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10/04/2024 às 12h20min - Atualizada em 10/04/2024 às 12h20min

Número de nascimentos em Uberlândia cai quase 14% nos últimos anos

Psicóloga comportamental atrela o cenário a fenômeno histórico e social

JUAN MADEIRA | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Em 2023, cidade registrou 8.575 nascimentos de crianças | Foto: Agência Brasil

Ao longo dos últimos oito anos, o número de nascimentos caiu quase 14% em Uberlândia. Segundo dados do Cartório de Registro Civil, a cidade teve 8.575 nascimentos em 2023, enquanto em 2015, a quantidade de registros chegou a 9.958. 

 

Ainda de acordo com o levantamento, desde 2015, a taxa de natalidade no município caiu constantemente. Apenas no ano de 2018 que a cidade registrou uma alta no número de nascimentos de crianças. Confira a tabela completa no fim da matéria. 

 

Os dados apontam ainda uma redução de 4,6% nos primeiros três meses de 2024 em comparação ao mesmo período do ano passado. Entre janeiro e março deste ano, Uberlândia teve 2.175 nascimentos. Já em 2023, foram contabilizados 2.280 registros. 

 

A psicóloga comportamental, Beatriz Menegi, apontou que o cenário se trata de um fenômeno histórico, principalmente pelas conquistas sociais e econômicas das mulheres. A inclusão no mercado de trabalho, a busca por condições melhores de vida e a luta pela igualdade de direitos são alguns fatores que, atualmente, impactam na decisão de ter filhos. 

 

Cada vez mais as mulheres buscam crescimento profissional e independência e, segundo a profissional, o mercado de trabalho não está preparado para as necessidades daquelas que decidem se tornar mães. Além disso, apesar das conquistas, as atividades domésticas ainda são desproporcionalmente maiores para as mulheres em comparação aos homens, resultando em uma dupla jornada para elas. 

 

“O mercado de trabalho não está preparado para as necessidades da mulher, incluindo um plano de carreira que ela consiga crescer na sua área de atuação e ser mãe. Por esses fatores elas acabam abrindo mão ou postergando a maternidade para focar na carreira e ter estabilidade”, explicou. 

 

ESCOLHA

A autora do livro “A Serenidade da Renúncia”, Larissa Cruvinel, de 36 anos, é um exemplo de mulher que escolheu não gerar um filho e decidiu compartilhar sua história com o mundo. Ela relatou que a obra começou como um diário pessoal e, ao perceber o alívio que sentia ao escrever, viu a oportunidade de contribuir com outras mulheres.

 

“No livro eu faço uma jornada para compreender as motivações por trás dessa decisão, pois nunca se resume a um único motivo. Abordo o custo de criar um filho, conversei com mulheres que tiveram filhos que enfrentaram doenças, que se divorciaram enquanto amamentavam, que ficaram viúvas, entre outras. Foi um contato com os desafios de forma realista, sem romantização”, explicou.

 

Para Larissa, ainda existe um tabu por parte da sociedade em torno dessa escolha. “Se uma mulher decide não ter filhos, muitas vezes é vista como alguém que vai contra um instinto natural, ou é acusada de egoísmo, ou de querer uma vida promíscua, livre de grandes responsabilidades e compromissos”, contou. 

 

A escritora reforçou que também percebe críticas veladas e uma certa exclusão em algumas situações sociais, como amigas que são mães e deixam de convidar para aniversários e eventos que envolvem os filhos. “E não é por maldade, é algo inconsciente que acontece nos grupos sociais”

 

De acordo com a autora, a decisão de não ter filhos é multifatorial e deve ser baseada em valores pessoais. “Acredito que o principal fator deve ser os valores pessoais da mulher. Quando alguém decide ter um filho para satisfazer expectativas da mãe, da sogra ou do marido, essa escolha é influenciada por fatores externos sobre os quais não temos controle. Além disso, não deixo totalmente descartada a opção de no futuro fazer a adoção de uma criança mais crescida, e também congelei óvulos por indicação médica”.

 

A jovem Skarlet Fagundes de 26 anos contou que cuida de crianças desde mais nova. Por ser a filha mais velha da família, ela foi responsável por cuidar dos primos e do irmão mais novo, e isso contribuiu para a decisão de não querer ter filhos.

 

“Tive um irmão quando eu tinha 10 anos de idade e sempre fui cuidando dele. Eu sinto que já eduquei várias crianças, e sinto que ainda tenho a responsabilidade de educar meu irmão, hoje com 16 anos. Além disso, também tem fatores que pesam na decisão, como questões financeiras e o fato de que meu companheiro também não tem intenção de ter filhos”, relatou. 

 

Skarlet contou ainda que enfrenta questionamentos frequentes de outras pessoas sobre a decisão. “Minha mãe questiona quem cuidará de mim no futuro e como posso pensar em deixar o mundo sem descendentes para lembrar de mim. E mesmo ainda sendo nova, não vejo um futuro com espaço para um filho em minha realidade, principalmente considerando a qualidade de vida em um mundo tão acelerado”, finalizou. 

 

NASCIMENTOS EM UBERLÂNDIA

  • 2023: 8.575
  • 2022: 8.716
  • 2021: 8.862
  • 2020: 9.241
  • 2019: 9.960
  • 2018: 10.057
  • 2017: 9.981
  • 2016: 9.741
  • 2015: 9.958

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