos/Prefeitura de Uberaba

 

Na última semana, um vídeo que circulou pelas redes sociais abordando sobre o projeto da Logística Integrada da União dos Vales (Intervales) resgatou o antigo sentimento de rivalidade entre as duas maiores cidades do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. O que até então era um ciúme superado entre Uberlândia e Uberaba, voltou à tona com a divulgação do projeto Intervales, que tem como principal plataforma a implantação de um Aeroporto Internacional de Cargas e Passageiros nos limites do município de Uberaba. A outorga para iniciar o estudo de viabilidade já foi assinada pela Secretaria Nacional de Aviação Civil.

Se por um lado o projeto despertou desconforto no meio político, pelo lado empresarial abriu os olhos de investidores diante do potencial de criação de uma logística rodo-ferro-aeroviária integrada na região.

Para o prefeito de Uberaba, Paulo Piau, que tem feito a ponte entre o meio político e empresarial, trata-se de uma oportunidade única de transformar a região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba no maior polo logístico do Brasil e o mais importante da América Latina. Em entrevista ao Diário do Comércio, Piau afirma que um estudo de viabilidade técnica é que irá definir qual o melhor local para a implantação do aeroporto internacional. Ele defende a união dos municípios e a criação da Agência Regional de Desenvolvimento Econômico, já aprovada em encontro do G-70 – grupo que reúne os municípios da macrorregião -, como estratégicos para atrair novos investimentos, sobretudo para as pequenas cidades.

 

O que é esses projeto do Intervales?

É o ponto de logística brasileiro mais importante hoje sem dúvida nenhuma, algumas pessoas enxergam esse espaço entre Uberaba e Uberlândia como o ponto mais importante da América Latina. Temos que aproveitá-lo bem, ele corta o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba através da BR-050. Já temos lá a VLI, que é um terminal de transbordo de açúcar e grãos, o maior do mundo nesse gênero, que leva os produtos para o porto da Vale em Santos. Sobre o projeto, Uberlândia e Uberaba já sonharam muito com o chamado Aeroporto Internacional de Cargas e Passageiros. Minas Gerais só tem um aeroporto bem estruturado que é Confins. Então temos que aproveitar a oportunidade de fincar aqui na região o segundo aeroporto estruturado do Estado. Se não tivermos essa preocupação, o sul de Goiás vai ter – e Goiás tem sido um estado bem agressivo -, ou o Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul ou então o norte de São Paulo. E se cravarem um aeroporto bem estruturado num raio de 500 km, não há espaço para outro. A oportunidade é única. Sei que o vídeo da Intervales criou um certo reboliço, mas nós temos que sentar, não adianta querer competir, querer puxar para Uberaba ou Uberlândia, temos que colocar o Triângulo e o Alto Parnaíba no mapa do mundo. Agora, se o aeroporto vai ficar em Uberaba, no Prata, Nova Ponte, Uberlândia, os estudos técnicos é que vão definir. Nós temos uma outorga da Secretaria de Aviação Civil num área que foi declarada de utilidade pública, que já teve um estudo da Embraer no passado, esse é o lastro que temos. Pode ser um aeroporto comum para toda a região do Triângulo e Alto Paranaíba, essa que é a proposta. Passado essa dúvida, se o aeroporto fica de cá ou de lá, isso é o menos importante. O importante nesse momento é discutir um projeto de interesse do Triangulo Mineiro e Alto Parnaíba. Desde que seja uma área de interesse de todos, não para favorecer apenas o regime fiscal de Uberaba ou Uberlândia. Isso é um pensamento pequeno diante da grandiosidade que representa a logística dessa região entre o rio Grande e o rio Paranaíba no eixo da BR-050.

 

Quem fará esse estudo?

O próximo passo é a viabilidade econômica e financeira. Já temos várias empresas de porte, sobretudo de consultoria interessadas no assunto. Estamos recebendo propostas e temos o compromisso com a Secretaria de Aviação Civil de promover esse estudo de viabilidade técnico-econômica, que será entregue à iniciativa privada justamente para que ela ponha o dinheiro. Esse aeroporto não tem dinheiro público, tem o apoio das prefeituras, do Estado e da União. Então o próximo passo é o estudo e o terceiro passo, buscar na iniciativa privada um investidor nacional ou internacional para que o aeroporto nasça privado.

 

Há um prazo para concluir o estudo?

Não tem prazo definido na outorga que assinamos, mas queremos avançar nesse primeiro trimestre para que as coisas vão se consolidando.

 

Esse projeto caminha paralelo à criação da Agência Regional de Desenvolvimento, que foi aprovada na última reunião do G-70. Como é essa relação entre os projetos?

