Neubiana Beilke, doutoranda em Estudos Linguísticos pelo Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia (Ileel/UFU), criou um banco de dados linguísticos sobre um dialeto alemão quase extinto: o pomerano. Ela é a única pesquisadora do dialeto em Minas Gerais.
O interesse de Neubiana pelo idioma alemão começou ainda criança. A relação com as línguas e os dialetos a levou, inicialmente, para a iniciação científica, quando cursava a graduação em História e pesquisava sobre a Alemanha. Posteriormente, ao mestrado em Estudos Linguísticos e atualmente ao doutorado na UFU.
“Eu pesquiso o Pommersche, que é o baixo alemão pomerano, um dialeto da Alemanha. Ele é diferente do alemão padrão. Durante a pesquisa visitei várias localidades onde ainda é falado no Brasil”, afirma Neubiana. Porém, nas regiões de origem - nordeste da Alemanha e norte da Polônia -, o pomerano está praticamente extinto.
A imigração pomerana chegou a terras brasileiras há mais de 150 anos. Em 1859, imigrantes desembarcaram em Vitória, no Espírito Santo. Segundo a pesquisadora, hoje no Brasil existem descendentes de pomeranos em seis estados.
“Pouca gente sabe, mas aqui em Minas Gerais tem uma comunidade de 2 mil famílias que ainda preservam o dialeto. Eles estão na zona rural de Itueta, perto de Governador Valadares, no leste do nosso estado.”
A pesquisadora esteve nesta localidade e entrevistou os descendentes. “Eu transcrevi todas as falas e criei um banco de dados, que denominamos corpus oral na Linguística”, diz.
Além destas entrevistas, Neubiana visitou cemitérios próximos à comunidade para observar os registros nas lápides dos túmulos. As inscrições constantes ali, assim como as cartas e os diários doados por moradores, constituíram fontes onde foram encontrados vestígios do dialeto, que auxiliaram na criação do acervo.
Denominado Pommersche Korpora, o banco de dados atingiu 129.666 palavras. “Este é o grande mérito da minha pesquisa, porque só existe um dicionário de pomerano no Brasil. Ele tem 16 mil verbetes.”
O trabalho rendeu a Neubiana Beike o primeiro lugar no prêmio da Escola Brasileira de Linguística Computacional e do Congresso especializado em Linguística de Corpus (ELC-EBRALC), neste ano, realizado em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.