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16/07/2017 às 04h33min - Atualizada em 16/07/2017 às 04h33min

O último setor a entrar na crise

Superintendente da Associação Mineira de Supermercados aponta investimentos de R$ 400 milhões este ano no estado

WALACE TORRES | EDITOR
Antônio Claret Nametala disse que a maioria dos investimentos está nos bairros e na modalidade atacarejo / Foto: Walace Torres

 

Uberlândia sediou na última semana a 20ª edição do Super Encontro Varejista (Sevar), promovido pela Associação Mineira de Supermercados (Amis) e considerado o maior evento até então do segmento supermercadista em Minas Gerais. Foram cerca de três mil pessoas pressentes durante dois dias no Center Convention e aproximadamente 120 expositores do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Num momento em que a crise econômica ainda assola boa parte do setor produtivo, os supermercadistas mineiros projetam um crescimento de 1,7% ao longo do ano e investimento de R$ 400 milhões na abertura de 56 novas lojas e reformas de outras 70 unidades em todo o Estado, com potencial de seis mil novos postos de trabalho, segundo apontou o superintendente da Amis, Antônio Claret Nametala, em entrevista exclusiva para o Diário do Comércio.

No ano passado, o setor faturou R$ 34 bilhões em todo o País e empregou 180,2 mil pessoas. Com experiência na direção comercial e de marketing de clubes mineiros tradicionais, como Cruzeiro Esporte Clube e Minas Tênis Clube, Nametala reassumiu ano passado o posto que havia ocupado anos atrás na Amis. Na entrevista a seguir, ele fala sobre as mudanças que o segmento teve que passar para se adequar ao consumidor, novos investimentos e a percepção sobre as reformas propostas pelo governo que, na sua avaliação, já deveriam ter acontecido há muito tempo.

 

Diário - Esse é um ano ainda difícil para a economia brasileira, mas o setor supermercadista parece estar enfrentando a crise econômica melhor que outros setores.

Claret – Na verdade o setor supermercadista é o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela. É uma crise que bateu na porta sim, mas o segmento se posicionou de forma muito atenta tentando enxergar as oportunidades que estavam surgindo, daí a expansão das redes pelo Estado de Minas Gerais, a abertura de novas lojas e requalificação das lojas existentes. Nós passamos a estudar mais o consumidor. Quem é o consumidor, quem somos nós, qual o mercado estamos inserindo, o que acontece nesse país que a gente precisa estar atento...Aí descobrimos que a gente tinha que trabalhar muito o custo, não podíamos errar, tinha que comprar bem para vender bem. Para isso tem que entender bem o consumidor, estudar o mercado no qual estamos inseridos ou vamos colocar uma loja, porque a variedade de produtos que se coloca em cada loja depende do público que a visita. No grupo de lojas de uma empresa só, por exemplo, eu não tenho a mesma marca em tudo ou o mesmo produto em todas as lojas. Eu tenho em cada loja aquilo que o consumidor daquela região está buscando e gosta de comprar.

 

Isso justifica o crescimento no comércio de bairro, como acontece em Uberlândia, em que há muitos bairros com comércios menores atendendo à necessidade daquele público?

Nós temos dois tipos de loja em crescimento notório. Um deles é o atacarejo, que é o atacado com varejo, inclusive vários supermercados estão se transformando em atacarejo numa tendência clara de atender o consumidor que quer preço. A outra é a loja de bairro, que cresceu muito e vai continuar crescendo. O consumidor hoje quer andar menos para fazer suas compras, então ele prestigia mais quem está perto de casa. Ele quer preço, quer qualidade e um produto que ele gostaria de comprar, e não levar um produto qualquer porque não encontrou o que estava procurando.

 

A maioria dos investimentos hoje está nos bairros?

A maioria dos investimentos está nesses dois tipos de loja, no atacarejo e também nas lojas de bairro. Os hipermercados sofreram uma queda acentuada nos últimos tempos e a tendência é que continuem ainda perdendo espaço. Por isso, várias empresas que têm hipermercados estão transformando as unidades em lojas de atacarejo para atender a esse momento do consumidor e da nossa economia.

 

É o caso de Uberlândia, onde algumas marcas abriram atacarejos.

É exatamente isso que está acontecendo. Aqui em Uberlândia tem um exemplo caro do que tem percebido no segmento não só em Minas Gerais mas em todo o Brasil. Bom para o pequeno e médio empresário que percebeu que não está ‘morto’. Se ele souber trabalhar, estruturar bem a sua loja, ter um mix de produtos adequado, ele tem não só sobrevida, mas também espaço para crescimento e desenvolvimento cada vez mais intenso.

 

Qual o ponto forte dessa edição do Sevar em Uberlândia?

Tivemos aqui a maior edição do Sevar da história de Minas Gerais. Essa 20ª edição bateu todos os recordes, são 120 estandes ocupados, uma expectativa de três mil pessoas presentes nos dois dias do evento, com várias palestras com temas que achamos importante para que o empresário esteja preparado para o presente e o futuro. Esse Sevar vem mostrar que nós empresários, trabalhadores, podemos trilhar o nosso caminho e o nosso futuro com confiança.

