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10/09/2017 às 05h30min - Atualizada em 10/09/2017 às 05h30min

Jovens fazem negócios no campo

Programa Novos Rurais fortalece a agricultura familiar e estimula a permanência na zona rural

WALACE TORRES | EDITOR
Daniela de Faveri começou com 300 pés de morando e hoje já conta com 6 mil pés plantados / Foto: Acervo Instituto Souza Cruz

 

Ao completar 18 anos de idade, a jovem Daniela de Faveri passou pelo dilema que acomete boa parte da juventude brasileira: e agora, qual caminho seguir? No caso de Daniela, a decisão não se tratava somente de uma carreira profissional mas, também, de uma mudança do campo para a vida num grande centro urbano. Natural de Iporã do Oeste, município com 8.930 habitantes no interior de Santa Catarina, Daniela escolheu por manter suas raízes e apostar na terra como sua principal fonte de renda.

Hoje, com 21 anos, não tem dúvidas de que fez a escolha certa. “Acredito que o campo dá a liberdade que a cidade não oferece, de fazer os seus horários. E a qualidade de vida é bem melhor no campo”, diz.

Daniela de Faveri faz parte de um grupo crescente e que tem escolhido o caminho inverso que milhares de jovens fizeram nas últimas décadas, quando deixaram a família na zona rural e foram buscar um lugar ao sol na cidade. Ao concluir o ensino médio numa escola de formação técnica, Daniela teve a oportunidade de participar do programa Novos Rurais, que a transformou numa das mais jovens empreendedoras de sucesso de sua região. 

Gerido pelo Instituto Souza Cruz, o programa trabalha com projetos na área rural voltados para a agricultura familiar e tendo como público alvo os jovens. Para incentivar a permanência de rapazes e moças no campo, o programa oferece condições para a criação de negócios inovadores, a diversificação das culturas e geração de renda visando garantir a sustentabilidade da agricultura familiar.

A iniciativa conta com duas fases, sendo que na primeira os jovens participam de módulos de formação, com conteúdos complementares aos do ensino médio, voltados para a gestão de projetos rurais sustentáveis. Nesta fase, os alunos têm noções de empreendedorismo na agricultura familiar, políticas públicas, elaboração de projetos, entre outros tópicos. Na segunda parte são selecionados os jovens aptos para transformar seus projetos de empreendedorismo em Unidades de Referência. A intenção é que os novos empreendimentos, implantados nas propriedades rurais dos educandos, se tornem referência para as comunidades onde estão inseridos. O próprio instituto disponibiliza os recurso financeiros a fundo perdido. “O recurso é um empurrão importante para estimular o empreendedorismo. Mas o importante mesmo é que o aluno tenha a formação técnica para montar um plano de negócio”, diz o assessor de projetos sociais do Instituto Souza Cruz, Marcos Vagner de Oliveira Gaspar.

Daniela de Faveri apresentou um projeto para cultivar morangos semi-hidropônicos na fazenda da família. Com o recurso obtido no programa, investiu na implantação de uma estufa e na aquisição de 300 mudas. Hoje sua propriedade já conta com seis mil pés plantados, sendo que metade já produz frutos. “Escolhi o morango por ser uma atividade pouco explorada na minha região, então iria trazer um bom lucro para a família”, diz a empresária que colhe cerca de 50 quilos de morango por semana e que, a partir das próximas safras, deverá chegar a 150 quilos semanais.

Para participar do programa é preciso que o interessado seja aluno de uma escola parceira do instituto, que foi pioneiro no Brasil no empreendedorismo para jovens rurais. Em agosto, o programa Novos Rurais garantiu ao instituto um certificado da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (ONU-FAO) como reconhecimento de uma boa prática para o desenvolvimento sustentável.

 

DOCUMENTÁRIO

Fábrica de Uberlândia exibe filme sobre empreendedores

Há duas semanas, os funcionários da fábrica da Souza Cruz em Uberlândia tiveram a chance de conhecer mais sobre o projeto Novos Rurais, através da exibição do documentário “Atitude que transforma”. O curta metragem conta a história de cinco jovens empreendedores que participaram da formação e conseguiram implantar novos negócios sem precisar deixar o meio rural. A catarinense Daniela de Faveri foi uma das personagens e também esteve presente nas três exibições em Uberlândia.

