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01/07/2023 às 10h00min - Atualizada em 01/07/2023 às 10h00min

O que se sabe sobre o clarão que cruzou o céu de Uberlândia e região a 53,1 mil km/h

Professor da UFU, Félix Nannini, afirma que o objeto tem características de um fragmento de asteroide

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Na última semana, entre os dias 19 e 20 de junho, moradores do Triângulo Mineiro foram surpreendidos com um fenômeno que chamou a atenção. Um clarão no céu foi avistado em várias cidades, entre elas Uberlândia, Patos de Minas, Araxá e Carmo do Paranaíba. O caso ganhou repercussão nas redes sociais, com diversas imagens e vídeos flagrando o momento.
 
Para entender o fenômeno, o Diário conversou com o professor de Geologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Félix Nannini. Segundo o especialista, o Brasil possui uma rede nacional de observatórios de astronomia que monitora a atividade de meteoros a partir de filmagens do céu em diversas cidades do país, chamada BRAMON.
 
No dia em que a luz foi vista no céu, a rede emitiu uma nota técnica sobre o episódio, informando que o clarão foi visto nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Goiás, Distrito Federal e Espírito Santo. O objeto começou a brilhar acima da Serra da Piedade (MG) e apagou em Elias Fausto (SP), a 34,3 km da superfície.


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De acordo com Félix Nannini, a partir da distância entre os dois lugares e o tempo no qual o objeto foi visto, a rede BRAMON calculou uma velocidade média do clarão de 53,1 mil quilômetros por hora. Devido à alta velocidade, o especialista acredita que o fenômeno tem mais características de um fragmento de asteroide (um corpo rochoso) do que de um lixo espacial em queda.

VEJA O VÍDEO:


Clarão foi registrado entre os dias 19 e 20 de junho; rede de monitoramento ainda estuda origem do objeto I Foto: REPRODUÇÃO/REDES SOCIAIS 
 
 
CARACTERÍSTICAS
O professor da UFU explica que existem características que diferenciam esses fenômenos, entre eles: meteoros, lixo espacial e asteroides. Segundo ele, os lixos espaciais consistem em objetos que foram colocados em órbita ao redor do planeta Terra e que não apresentam mais função, como satélites ou partes de foguetes. São itens com origem exclusivamente humanas.
 
Enquanto isso, o meteoro é o efeito da entrada na atmosfera de algum fragmento de rocha proveniente do espaço. “A principal fonte desses fragmentos é a região chamada de Cinturão de Asteroides, que fica entre os planetas Marte e Júpiter. Devido à grande quantidade de asteroides nessa região, podem ocorrer colisões entre eles, fazendo com que haja um desvio da rota original. Esses desvios eventualmente podem direcionar blocos rochosos de tamanhos variados, em alta velocidade, em direção ao planeta Terra”, explicou.
 
Ainda segundo Nannini, quando um fragmento rochoso atinge a atmosfera, os gases contidos nela começam a exercer uma força contrária ao movimento, chamada de atrito. Quanto maior for a velocidade de um objeto, maior será a interação dele com o ar. Quando isso ocorre, o objeto fica com a temperatura elevada e ele passa a emitir luz. Esse fenômeno é o meteoro, popularmente chamado de estrela cadente.
 
O professor disse ainda que se no final do fenômeno restar algum fragmento de rocha, tocando o chão, o restante desta rocha é chamado de meteorito. O objeto é diferente de um cometa, por exemplo, que é composto de gelo e é proveniente de regiões mais distantes e frias do Sistema Solar.
 
FREQUÊNCIA
Félix Nannini afirma que a aproximação de meteoros ocorre com certa frequência, e que podem ser avistados no céu de qualquer parte do planeta. No entanto, a grande maioria dos fragmentos rochosos que atingem a atmosfera da Terra são pequenos e rapidamente desintegrados. Outro problema é que as luzes em zonas urbanizadas dificultam a observação de meteoros pequenos.
 
De acordo com o docente da UFU, o BRAMON ainda realiza cálculos para estimar melhor o tamanho do objeto antes de entrar na atmosfera. Dessa forma, ainda não é possível afirmar ao certo do que se tratava, de fato, o que era o clarão visto pela população de Uberlândia e região.
 
“O fenômeno ocorrido na última semana possivelmente foi gerado por um fragmento rochoso relativamente maior que a média. Não se sabe se ao final do percurso houve queda de meteoritos. Esse último durou 30 segundos na sua forma iluminada”, disse o especialista no assunto.
 
RISCOS
Nannini explicou ainda sobre alguns riscos de objetos provenientes do espaço. Em alguns casos, existe a possibilidade de o fenômeno meteoro não ser capaz de desintegrar totalmente o fragmento de rocha em queda. Mesmo assim, as quedas de meteoritos ocorrem com mais frequência em regiões não habitadas, já que essas áreas são maiores em extensão do que as áreas habitadas na Terra.
 
O professor explica que os oceanos são os locais onde ocorrem a maior parte das quedas de meteoritos. Caso haja a queda de uma rocha vinda do espaço, ela pode ser perigosa e causar estragos, devido à alta velocidade e temperatura. No entanto, a probabilidade de uma pessoa ser atingida por um meteorito é menor do que ser atingida por um raio.
 
“Os meteoritos são rochas extremamente importantes para o entendimento, funcionamento e origem do Sistema Solar. A recomendação para quem encontra um meteorito é de encaminhar a rocha a um instituto de pesquisa, para que o material seja estudado, colaborando com a evolução dos conhecimentos sobre a astronomia”, esclareceu Félix Nannini.
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