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30/10/2023 às 18h06min - Atualizada em 30/10/2023 às 18h06min

Censo: jovens adultos de 25 a 29 anos são maioria em Uberlândia

Pesquisa aponta maioria de mulheres na pirâmide etária da cidade; dados indicam envelhecimento natural do município

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Maior parte da população uberlandense está concentrada na faixa entre 25 e 44 anos I Foto: CLEITON BORGES/SECOM/PMU
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a faixa etária predominante em Uberlândia mudou do Censo 2010 para o de 2022. Antes, a maior parte da população tinha entre 20 e 24 anos. Atualmente, a idade que prevalece no município é de jovens adultos entre 25 e 29 anos, expondo o envelhecimento na pirâmide etária da cidade.
 
Dos 713.224 habitantes de Uberlândia, cerca de 60.249 fazem parte do intervalo predominante, representando 8,4% da população total. Na sequência, a maior parte dos moradores locais têm entre 30 e 34 anos, um número que gira em torno de 8,3% de toda a composição etária local.
 
De acordo com o coordenador do Censo em Uberlândia, Daniel Nunes, a pesquisa divulgada pelo IBGE tem como objetivo colher dados para a criação de políticas públicas futuras para todos os municípios do país. Com as informações obtidas pelo órgão, o Município e a União podem traçar planos de acordo com a pirâmide etária de cada cidade.


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“O censo serviu para mostrar que a população de Uberlândia envelheceu de uns anos para cá. Isso é um indicador de políticas públicas voltada para a população mais idosa, já que há uma tendência de envelhecimento. Com os dados, as autoridades podem começar a pensar em políticas voltadas para a aposentadoria e saúde, por exemplo. Isso vai de acordo com a estrutura da pirâmide etária de cada região”, disse.
 
Ainda segundo Nunes, é possível verificar dados relevantes para o sistema previdenciário de Uberlândia. A tendência de envelhecimento e aumento da expectativa de vida pode causar uma sobrecarga na previdência municipal. Com menos mão de obra no futuro, Daniel acredita que o censo pode contribuir com mudanças no mercado de trabalho nos próximos anos.
 
“A gente verifica pela tabela que as pessoas estão tendo menos filhos. Com menos trabalhadores para manter o sistema previdenciário, é preciso que programas sejam pensados para que a população idosa tenha mais assistência no futuro. Quanto mais idosos, mais é preciso pensar no sistema de saúde. O censo é importante por isso, para verificar onde o Governo pode atuar para melhorar”, explicou o coordenador do IBGE.
 
MAIORIA DE MULHERES
Os novos dados do Censo do IBGE mostram ainda que o público feminino aumentou sua presença em Uberlândia. No levantamento realizado em 2010, foram constatadas 305.868 mulheres vivendo na cidade, representando 50,6% da população total à época. Na última pesquisa, realizada no ano passado, o número encontrado foi de 369.259, um aumento de 20,7%, representando agora 51,7% da população geral.
 
De acordo com a especialista em estudos populacionais, Geisa Daise Gumiero Cleps, essa dinâmica tem acontecido em todo o Brasil há alguns anos. Ela conta que estudos mostram que nascem mais homens do que mulheres no país. No entanto, a partir de uma determinada faixa etária, a taxa de mortalidade do público masculino acaba sendo maior.
 
Geisa esclarece que não é possível generalizar as causas de morte em um país com desigualdades sociais e econômicas, mas dados comprovam que os homens têm maiores registros de mortes a partir dos 20 anos de idade. Na maioria dos casos, os óbitos não são relacionados a causas naturais, mas acidentais.
 
“No geral, são acidentes de trânsito e ocorrências associadas com drogas e violência. Em determinada faixa etária, eles têm uma taxa de mortalidade superior à das mulheres. Isso se justifica a nível nacional e em vários países a dinâmica é a mesma. As mulheres também costumam ter uma expectativa de vida maior, elas costumam se preocupar mais com a saúde, ainda que muitos homens também o façam”, afirmou Geisa.
 
DINÂMICA POPULACIONAL
Conforme relatado pela especialista, a mudança na pirâmide etária de Uberlândia pode ser explicada por fatores de natalidade e processos migratórios existentes na cidade. Em sua visão, o município tem um fluxo migratório intenso, o que contribui para uma idade predominante mais jovem.
 
Além disso, a taxa de natalidade tem diminuído ano após ano no Brasil. Em 2010, a taxa era de 1,9. Geisa explica que isso gerou menos crianças na cidade e, depois de 12 anos, o resultado óbvio era uma tendência de envelhecimento em Uberlândia. “Se tem nascido menos pessoas, óbvio que a população vai envelhecer”, relatou.
 
Outro fator que também explica o envelhecimento registrado em Uberlândia é com relação às taxas de mortalidade. A cidade possui, hoje, uma expectativa de vida maior do que 12 anos atrás. O último censo do IBGE apontou que a expectativa de vida do brasileiro é de aproximadamente 77 anos.
 
Segundo a especialista, isso deve gerar uma taxa de envelhecimento ainda maior nos próximos censos do IBGE. O fenômeno, de acordo com ela, é observado há anos no Brasil, seguindo uma tendência mundial. Os avanços na tecnologia e na área da saúde fazem com que a população viva por mais tempo e com mais qualidade de vida.
 
“As pessoas estão vivendo mais e buscando um outro estilo de vida. Depois da aposentadoria, muitos idosos querem viajar, fazer atividades físicas, e isso acaba reduzindo a taxa de mortalidade. Esses fatores têm sido muito importantes para aumentar a expectativa de vida”, explicou Geisa.

