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15/05/2024 às 18h00min - Atualizada em 15/05/2024 às 18h00min

Cresce número de pessoas com transtornos mentais relacionados ao trabalho em Uberlândia

Diagnósticos aumentaram 61% no ano passado; distúrbios mais comuns são ansiedade, depressão, ataques de pânico e burnout

JUAN MADEIRA | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Jornada excessiva, ambiente competitivo e más condições de trabalho podem desencadear os distúrbios | Foto: PIXABAY

Os diagnósticos de transtornos mentais relacionados ao trabalho aumentaram 61% em Uberlândia, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG). Os distúrbios, que podem incluir ansiedade, depressão, síndrome de burnout e ataques de pânico, afetaram 100 pessoas ao longo de 2023. No ano anterior, a cidade totalizou 62 casos. 

 

Conforme aponta o levantamento da SES-MG, do total de notificações registradas no ano passado, 90 dizem respeito a mulheres e apenas 10 a homens. A maioria dos pacientes (30%) tinha entre 40 e 49 anos de idade. Em relação à distribuição por grupo étnico, 59% das pessoas eram pretas ou pardas, e 41% das pessoas eram brancas. 

 

Entre as profissões com mais registros, técnico de enfermagem lidera a lista com 20,41% dos casos. Em segundo e terceiro lugar aparece assistente administrativo (16,33%) e agente comunitário de saúde (10,20%). Quanto aos hábitos negativos observados nos profissionais, o uso de psicofármacos foi o mais comum, seguido por consumo de álcool, drogas e cigarro.

 

Em entrevista ao Diário, a psicóloga Ana Duarte esclareceu os diversos cenários que podem favorecer o adoecimento no mercado de trabalho. “As principais causas são as condições que o trabalhador é exposto, como jornada muito excessiva, ambiente que não oferece o mínimo possível para o trabalhador desempenhar determinada função, sem falar na pressão que o mercado exerce sobre o trabalhador”.

 

A especialista esclareceu que os transtornos mais comuns são depressão, ansiedade e síndrome de burnout. “O burnout é um termo em inglês que descreve a sensação de estar ‘queimando por dentro’ devido a fatores externos”.

 

Ana Duarte observou que identificar os sintomas por conta própria não é tarefa fácil. De acordo com ela, a saúde mental, de modo geral, ainda é estigmatizada, levando muitos a considerarem os sinais como frescura ou simples cansaço.

 

“Os principais sintomas do burnout são tensão emocional, nervosismo, mau-humor, e prostração - uma sensação de falta de coragem. É importante saber separar o esgotamento físico de fato de algo relacionado ao ambiente de trabalho, que vão para além dos sintomas psicológicos”, advertiu. Quanto aos sintomas físicos, Duarte elenca as dores musculares, alteração do sono e apetite, taquicardia, e esquecimento de palavras. 
 

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A psicóloga destacou ainda que há certos padrões que indicam uma predisposição de algumas pessoas a desenvolverem transtornos psicológicos relacionados ao ambiente de trabalho. Para a profissional, situações como assédio, más condições no ambiente laboral, a falta de um canal de ouvidoria e um ambiente excessivamente competitivo podem criar condições propícias para os funcionários enfrentarem problemas de saúde mental.

 

Portanto, para prevenir e tratar essas questões, Ana indica ser crucial procurar um profissional da área de saúde mental, psicólogos ou psiquiatras. Ela explicou que os tratamentos são personalizados conforme os sintomas apresentados, podendo incluir psicoterapia ou medicação prescrita por um médico psiquiatra. 

 

“Além disso, sugiro aos meus pacientes a adoção de práticas diárias que podem auxiliar na melhoria dos sintomas, como a prática de esportes, uma alimentação saudável e o lazer regular, não apenas nos finais de semana. Estas medidas combinadas contribuem para a promoção da saúde mental e o bem-estar geral”, esclareceu.

 

Quanto à prevenção, a psicóloga aconselha buscar compreender o significado da sua profissão e identificar seus próprios limites. Isso inclui avaliar se a empresa onde trabalha está alinhada com seus valores, se seu horário e salário são adequados para você. 

 

“Embora o mercado seja competitivo, é crucial ponderar o valor da sua saúde mental e paz interior. Sempre existem alternativas e ninguém precisa enfrentar essas questões sozinho. A saúde mental é tão importante quanto a saúde física e merece atenção e cuidado adequados”, finalizou.

 

JORNADA EXCESSIVA

Um profissional que enfrenta, há anos, problemas de saúde mental ligados ao mercado de trabalho é o publicitário Leonardo Pereira Silva, de 42 anos. Com mais de duas décadas de experiência em agências de publicidade, ele já precisou ser atendido por médicos três vezes devido a questões como ansiedade, crises de pânico e burnout.

 

A primeira situação aconteceu em 2010, quando precisou ser levado do trabalho para o hospital de ambulância. “Tive sintomas como taquicardia, achava que estava morrendo, mas os médicos logo entenderam que não era nada físico e sim psicológico”, comentou. 

 

Mesmo mantendo uma vida pessoal saudável, o nível de estresse causado pelo trabalho é tão elevado que afeta sua vida diária. “Levo uma vida saudável, pratico natação, não bebo, não fumo, faço dieta e o nível de estresse é tamanho que não consigo, mesmo tendo uma vida saudável, ter uma vida normal”. 

 

O profissional passa por tratamento psicológico há sete anos, realizando sessões semanais e também recorre à hipnoterapia para controlar a ansiedade. Hoje em dia, ele mantém uma relação mais equilibrada com o trabalho e aproveita mais os momentos de tranquilidade com a família. 

 

VIOLÊNCIA E ASSÉDIO

Outras informações, divulgadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), também revelam um aumento nos casos de violência ou assédio psicológico no ambiente de trabalho, que podem contribuir para os transtornos mentais. Em 2023, houve um acréscimo de 175% em comparação ao ano anterior, passando de 29 para 80 ocorrências.

 

Episódios de violência e assédio no ambiente de trabalho podem ser denunciados na Ouvidoria do Ministério Público do Trabalho. Para realizar o processo, basta acessar o site do MPT. Na parte superior da tela haverá o link “Procuradorias Regionais do Trabalho”, a qual remeterá para a página da Regional pretendida. As denúncias podem ser feitas eletronicamente, clicando-se no link “Denúncias”, mas também podem ser registradas pessoalmente ou por telefone, respectivamente no endereço e número disponibilizados no portal. 
 


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