Apesar de sediar a única fábrica da empresa no país, Minas Gerais ainda não foi contemplado com o programa Novos Rurais. Hoje, os projetos estão concentrados nos estados do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. 

“Nesse momento estamos trabalhando no planejamento estratégico para os próximos quatro anos. A longo prazo, o objetivo é fazer com que as ações continuem fortes. Uberlândia é uma região onde está nossa mantenedora e com certeza iremos olhar isso com carinho. Mas isso não depende só de recursos, temos que trabalhar em parceria com escolas técnicas”, diz o assessor de projeto sociais, Marcos Vagner.

 

INSTITUTO

O Instituto Souza Cruz é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, de abrangência nacional, fundada há 17 anos pela empresa que leva o mesmo nome. Nos últimos cinco anos vem desenvolvendo o programa Novos Rurais, que nesse período já capacitou 2.260 jovens empreendedores rurais e investiu mais de R$ 3 milhões, viabilizando a criação de 746 novos negócios. A iniciativa contabiliza mais de três mil pessoas beneficiadas em 140 municípios brasileiros e uma renda líquida total de R$ 21 milhões em cinco anos.

Este ano, o programa atendeu 340 jovens de 18 escolas parceiras e possibilitou a criação de 120 novos negócios, com um investimento total de R$ 500 mil. “Muitos jovens participam da formação e implementam seus projetos mesmo sem obter o recurso financeiro”, diz a assessora de comunicação do instituto, Andréa Guedes. “A ideia é que o jovem possa encontrar a sua vocação sem precisar deixar a área rural. Isso também gera um desenvolvimento para o próprio município e faz com que as pessoas fiquem naquela localidade”.

 

PROJETOS NÃO AGRÍCOLAS

Salão de beleza, oficina e até Lan House já estão no campo

Cerca de 20% dos empreendimentos bancados pelo Instituto Souza Cruz são provenientes de projetos não agrícolas. É o caso de jovens que apostaram em ateliê de artesanato, oficina mecânica e até Lan House montada na zona rural. “Uma pesquisa do Sebrae apontou que 50% das pessoas no campo usam smartphones com internet. A venda por WhatsApp, por exemplo, já se consolidou”, aponta a assessora Andréa Guedes.

Um dos negócios mais recentes e que ainda está em fase de implantação na região Sul do país é o uso de drone para monitorar a propriedade rural. É o primeiro projeto envolvendo alta tecnologia trabalhado no programa. “A gente sabe que no agronegócio o drone é bastante usado para monitoramento, mas na agricultura familiar é novidade. Queremos acompanhar de perto esse projeto para entender, quem sabe nasce uma startup daí”, aponta Marcos Vagner.

Na região de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, a moda é outra. Pelo menos três projetos resultaram na abertura de salões de beleza em plena comunidade rural. 

Josiane Boy, 24 anos, atendia clientes com serviços de manicure e pedicure na própria casa, com pouca estrutura. Ao ingressar no programa Novos Rurais, ela conseguiu reformar a garagem da propriedade para construir ali um salão. Agora, consegue atender um maior número de clientes e oferecer novos serviços, como design de sobrancelhas e depilação. “Meu objetivo é ser uma referência na área de beleza em minha comunidade, oferecer um serviço diferenciado, atender um número maior de pessoas e oferecer conforto aos meus clientes”, diz a jovem.

As amigas Franciele Lima e Jeniffer Damazio também abriram um salão de beleza no campo. Com o investimento financeiro do Novos Rurais, a dupla transformou uma sala na casa da Jeniffer no “Espaço Vip”, e oferece serviços de cabelereiro, manicure, pedicure e depilação. O empreendimento funciona nos fins de semana e conta com uma crescente clientela que encontrou no salão o primeiro negócio da região a oferecer diferentes serviços de beleza em um único lugar. A Unidade de Referência é um exemplo de atividade não agrícola ligada à prestação de serviços que contribui para o desenvolvimento local e garante a sustentabilidade dos territórios rurais.


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