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13/08/2017 às 05h19min - Atualizada em 13/08/2017 às 05h19min

Filhos: uma responsabilidade compartilhada

Pais contam sobre a participação ativa na criação dos filhos, sem assumirem papel coadjuvante em relação às mães

LAURA FERNANDES | APRIMORAMENTO PROFISSIONAL
Rodrigo Rangel e a esposa, Sara, com os quatro filhos do casal / Foto: Arquivo Pessoal

 

O papel do pai na criação dos filhos há muitos anos vem sendo discutida. Ganha espaço a concepção de participação compartilhada entre mães e pais, que atualmente sobrepõe-se ao antigo modelo de que certos cuidados não eram obrigação dos homens. Nessa perspectiva, filho é responsabilidade partilhada em quaisquer momentos, e a atuação desde os primeiros dias na criação dos bebês também se estende ao vínculo paterno. Além de estar presente no dia a dia das famílias, este tema reverbera na política. Tramita atualmente no Senado uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 16/2017 que prevê o compartilhamento da licença-maternidade entre a mãe e o pai.

Neste Dia dos Pais, a reportagem do Diário do Comércio conversou com dois homens que abraçaram a paternidade como compromisso e praticam a criação partilhada dos filhos. Cleber Furtado é pai dos gêmeos Athur e Yasmin, de sete anos. Já Rodrigo Rangel é pai de Jéssica, Kely e Kethleen, todas com 14 anos e, de Lucas, 18.

Desde a gravidez de suas esposas os dois pais sempre estiveram presentes. Sheila Lacerda, companheira de Cleber, conta que o marido nunca faltou a uma consulta e, em casa, o acompanhou em todos os processos de adaptação alimentar daquele momento. “Ele me ajuda me ajudava a controlar a alimentação, não tomava refrigerante e pouco café”, diz.

Com o nascimento dos bebês a presença do pai fez-se ainda mais marcante. Cleber conta que conseguiu cinco dias de licença-paternidade e em seguida, entrou em férias, o que contribuiu para que ele conseguisse acompanhar de perto todos os primeiros cuidados das crianças. “Procuramos dividir bem as tarefas para não sobrecarregar um ou o outro”, explica ele. Com o fim desse período, a rotina após o trabalho foi sendo revezada com a esposa. “Na madrugada, quando eles acordavam, eu levava um para ela amamentar e já ia fazer o complemento. Enquanto isso, já trocava a fralda da outra e na sequência fazíamos a ‘troca de bebês’”, relata Cleber.

Com Rodrigo e a esposa dele, Sara Vargas, os cuidados também foram parecidos. A gravidez de Sara trouxe algumas complicações e o filho nasceu prematuro. Diferentemente de Cleber, Rodrigo não recebeu férias seguidas da licença-paternidade, então conseguiu se afastar do serviço apenas durante uma semana. Mas compartilhando das mesmas preocupações do pai dos gêmeos, com o retorno às atividades, Rodrigo também dividiu as lidas do bebê com a esposa. “Sempre teve aquele tempo maior de cuidados, essa responsabilidade compartilhada”, explica ele.

As filhas do casal foram adotadas e já não eram bebês quando entraram na família. A primeira a chegar foi Jéssica, com três anos e meio de idade. Depois de um ano e meio, Kely e Kethleen, com cinco, também passaram a compor a casa. Com a chegada das meninas, Rodrigo lembra que conseguiu poucos dias de licença-paternidade, mas que foi importante, ainda que breve, para a adaptação. “Consegui esse tempo para poder receber as crianças, me adaptar. Foram três dias de adaptação mais profunda, depois fui entrando no ritmo”, conta ele.

Cleber e Rodrigo procuram estar sempre próximos de seus filhos. Seja acompanhando as reuniões escolares, nos exercícios encaminhados para casa ou nas atividades extras, os dois estão presentes na vida dos meninos e compartilhando a responsabilidade da criação com suas esposas. Para Cleber, a aproximação dos pais em relação aos filhos traz respeito e também cria um vínculo de confiança. “Procuro ser muito amigo deles e fazer com que me vejam além do pai que devem respeitar, mas também como amigo”, explica ele.

