Procedimentos para detectar enfermidade devem ser realizados com frequência | Foto: Agência BrasilO mês de outubro chegou, e com ele é iniciada mais uma campanha do “Outubro Rosa”. A iniciativa tem como objetivo principal conscientizar a população sobre o câncer de mama, a neoplasia que mais mata mulheres no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Em Uberlândia, unidades de saúde intensificam as ações para incentivar o diagnóstico precoce da doença.
Além de ser o tipo de câncer mais comum, o câncer de mama é a primeira causa de morte por tumores em mulheres do país. Em 2021, a taxa de mortalidade pela doença foi de 11,7 óbitos a cada 100 mil mulheres. Na região sudeste, o índice chegou a 12,4. A maior concentração de exames de mamografia ocorre na faixa etária entre 50 a 69 anos, seguida da faixa entre 40 e 49 anos de idade.
Segundo a médica Lara Jeanne, o exame de mamografia é fundamental para indicar a existência de um possível câncer nas mamas. É através do teste que o especialista vai averiguar possíveis alterações e nódulos nas mamas e, a partir disso, indicar a possível neoplasia presente no corpo da mulher.
A oncologista explica que o exame é altamente indicado para mulheres a partir dos 50 anos de idade, mas pessoas que têm mais de 40 também podem fazer com uma frequência de pelo menos uma vez por ano. No caso de possíveis pacientes com casos de câncer de mama na família, a regra é a mesma, mas requer um pouco mais de atenção.
“A mulher deve ficar atenta a um nódulo ou um caroço na mama ou na axila de forma persistente. A mama fica mais vermelha do que o habitual e também pode ter saída de secreção pelos mamilos. Estes são os principais sintomas de um possível estágio inicial do câncer de mama”, disse.
Conforme relatado por Lara, a detecção e o diagnóstico precoce, aliados a uma boa qualidade de vida, são fundamentais para que a paciente tenha chance de cura e sobrevida em relação à enfermidade.
“Quando diagnosticado cedo, o tratamento é muito mais fácil, com uma cirurgia mais simples. Em muitos casos, quando o diagnóstico é precoce, nem de quimioterapia a paciente precisa. Aumenta muito as chances de cura, em mais de 90%. Quanto mais tardio e avançado o câncer, menores são as chances de curar e tratar a doença”, detalhou a oncologista.
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REALIDADE EM UBERLÂNDIA
Referência no tratamento de pacientes oncológicos, o Hospital do Câncer (HCa) recebeu mais de 205 pacientes em tratamento contra o câncer de mama em 2022, de acordo com dados prévios da unidade. O número engloba pessoas que passaram por procedimentos como cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou hormonoterapia.
A preocupação com o câncer de mama durante o mês de outubro reflete os números da enfermidade registrados no Hospital do Câncer. O último censo oficial da unidade, em 2021, apontou que este tipo de câncer foi o mais predominante em mulheres no hospital. Na ocasião, foram registrados 284 atendimentos a pacientes com este tipo de enfermidade. No mesmo ano, 61 óbitos relacionados ao câncer de mama foram computados em Uberlândia.
O caso mais comum de câncer entre as mulheres não deve parar por aí. O INCA estima que, entre 2023 e 2025, mais de 7 mil casos novos de câncer de mama sejam registrados apenas em Minas Gerais. Para isso, o diagnóstico precoce segue sendo uma das maneiras mais eficazes de prevenir e facilitar o tratamento da doença.
O Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) também recebeu pacientes com a doença no ano passado. Em 2022, foram 206 internações registradas relacionadas à enfermidade, entre janeiro e agosto. Durante o mesmo período de 2023, o número computado foi menor, somando 140 pacientes internados, uma queda de 32%.
DIAGNÓSTICO PRECOCE
O diagnóstico precoce fez a diferença no tratamento de Idelma Maria Henrique, de 54 anos. Aos 49, ela descobriu o câncer de mama ainda no estágio inicial da doença, depois de fazer uma mamografia em um hospital de Uberlândia. Se não fosse por sua intuição ao perceber que algo estava errado, a enfermidade poderia ter sido mais grave e possivelmente fatal.
Em conversa com o Diário, Idelma relatou que o caso começou em 2015, quando foi constatada uma massa na região dos seios. Na época, o médico relatou que ainda não havia suspeita de câncer de mama, mas pediu que ela ficasse atenta e retornasse para novos exames em até dois anos.
No início de 2017, ela percebeu um cisto nos seios e resolveu buscar ajuda. Natural de Monte Carmelo (MG), ela veio para Uberlândia e realizou uma série de exames, que constataram o câncer. A partir disso, ela iniciou o tratamento no Hospital do Câncer (HCA), de onde recebeu alta em fevereiro de 2023.
“A suspeita que era moderada se confirmou. Descobri que tinha câncer de mama no dia 3 de maio de 2017. Pedi para Deus me deixar de pé e comecei a quimioterapia em junho. Felizmente eu fui agraciada por Deus no tratamento. Não tive enjoo, vômito ou passei mal. Fiz o tratamento por cinco anos e no dia 10 de fevereiro recebi alta do tratamento”, disse Idelma.