Dentro do movimento G-70, que são os 70 municípios do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba – e já estamos na quarta reunião do movimento – está a Agência de Desenvolvimento Econômico, e ressalto o ‘Econômico’, porque é para tratar de infraestrutura, de interesse coletivo e não individualizado de cada município, e buscar investimentos que possam fortalecer os municípios. O município pequeno pode ter um tipo de investimento que o faça crescer. Para as cidades polo como Uberaba, Uberlândia, Patos de Minas, Ituiutaba, quanto mais os municípios do entorno crescerem, melhor para as cidades polo. Isso é uma tese que a gente defende, e é o que aconteceu na região de Ribeirão Preto, diferente do que aconteceu com Uberlândia e está acontecendo com Uberaba. Temos que dar oportunidade para que os pequenos municípios tenham investimentos e possam aumentar a sua população. Isso é muito bom para as cidades polo. Então o G-70, cujo projeto da agência está sendo desenvolvido pelo Sebrae, tem esse condão de fazer a região inteira crescer e até evitar as megacidades, que hoje são condenadas inclusive pela Organização das Nações Unidas (ONU). Precisamos ter um novo enfoque de desenvolvimento regional. E esse é um discurso que eu faço não só como prefeito, mas como deputado estadual, deputado federal e acho que esse é o caminho.

 

Como está a participação da prefeitura de Uberlândia dentro do G-70?

Uberlândia já participou de algumas reuniões. Na última, o prefeito Odelmo Leão não pôde estar presente, a gente compreende, mas tivemos lá a participação de 30 prefeitos e de tantos outros representados. Mas participou de outras reuniões atrás. Numa entrevista na época, me perguntaram porque o prefeito de Uberlândia não participou da reunião. Para caracterizar a importância da região eu disse: ‘Uberlândia é muito pequena com relação ao Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, como Uberaba é muito pequena com relação ao Triângulo e Alto Paranaíba’. Estamos num momento de pensar na região e não pensar apenas no seu município. Mas posso dizer que Uberlândia está participando sim do G-70.

 

De que maneira efetiva os pequenos municípios serão beneficiados com o Intervales e a Agência de Desenvolvimento?

Primeiro aspecto, eu também tem sido criticado em Uberaba. Para efeito de processo junto à Secretaria de Aviação Civil, o projeto fica a 45 km de Uberlândia e a 55 km de Uberaba. Então eu também estou sendo pressionado aqui. A ideia é colocar, que não necessariamente onde está especificado hoje, numa área comum. Ou seja, que o benefício fiscal tributário que tiver de um empreendimento desse, não fique apenas com uma cidade. Claro que o Intervales, a questão da VLI já está lá, já tem outro investimento de R$ 30 milhões para aquele espaço, a gente pretende que aquilo seja realmente um espaço industrial, como vai ser esse eixo todo no futuro entre os rios Grande e Paranaíba. Vamos trabalhar para isso na extensão do município de Uberaba. Mas no aspecto fiscal e tributário, a ideia é que todos os 70 municípios participem. É como se fosse o pedágio, que não beneficia somente onde está a praça do pedágio. Hoje, os quilômetros que a rodovia concessionada percorrer, o ISS do pedágio beneficia todos os municípios. Com isso você tira a briga. Estamos no momento de ter esse desprendimento e caminhar efetivamente sem disputa para não perder mais essa oportunidade.

 

Num passado não distante já houve o projeto de criação da Região Metropolitana, ou de uma Região Integrada de Desenvolvimento no Triângulo Mineiro. Não foi pra frente. O que garante que agora esse projeto seja diferente e deslanche?

No contexto histórico, o Triângulo já pertenceu a São Paulo e depois ao estado de Goiás. As lideranças da região, para facilitar a ida ao Rio de Janeiro que na época era a capital da República, entenderam que estar dentro do estado ligado à capital – Ouro Preto ou Belo Horizonte – era mais fácil do que entrar no interior indo para Goiás. Então, veja, somos parte dessa história de uma região que sempre quer algo a mais. O movimento de separação do Triângulo também é antigo, tem mais de 100 anos. O Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba estão sempre em movimento buscando algo a mais, porque falta atenção e compreensão tanto do Governo Federal quanto dos governos de Minas, e não só desse último, da importância dessa região para o Brasil, para a América Latina e até para o mundo. Nós temos um potencial de crescimento incrível. Outro exemplo, o gás entrou pela região de Belo Horizonte, depois entrou pela região do Vale do Aço, depois pelo sul de Minas, e por que não foi pela região do Triângulo Mineiro? Nós estamos ficando preteridos. E por que não a Região Metropolitana? Foi um movimento de querer mais autonomia regional. Somos muito fortes na geração de energia, no agronegócio, no mercado atacadista e agora precisamos de um pouco mais de liberdade e ação de desenvolvimento, pois os governos nos prendem. Você precisa de uma licença ambiental, Minas não te dá. Precisa de um CNPJ, Minas não te dá. Então a Região Metropolitana, o projeto foi concebido e enterrado pela Assembleia Legislativa que não quis votar, houve resistência do Executivo, começando desde o governo Anastasia. Então, se havia resistência de governo e ainda precisava de aprovação da Assembleia,  talvez fosse um caminho que não seria interessante. Agora, a Agência Regional de Desenvolvimento Econômico vai tratar da infraestrutura, como o gasoduto, a duplicação de rodovias. O (Gilberto) Kassab esteve no lançamento do G-70 e disse uma coisa interessante: ‘um prefeito que vai pedir audiência com o presidente da República terá uma dificuldade muito grande. Agora, 70 prefeitos pedindo fala, e fala rápido.’ Esse é o espírito, andar em grupo para conquistar as coisas para a região. Essa agência tem uma importância especial de dar a oportunidade também de desenvolvimento e crescimento econômico e populacional aos municípios pequenos. Temos visto pequenos municípios diminuindo de tamanho e as grandes cidades inchando. Isso não é bom, é ruim para a nossa região.

