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05/09/2017 às 05h56min - Atualizada em 05/09/2017 às 05h56min

Projeto da Polícia Militar valoriza convivência entre vizinhos

Rede de Proteção Defensiva já tem 15 anos e funciona em 69 pontos da cidade

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
Cabo Clécio e sargento Gomes durante palestra da Rede de Proteção Preventiva no Segismundo Pereira / Foto: Adreana Oliveira

 

Maristela Rodrigues Terra e o filho Victor preparavam com carinho a varanda de casa para receber os vizinhos na rua João Ângelo Schiavinato, no bairro Segismundo Pereira. Dois desses vizinhos ela ainda não conhecia, porque se mudaram havia pouco tempo para imóveis praticamente em frente à casa dela. Maristela está no mesmo endereço há 27 anos e viu crescer a cidade e, infelizmente, também a violência.

“Quando bati na porta de alguns deles para convidar para o encontro, alguns atenderam desconfiados, porque não me conheciam”, comentou Maristela. O convite em questão era para uma reunião de implantação do projeto Rede de Proteção Preventiva (RPP), da Polícia Militar, que já foi conhecido como Vizinhança Solidária.

A cordialidade dos responsáveis por apresentar a proposta impressionava. Acostumados a lidar com situações de risco todos os dias, o sargento Gomes e o cabo Clécio, da 170ª Cia. da Polícia Militar de Minas Gerais são pacientes, de semblantes leves. “O projeto existe há 15 anos e tenta trazer de volta para o cotidiano da população uma convivência saudável entre os vizinhos. Antigamente era algo comum, todo mundo se visitava, conhecia a cara um do outro, sabia o mínimo da rotina daquela rua. Hoje é possível que pessoas que morem até no mesmo prédio desconheçam o vizinho da frente”, explicou o sargento Gomes.

Dona Maristela soube do projeto por meio de uma amiga do bairro Santa Mônica e em cuja rua o projeto já foi implantado e os moradores sentiram a diferença. “Quando se fala em projeto, todo mundo pergunta ‘quanto é para participar?’. Enfatizamos que é totalmente gratuito e está disponível em todas as 13 companhias da PM em Uberlândia. Na 170ª, o sargento Gomes começou e eu passei a auxiliá-lo”, explicou o cabo Clécio, enquanto organizava algumas placas que seriam colocadas nas regiões que adotaram o projeto.

O RPP promove reuniões pontuais nas chamadas células, que podem ser compostas por moradores de um trecho determinado de uma rua. A célula coordenada pela dona Maristela é a 65ª entre as residências e há ainda outras quatro células comerciais em Uberlândia. “Muita gente ainda não conhece o projeto e, acredite, o Whatsapp deu um novo fôlego a ele”, explicou o sargento Gomes.

Com a ferramenta, os vizinhos criam um grupo do projeto somente para ser usado em situações em que haja algum risco iminente, como a presença de pessoas estranhas na vizinhança, movimentação suspeita. “O morador não faz papel de policial. Se ele identifica uma atitude suspeita, deve ligar no 190 e depois avisar no grupo do Whatsapp”, disse o cabo Clécio.

As reuniões são semestrais nas células comerciais e trimestrais nas residenciais. São passadas dicas de segurança para os moradores. “Muitos já ouviram todas elas, como estacionar de ré, observar a rua antes de entrar em casa com o veículo, evitar usar o telefone celular enquanto está andando etc., porém nem todos praticam. Por isso, na nossa área de atuação, o roubo a transeunte é responsável por 70% das ocorrências. Outro exemplo, se você conhece o mínimo da rotina do seu vizinho, vai estranhar se um caminhão de mudança aparecer em frente à residência dele no meio da tarde enquanto a família está viajando de férias”, relatou o sargento Gomes.

Após a implantação do projeto, algumas regiões baixaram esse índice para zero. “Não estamos dizendo que não existirá criminalidade na área, mas as chances serão menores. O cidadão aprende a identificar situações de perigo e a comunicar isso à polícia, o que é importante, porque, infelizmente, hoje, há dias em que recebemos mais de 200 trotes. Uma pessoa que participa do projeto e liga no 190 para relatar algo, já tem uma credibilidade maior, porque jamais faria algo desse tipo. As dicas que damos à população são exemplificadas com fatos reais, ocorrências que atendemos”, comentou o policial. As rondas policiais são feitas normalmente na região.

 

POLICIAMENTO COMUNITÁRIO

Moradores veem com seriedade o projeto

Maristela Rodrigues Terra levou o projeto para a sua rua e é coordenadora da célula / Foto: Adreana Oliveira

Segundo o sargento Gomes, responsável pelo projeto Rede de Proteção Preventiva da 170ª Cia. da Polícia Militar de Minas Gerais em Uberlândia, todo policial realiza o policiamento comunitário e deve agir com cordialidade. O RPP ajuda na mobilização dessa comunidade para tentar evitar tornar-se uma vítima da violência.

Fabiana Cristina mora há cinco anos na rua João Ângelo Schiavinato. É síndica de um prédio de três andares que abriga 18 famílias, pesquisou sobre o RPP e atendeu ao convite da coordenadora da nova célula, Maristela Rodrigues Terra, para apoiar o projeto.

Relatos de situações de perigo não faltaram na reunião. Geisa Helena e a filha, Priscilla Mendes Fernandes, são professoras e também cantoras. A casa delas foi invadida duas vezes, uma em 2001 e outra em 2013. Nas duas ocasiões estavam dormindo e acordaram com o barulho na garagem. “Em um dos furtos, levaram até violão, instrumento com que a gente trabalhava, carteira, documentos e remédios caros de que eu precisava. Na outra, como só havia livros, nem levaram, só fizeram um estrago no carro”, recordou Geisa. Agora, com o projeto implantado na rua, elas acreditam que os bandidos devem se afastar.

“A gente sabe que o nosso papel não é confrontar bandido. Pelo contrário, queremos harmonia, e creio que este projeto vá nos aproximar uns dos outros e juntos vamos ter uma vizinhança mais forte e com menores índices de violência”, comentou Maristela Terra.

 

COMPROMETIMENTO

As “câmeras vivas” são o diferencial do projeto

Foto que marcou a implantação da 65ª célula da Rede de Proteção Preventiva / Foto: Adreana Oliveira

O projeto Rede de Proteção Preventiva trabalha com células. “É a menor unidade de um corpo. Por isso a extensão para um coordenador não deve ser muito longa ou pode tornar-se ineficiente. Nós queremos divulgar muito esse projeto para que mais células surjam e, a partir daí, tenhamos uma cidade mais segura”, explicou o sargento Gomes. Os olhos dos moradores são o que eles chamam de câmeras vivas. “Por isso é importante você conhecer o seu vizinho, esteja você na rua, em casa ou em um prédio, seus olhos podem trabalhar a favor do seu bairro.”

Ele explica que é importante a participação efetiva dos moradores da região nas reuniões. “Passamos muitas informações valiosas e, em uma situação de risco, a pessoa vai se recordar da melhor atitude a tomar. É preciso que todos participem, porque se o que é aprendido não é aplicado, o projeto morre”, explicou.

 

SERVIÇO

Para implantar o projeto Rede de Proteção Preventiva em sua vizinhança procure a Cia. da Polícia Militar mais próxima de sua região.

 

O Rede de Proteção Preventiva possui 65 células residenciais e 4 comerciais

O índice de roubo a transeunte, que representava 70% das ocorrências, caiu para zero em algumas áreas que implantaram o projeto

A Polícia Militar de Uberlândia, por meio do 190, chega a receber mais de 200 trotes por dia

 

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