O Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) é o primeiro hospital público de Minas Gerais a oferecer o exame de polissonografia, através do Sistema Único de Saúde (SUS). O procedimento avalia a qualidade do sono e identifica possíveis complicações de saúde.
Segundo a administração da unidade, o exame é referência para o diagnóstico de distúrbios que ocorrem enquanto dormimos, como a apneia do sono, condição que interrompe a respiração por alguns segundos, gerando consequências graves na saúde do paciente.
De acordo com o médico pneumologista Thulio Marquez, cerca de 30% da população brasileira não tem um sono de qualidade, podendo ter acometimentos relacionados a distúrbios. O caso, então, deve ser tratado como uma questão de saúde pública, na visão do também professor da Faculdade de Medicina (Famed/UFU).
“O exame é muito importante, porque são muitas doenças relacionadas ao sono. O mais grave é a apneia, que consiste no fechamento completo das vias aéreas, impedindo que o paciente respire ao longo da noite, cai a saturação do oxigênio, a pressão sobe e o paciente acorda. Isso impede que o paciente descanse. Ele tem mais riscos de desenvolver doenças psiquiátricas, como ansiedade e depressão. A quebra de oxigenação e a normalização repetidas vezes é ruim para o organismo, porque pode levar a doenças cardiorrespiratórias e derrames”, detalhou.
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O EXAME
A polissonografia avalia a qualidade do sono por meio da análise das frequências cardíaca e respiratória. Conforme relatado por Marquez, é necessário um pedido médico para realizar o exame. Geralmente, o médico solicita o procedimento quando o paciente apresenta sonolência excessiva, queixa de roncos exagerados ou relata que não se sente descansado mesmo tendo dormido a noite toda.
O especialista explica que, para garantir que a análise seja a mais próxima possível da realidade, o exame precisa ser realizado durante a noite, sendo que o paciente deve dormir no hospital. A pessoa vai ser monitorada com a aplicação de eletrodos e sensores. Quando o sono chega, o equipamento registra todos os detalhes que o médico precisa para a avaliação da qualidade de sono e determinar as possíveis intervenções terapêuticas.
“O paciente chega no hospital e é preparado com eletrodos que medem o fluxo de ar, o movimento cerebral, frequência cardíaca e outros sinais. O paciente dorme no laboratório, e a gente avalia esse traçado durante a noite. A polissonografia permite o diagnóstico de distúrbios e que a gente proponha o tratamento adequado para cada caso”, disse.
Dados divulgados pelo HC-UFU indicam que cerca de 31 polissonografias foram realizadas desde a implementação do exame na unidade, no segundo semestre deste ano. Além disso, o hospital também realizou oito atendimentos neste ano, sendo seis relacionados à apneia do sono, um de distúrbio do sono por sonolência excessiva e outro por distúrbio do início e da manutenção do sono.
No ano passado, antes do exame ser implementado, o HC-UFU atendeu 63 pessoas com algum problema relacionado ao sono. A maioria foi relacionado a distúrbios do início e da manutenção do sono (31), seguido de pacientes com apneia do sono (17). Na sequência, aparecem casos de distúrbio do sono não especificado (12), além de narcolepsia e cataplexia (1), distúrbios do sono por sonolência excessiva (1) e outros distúrbios (1).
Ainda de acordo com Thulio Marquez, o paciente não precisa ter um preparo específico para poder realizar a polissonografia. Não há restrições alimentares, e o paciente deve seguir a mesma rotina do dia a dia na data do exame. O procedimento também não é invasivo. Não há coleta de sangue. Os eletrodos são fixados na pele com esparadrapo, sendo um exame considerado indolor.
QUALIDADE DE VIDA
O pneumologista alertou ainda para cuidados a serem tomados pela população. Além de levar uma qualidade de vida com dieta balanceada e a prática de exercícios físicos, é fundamental ajustar a quantidade mínima de horas de sono necessárias, além de evitar a privação do descanso.
Segundo ele, toda pessoa tem uma quantidade mínima de horas necessárias para descansar. Isso costuma variar de 6 a 8 horas. Para ter uma noção de quanto tempo é preciso, Thulio Marquez recomenda que a pessoa anote, em uma época de férias ou durante um fim de semana, que horas ela vai dormir e que horas ela acorda, sem o uso do alarme. A quantidade de horas neste caso é o tempo necessário para repor as energias.
“Cada pessoa tem uma quantidade de horas necessárias para descansar, é individual. A qualidade do sono é muito importante. Quando entra a questão do ronco e da apneia, o paciente precisa buscar ajuda. Não existe aquela coisa de estar acostumado a dormir pouco. Se o paciente fala isso, ele está em uma situação de privação crônica do sono. Isso traz consequências para a saúde, levando a doenças neurológicas e psiquiátricas no futuro”, finalizou o médico.