 

Como está essa participação dos pequenos municípios que estão mais distantes das cidades polo?

Esse discurso cai como uma música no ouvido dos municípios menores, porque hoje o empresário vai a Uberaba, Uberlândia, Patos de Minas, Araguari, Araxá, mas não vai a Água Comprida para ver se tem algum potencial. Agora, uma agência dessa natureza vai dizer que podemos colocar lá em Água Comprida uma fábrica de confecção ou uma filial de uma indústria calçadista, porque lá tem mão de obra. Então, o espírito é esse, o que tem lá de potencial e podemos agregar valor, descobrir vocação de crescimento e desenvolvimento econômico para os pequenos municípios. Uberaba não vai fazer isso individualmente com Água Comprida assim como Uberlândia não vai fazer isso com Cascalho Rico. Agora, uma agência dessa magnitude vai estudar a região e as possibilidades para cada município. Portanto, os municípios aprovam essa ideia na íntegra.

 

Mas, assim como as associações microrregionais, essa Agência de Desenvolvimento também seria sustentada pelos municípios?

Não, ela será autossuficiente. O Sebrae está desenvolvendo um modelo que já existe no Nordeste, parte poderá vir das licitações – nós já estamos com nosso consórcio do Vale do Rio Grande dentro desse modelo. Pode ter os distritos industriais que estão sendo municipalizados hoje num contexto de arrecadação, então está se fazendo um modelo autossuficiente para não ter recursos dos municípios na Agência de Desenvolvimento Regional.

 

Como a iniciativa surgiu em Uberaba, houve um certo ciúme. Já teve deputado criticando o fato de o aeroporto ser instalado em Uberaba. As vaidades pessoais, principalmente de políticos, pode dificultar o andamento dos projetos?

Se a gente não tiver juízo e pensamento grande, claro que a competição vai emperrar o projeto e vamos perder mais essa oportunidade. Eu lembro que quando o Anastasia foi candidato ao Governo de Minas nós tivemos dois candidatos da região – o atual prefeito Odelmo e o deputado Marcos Montes, um de Uberaba e outro de Uberlândia querendo ser o vice do Anastasia. E quem foi? Nenhum. Outro dia estive com o prefeito Odelmo Leão e disse que é importante a região estar trabalhando politicamente para ocupar espaço no Governo do Estado e no Governo Federal. Se tiver um candidato viável de Uberlândia para governador, senador, vice-governador ou vice-presidente, Uberaba estará junto com Uberlândia e vice-versa. Não podemos inviabilizar o outro, senão a região perde. Está no momento de Uberaba e Uberlândia pensar grande, ter cabeça grande já que somos as duas maiores cidades da região e temos o maior número de deputados. O momento não é de ter ciúme. Essa ideia é muito antiga, no Pladir eu ouvi Virgílio Galassi falando disso. O que aconteceu agora é um avanço a mais para consolidar e constranger o Governo do Estado – digo isso porque quem tem que querer mais isso é o Estado, que tem a possibilidade de ter mais um aeroporto estruturado em Minas Gerais. A ideia não tem dono, não é do Paulo Piau, não é de Uberaba, a área que está ali pode até não ser a definitiva para o aeroporto. Os estudos é que vão consolidar isso. Está na hora de largar os interesses individualizados e pensar na região e no próprio país. E quero te adiantar mais uma coisa, não sou candidato a nada em 2018. Eu vou completar meu mandato até 2020. Pode escrever isso que é o meu compromisso que tenho com Uberaba. O que estou fazendo aqui é um interesse macro, sem interesse pessoal e nem só para Uberaba, para não achar que Uberlândia está perdendo e só Uberaba ganhando. Vamos sentar e ver o que é melhor para o Triângulo e Alto Paranaíba.

 

Esse projeto é para longo prazo?

Isso é uma escada de dez degraus, e nós pisamos no primeiro degrau. Tem uma missão muito grande pela frente. O cronograma vai começar com o estudo de viabilidade, que iremos decidir no primeiro trimestre, para depois no meio do ano termos uma visão se é viável. É um projeto de médio e longo prazo, por isso teremos tempo de amadurecer e tomar a melhor medida para a região.


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