Rodrigo acredita que esse contato deve ser provocado e proposital. “Esse vínculo trabalhado positivamente tem que trazer a proximidade. Muitas vezes, ele acontece naturalmente, mas acredito que isso tem que ser intencional. Pai tem que proteger, tem que ajudar, ampliar as possibilidades da criança”, afirma.

Quanto à PEC  16/2017 e a promoção da maior participação dos pais na criação dos filhos com o compartilhamento dos deveres, Cleber enxerga pontos favoráveis e desfavoráveis. “Acho uma ação muito bacana, mas esta participação dos pais na criação dos filhos é muito de perfil, não do tempo que ele fica de licença. Se olharmos pela participação deles na empresa, dando conforto para a sua família, pode ser mais importante”, argumenta ele.

Rodrigo pensa que pode ser uma boa proposta, mas ainda pequena para a realidade social do país. “Eu vejo com excelentes olhos e vejo que se tem que fazer muito mais. Não só a licença-paternidade e maternidade, mas programas que propositalmente façam a sociedade refletir. Se queremos uma sociedade saudável, vamos investir no pai e na mãe, o primeiro núcleo familiar”, defende ele.

 

ESPECIALISTA

Psicóloga aponta crescimento emocional dos pais

A psicóloga Lucianna de Lima, doutora em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano, explica que a presença, participação e acompanhamento dos pais ou responsáveis contribui para a formação integral da criança. “A qualidade das relações estabelecidas, desde os primeiros dias de vida e à medida que cresce, é essencial para que esse desenvolvimento aconteça de forma satisfatória”, argumenta ela.

De acordo com a psicóloga, essa aproximação também surte efeito nos pais. A cada filho, eles adquirem diferentes experiências da maternidade e da paternidade, oportunidade de dar novos sentidos para si mesmos e para o outro. Esse processo de troca com afeto, aponta a especialista, faz com que os pais também se tornem seres humanos melhores.

Lucianna explica ainda que há mais chances de um filho que recebeu cuidado e presença de seus pais ou responsáveis tornar-se um pai com características semelhantes, do que o contrário. “Todas as experiências que os pais vivenciaram no papel de filhos são fundamentais para a constituição de sua personalidade e exercerão interferências no papel que assumirão na formação de seus filhos”, esclarece.

A especialista ressalta a importância da dedicação à qualidade do tempo que os pais passam ao lado de seus filhos e o conhecimento dos gostos em geral, das amizades e da aprendizagem escolar. “Há várias formas de se fazer presente na vida dos filhos, mesmo não estando ao lado deles o tempo todo. Portanto, papais e mamães, lembrem-se de que o tempo de crescimento é muito rápido e que perder a oportunidade de estar ao lado dos filhos durante seu crescimento é perder um tempo precioso de vida que nunca mais voltará”, orienta Lucianna de Lima.

 

ENTENDA A PROPOSTA

PEC propõe divisão da licença-maternidade entre a mãe e o pai

AGÊNCIA SENADO | BRASÍLIA

O prazo total da licença-maternidade poderá ser dividido entre o pai e a mãe da criança. É o que dispõe a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) apresentada pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), em análise na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).

A PEC 16/2017 determina que haja um acordo entre a mãe e o pai para compartilhar o período para cuidar do filho recém-nascido ou recém-adotado. A senadora justifica sua ideia alegando que a tarefa de cuidar do filho não é exclusividade materna, é paterna também. Segundo ela, a única tarefa que a mulher tem que realizar sozinha, que não pode ser compartilhada com o homem, é a amamentação.

Hoje, de acordo com a legislação brasileira, a mãe tem direito a usufruir de uma licença de 120 dias e o pai de uma licença de apenas cinco dias. Esses prazos são maiores, em alguns casos, devido às recentes alterações legislativas que possibilitaram a extensão da licença-maternidade por mais 60 dias, e a licença-paternidade por mais 15 dias. No entanto, para ter esse benefício, a pessoa tem que trabalhar em empresa que aderiu ao Programa Empresa Cidadã. Alguns órgãos públicos também já concedem um prazo maior de licenças-maternidade e paternidade.

 

Licença-maternidade

Como é:

Mães têm direito a 120 dias, prorrogáveis por mais 60.

Pais têm direito a 5 dias, prorrogáveis por mais 15

 

Proposta da PEC 16/2017:

Mães e pais poderão compartilhar prazo total de licença-maternidade em comum acordo


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