 

Para 2017, o que está previsto de investimento até o final do ano?

Temos uma expectativa de crescimento de 1,7% ao longo do ano de 2017. Em 2016 nós crescemos 1,26% na comparação com 2015. Este ano, até maio, já tivemos um crescimento de 1,25%, e o segmento anunciou na virada do ano a possibilidade de abrir 56 novas lojas ao longo desse ano, mais 70 reformas expressivas, com investimentos em torno de R$ 400 milhões. Serão em torno de seis mil novos empregos diretos gerados durante o ano. Isso mostra realmente a pujança do setor, a coragem do empresariado e essa atenção ao momento de ocupar o espaço antes que outros o façam.

 

Esse número maior de reformas do que de abertura de novas lojas, representa uma cautela do setor diante do momento econômico?

Não é nem uma questão de cautela. Ano passado tivemos 62 lojas inauguradas e menos lojas em termos de reforma. Esse ano foi sinalizado um número maior de reformas. É que o consumidor está muito exigente em relação ao ambiente físico que ele encontra, a qualidade dos produtos que ele deseja, e o que as redes estão fazendo? Elas perceberam que precisam adequar determinadas lojas que fogem um pouco do padrão no qual estão inseridas. Por isso, esse número de reforma mais acentuado.

 

E para Uberlândia?

Uberlândia também está dentro dessa projeção, a gente não faz um mapeamento por região em termos de loja até pela dificuldade que se tem de mapear isso junto às redes. Mas com certeza Uberlândia e região estão dentro desses números e o consumidor pode esperar muito do nosso setor.

 

O fato de ter muito atacadista na região, também contribui para ter um número expressivo de supermercadistas?

Antes a gente escutava falar que Uberlândia era uma cidade de atacado distribuidor. Hoje não é mais só do acatado distribuidor, mas uma cidade que abriga grandes lojas de supermercados, são quatro lojas de multinacionais presentes na cidade. Então acho que a vocação da cidade continua muito forte na questão do atacadista distribuidor, mas na questão do varejo ela também soube trazer as oportunidades para o empresário e ele soube aproveitá-las bem. Nós temos aqui lojas extremamente bem montadas e novas surgirão dentro da mesma proposta.

 

O cenário político-econômico não deve comprometer esses investimentos, mesmo que tenhamos uma eventual troca de governo num curto espaço de tempo?

O cenário econômico-político sempre interfere na economia do Brasil como um todo e nós não estamos imunes a isso. Mas como disse no começo, o setor é o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela. Na questão da economia é preciso muita atenção a tudo, preço, qualidade, variedade, uma atenção grande para eliminar perdas de produtos. Estamos trabalhando muito a questão da sustentabilidade, de logística reversa e de uma série de itens. A questão política é um problema seriíssimo que tem atrapalhado muito o Brasil, mas é aquela história: precisamos aprender a conviver com isso sem que afete diretamente o nosso negócio. Então, o negócio é trabalhar e trabalhar.

 

Recentemente tivemos em Uberlândia a visita do presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Rodrigo Maia, que ouviu dos empresários de vários setores, inclusive supermercadista, o pedido de urgência em aprovar as reformas. A trabalhista já passou. E as outras, vocês também esperam agilidade?

As reformas estruturais que o Brasil está começando a viver e a presenciar estão muito atrasadas. Pelo tamanho que o Brasil se tornou em termos de economia, força de mercado, isso tem que estar sempre sendo bem visto, bem estudado e adequado a cada momento. Não podemos ter uma CLT da época de Getúlio Vargas prevalecendo nesse momento. Naquela época não se tinha supermercado, era só mercearia e mercados pequenos. Hoje temos supermercados, hipermercados, atacarejo com a mesma legislação de antes. É uma legislação que atrapalha o desenvolvimento das empresas. E desenvolver empresa não é desenvolver capital, é principalmente desenvolver emprego. Quanto mais uma empresa cresce, mais emprego ela gera, mais renda ela proporciona para a população, mais impostos ela proporciona ao Estado. É importante perceber isso com toda a positividade que isso traz. Num primeiro momento, às vezes, assusta achando que haverá perdas, mas no final das contas, a certeza é que o brasileiro irá ganhar muito com essas medidas, que já vêm tarde.

 

A reforma trabalhista já deve melhorar o cenário de empregabilidade a curto prazo?

Com certeza, essas medidas mudam o humor do mercado e aumentam a confiança do investidor, do empresário no Brasil. Passamos por um descrédito muito grande em relação a imagem do Brasil gerado por essas questões políticas, e agora precisamos reverter esse quadro. O Brasil é dos brasileiros e não dos políticos especificamente. Cada um fazendo a sua parte, creio que vamos passar por esse momento com a maior rapidez possível.


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