TENDÊNCIA DE ENVELHECIMENTO
O professor de geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Rivaldo Faria, conta que o comportamento encontrado no Censo 2022 é parecido com a tendência registrada no Brasil de um modo geral. A idade mediana, segundo ele, saltou de 30 anos de idade para 35 anos de idade entre 2010 e o ano passado.
 
Em 2010, por exemplo, Uberlândia tinha 41.067 idosos acima de 65 anos, o que representava 6,7% da população total na época. Em 2022, são 73.171 pessoas acima dos 65 anos na cidade. Percentualmente, o público representa 10,2% de toda a população que reside no município. De acordo com Rivaldo Faria, o dado mostra uma tendência natural de envelhecimento.
 
Ao mesmo tempo, o percentual de crianças de 0 a 14 anos diminuiu em Uberlândia do último censo para cá. Em 2010, este público continha 125.589 habitantes em Uberlândia, cerca de 20,7% da população geral. No Censo 2022, o índice encontrado foi de 18,2% da população geral, chegando a 130.459 crianças e adolescentes.
 
“A tendência para Uberlândia é o aumento da taxa de envelhecimento. Uberlândia é uma cidade muito grande, que teve um crescimento de mais de 18% de 2010 e 2022. É como se tivesse surgido uma outra cidade. O município é conhecido pela taxa elevada de migrantes, e isso faz com que a estrutura etária não seja de uma população tão idosa”, disse Rivaldo.
 
Ao relatar o fenômeno, o especialista em estudos populacionais compara com outras cidades do país, que possuem uma faixa etária predominante maior do que a registrada em Uberlândia. A idade que prevalece no município, de acordo com ele, é fruto da entrada de jovens trabalhadores, já que o público idoso não costuma migrar na mesma quantidade que adultos.
 
Em todo o Triângulo Mineiro, Uberlândia é a cidade com a faixa etária predominante mais jovem. A maior parte da população de Araxá é composta por pessoas entre 35 e 39 anos, enquanto Uberaba, Patos de Minas, Araguari e Ituiutaba têm em sua maioria adultos com idades entre 40 e 44 anos.
 
IMPACTO NA ECONOMIA
De acordo com o economista Marcelo Cunha, a faixa etária predominante de Uberlândia pode trazer aspectos positivos e negativos para a economia de uma cidade. Em entrevista cedida ao Diário, ele conta que o grupo de pessoas entre 25 e 29 anos é considerado como um dos mais produtivos e economicamente ativos.
 
Conforme divulgado pelo próprio IBGE, a população economicamente ativa de Uberlândia é de aproximadamente 245,2 mil pessoas, representando 35,1% da população total da cidade. No entanto, não há informações sobre a distribuição da população economicamente ativa da cidade por faixa etária. Dessa forma, não se pode afirmar se a concentração de jovens e adultos no município cria maior procura de emprego ou concorrência no mercado de trabalho.
 
“É necessário avaliar cuidadosamente as tendências do mercado de trabalho local e as necessidades da população em idade ativa, a fim de planejar políticas públicas eficazes que possam promover o desenvolvimento econômico e social da cidade. É preciso fazer uma análise mais completa do perfil demográfico da população”, explicou.
 
Ainda de acordo com o especialista em ciências contábeis, a presença de uma população jovem e em idade ativa costuma ter um impacto positivo na economia local, com o aumento da procura de bens e serviços dirigidos ao público-alvo. Contudo, os principais grupos etários não são as únicas variáveis a se considerar na análise da população urbana.
 
“Não há informações sobre a correlação entre distribuição etária e consumo na cidade de Uberlândia. No entanto, a investigação mostra que os jovens tendem a gastar mais em tecnologia, entretenimento e serviços. Uma pesquisa mostra que os gastos com jogos eletrônicos aumentarão 519% entre 2022 e 2023. Os jovens nascidos entre 1995 e 2010 são cada vez mais procurados pelas empresas. À medida que envelhecem, ingressam no mercado de trabalho e a renda aumenta, tornando-os consumidores com maior potencial”, disse.
 
DESAFIOS
O professor universitário falou ainda que Uberlândia tem desafios econômicos específicos associados a uma população jovem. Marcelo Cunha conta que mesmo sendo um dos grupos mais ativos e produtivos, os jovens adultos enfrentam o desemprego e a necessidade de investir em educação e formação profissional.
 
Segundo dados do IBGE, o percentual de jovens desempregados em Uberlândia é de 17,5%. O economista defende a necessidade de políticas públicas para a promoção do emprego e da formação profissional dos jovens. Em sua visão, isso pode incluir iniciativas como programas de estágio, capacitação profissional, incentivos fiscais para empresas que contratem jovens, entre outras medidas.
 
Além disso, Cunha afirma que as políticas precisam ser adaptadas às necessidades específicas da população jovem de Uberlândia, levando em consideração o gênero, renda, escolaridade e também distribuição geográfica. O investimento em empreendedorismo e desenvolvimento de startups também são fatores a serem observados pelo poder público.
 
“A cidade também pode investir em infraestruturas e serviços destinados a este público-alvo, tais como instalações culturais, desportivas e de entretenimento. Outra forma de aproveitar esse foco entre os jovens é por meio da tecnologia. A cidade pode investir em soluções tecnológicas que facilitem o acesso a serviços públicos e privados, como aplicativos móveis para agendamento de consultas médicas, pagamento de impostos e serviços bancários”, ressaltou.
 
COMPARATIVO
 
Censo 2010
305.868 mulheres
298.145 homens
604.013 habitantes
 
Censo 2022
369.259 mulheres
343.965 homens
713.224 habitantes


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