Após vencer a luta contra o câncer, Idelma alertou sobre a importância de realizar os exames de mamografia com frequência para prevenir o câncer de mama. Ela acredita que o tema ainda é um tabu para muitas mulheres, e que várias pessoas ainda têm medo e vergonha de procurarem especialistas e falarem sobre a enfermidade.
“Quando achado no início é muito mais tranquilo e a chance de cura é de 95%. A fé é o primeiro passo para curar a gente e levar a vida com leveza e alegria. Foi a minha fé que me curou. Deus estava comigo me guiando e conduzindo até a vitória. Eu sou uma vitoriosa com a graça de Deus. Eu vi minha família chorando, mas não chorei nenhum dia. Nada acontece por acaso”, relatou.
GRUPO LUTA PELA VIDA
Fundado em 1996, o Grupo Luta Pela Vida (GLPV) é uma instituição filantrópica que tem como objetivo prestar assistência a pacientes oncológicos de Uberlândia, oferecendo melhores condições de tratamento, cura e bem-estar. A organização realiza ações durante todo o ano, e intensifica os cuidados e ações durante o Outubro Rosa.
Um dos fundadores do grupo é o médico oncologista Rogério de Araújo, de Uberlândia. De acordo com o especialista, o grupo busca arrecadar recursos para serem investidos em prol dos pacientes oncológicos em tratamento, através do Hospital do Câncer, do Centro de Cuidados Paliativos Oncológicos, Apoio Social, Pesquisa e Voluntariado.
Com relação ao câncer de mama, Araújo conta que é através das ações do GPLV que muitos diagnósticos precoces são realizados dentro do Hospital do Câncer de Uberlândia. Para o especialista, é importante ter pesquisas para prevenir cada vez mais os casos de neoplasia não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
“Nós conseguimos diagnosticar cedo alguns casos de câncer de mama, sendo que todas essas pessoas são acompanhadas. É muito satisfatório ver mulheres com 40 anos que já começam a fazer a mamografia anualmente. É ideal que o diagnóstico seja feito antes do tumor se tornar palpável. Em muitos casos, quando o diagnóstico é precoce, a mulher pode fazer apenas uma cirurgia, sem a necessidade do tratamento, que é muito agressivo”, explicou o médico.
Além dos exames de mamografia anuais, Rogério de Araújo recomenda que as mulheres passem a se preocupar mais com a saúde e o bem-estar. É fundamental que elas tenham uma rotina de atividade física e boa alimentação, já que, segundo ele, o câncer de mama possui alguns gatilhos.
“O gatilho do câncer de mama está relacionado a muita coisa genética e também ao estilo de vida da pessoa. O câncer é relacionado ao aumento da concentração do hormônio feminino, que é o estrogênio. Ele é mais comum e possui maiores quantidades em pessoas que não gostam de atividades físicas e comem bastante. Quanto maior a produção de estrogênio, maior as chances de desenvolver um câncer de mama. O câncer não tem que ser pensado em uma doença que começou ontem. Talvez, ele começou décadas atrás”, detalhou Rogério de Araújo.
Ainda segundo Rogério de Araújo, o Grupo Luta Pela Vida sobrevive de doações. Foi através da ajuda das pessoas que a organização investiu mais de R$ 100 milhões no Hospital do Câncer desde a sua inauguração. São mais de 70 colaboradores contratados para atuarem no hospital, sendo que são realizados mais de 650 atendimentos por mês no espaço de apoio social da instituição.
As doações acontecem pelo site da organização, por Pix, depósito ou transferência e até mesmo através da campanha “Troco Solidário”, presente em empresas da cidade.
UNIDADES MUNICIPAIS
A Prefeitura de Uberlândia também intensificou, neste mês, as ações voltadas para as mulheres nas unidades municipais de saúde. Dentre as ações oferecidas pelo Município, estão a busca ativa para o agendamento de exames de mamografia, aumento da coleta de exames citopatológicos (Papanicolau) e palestras de conscientização nas salas de espera.
A mamografia é ofertada para mulheres entre 40 e 69 anos. De acordo com dados da Prefeitura, a média de exames realizados por mês é de 2,7 mil. A intensificação do Papanicolau em outubro tem ainda o apoio das divulgações em grupos de WhatsApp, com o objetivo de aumentar a busca para a marcação de consultas de rotina para mulheres que não compareceram em unidades de saúde neste ano.
Além do trabalho de conscientização e prevenção do câncer de mama, o poder público aproveita o momento de mobilização para desenvolver outras ações focadas na saúde da mulher, como os cuidados para evitar também o câncer de colo de útero. Segundo a coordenadora da Atenção Primária, Karina Kelly de Oliveira, os trabalhos acontecem durante todo o ano, mas recebem uma atenção especial em outubro.
“Em outubro, aproveitamos a mobilização nacional para reforçar com todos, inclusive com os profissionais, sobre a importância do diagnóstico precoce. Esses dois procedimentos são muito importantes para todas as mulheres para prevenção de câncer de mama e de colo uterino. Se tivermos o diagnóstico precoce, o tratamento tem maiores chances de sucesso, por isso peço a todas as mulheres que compareçam às unidades”, disse.
