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09/04/2023 às 12h00min - Atualizada em 09/04/2023 às 12h00min

Mercado de LPs e CDs se mantém vivo e cada vez mais ativo, em Uberlândia

Itens ainda têm bastante procura na cidade; museu virtual preserva a história de discos famosos

SÍLVIO AZEVEDO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Somente em 2023, loja especializada vendeu em média 150 LPs por mês | Foto: Divulgação
Muito se engana quem pensa que, com a era digital, tempos em que, através de aplicativos, é possível ter acesso a milhares de músicas, o mercado e os consumidores abandonaram de vez os antigos formatos. Pelo contrário, as “bolachas”, LPs, ou discos de vinil, e os compact disks, mais popularmente chamados de CDs, continuam tendo bastante espaço. Em Uberlândia, os sebos possuem uma grande variedade desses produtos e a procura ainda é muito grande.

Um dos locais mais tradicionais para compra e venda de álbuns é a Sebo Antiguidades e, segundo o proprietário Douglas Duarte, os vinis seguem em alta, com tendência de ultrapassar os CDs. “Em 2023 eu já vendi uma média de 150 LPs mensais, e está crescendo. Os CDs a média está em 300 unidades por mês. E o público é bem distinto, com os estudantes buscando os CDs e adultos, com mais de 25 anos, procurando os vinis”.

Para Douglas, o movimento dos vinis nunca deixou de existir, mas agora está em evidência, já que as empresas pararam a fabricação de CDs no Brasil. Pela loja dele, já passaram alguns álbuns bastante raros. “Já vendi alguns LPs com valores bem altos, como Os Tincoãs, Os Brasões, os das copas do Mundo De 1958, 1962 e 1970, e o Michael Jackson History. Além de outros raros, como o The White Album, dos Beatles, com defeito de fabricação nos 2 LP’S”. 

Já no Sebo Maravilha, a gerente Rayane Gomes diz que a procura é grande, mas o mercado de vinis está bastante disputado. Segundo ela, somente esse ano, já foram mais de 2 mil CDs vendidos e 800 vinis. “O mercado está bom, pois depende da quantidade que CDs e vinis que chegam pra gente. Os dois vendem bem. De um ano pra cá, tem saída de CD, pois têm chegado mais lotes. Mas é mais uma busca de colecionadores”.

O perfil desses consumidores, segundo Rayane, é composto por pessoas mais velhas e amantes do rock ‘n roll e da MPB. “Em relação aos colecionadores, 80% são mais velhos. Mas tem a garotada que está começando. O maior público é de quem gosta de rock, MPB”.

Segundo ela, a paixão pelo vinil persiste, mesmo com o surgimento de novas tecnologias. “Tem gente que gosta de colecionar. Os jovens têm lembrado que era assim e correm atrás. Mas tem uma turma que não para de colecionar. Ainda tem a qualidade de som, que o vinil que é 100% melhor, e olha que a tecnologia aumentou bastante”.

Uma das maiores vendas da loja, segundo ela, foi um vinil do Zé Ramalho. “O disco Paebiru, do Zé Ramalho foi vendido por R$ 7 mil. Esse preço foi para vender rápido, porque ele vale mais. Já o CD, [o maior preço] foi R$ 400 reais, fora os que vêm em embalagens especiais, que custam mais”.

O disco de vinil foi criado na década de 40, com potencial de reprodução de músicas nos dois lados da “bolacha”, os lados A e B. No final dos anos 90, chegou sua versão digital e menor, o compact disc, o CD, mais durável, com som mais claro e, principalmente, menor, no tamanho, mas que cabia uma quantidade maior de músicas.

Com isso, o vinil quase desapareceu ao final dos anos 2000. Porém, é um mercado que vem retomando seus amantes. Bandas famosas como Artic Monkeys, Lorde, Lana Del Rey, Lady Gaga, além de expoentes do cenário nacional, como Pity, Cachorro Grande, Racionais, e relançamento de sucessos como Beatles, Pink Floyd, entre outros, estão trazendo de volta a magia das vitrolas e caixas de som.


PAIXÃO DE COLECIONADOR
Uma paixão que passou de pai para filho. Foi assim que o vinil conquistou o colecionador José Mendes Neto, 50, um dos apaixonados pelo formato desde criança. Agora, sempre que pode, ele investe na compra de novos objetos para coleção.

“Essa paixão, quando eu era criança, nos anos 70 e 80, meu pai tinha muito disco. Ele gostava muito de sertanejo. Quando tinha coisa nova ele comprava. Tinham os compactos e as fitas k7. Meu pai via um cantor na novela, estava lá querendo comprar o disco. E eu fui adquirindo esse gosto de comprar. Só que eu gosto de rock e MPB”. 

José lembra também que, na infância, se reunia com amigos para ouvir os discos. “Quando tinha um grupo de amigos, sempre nos reuníamos para ouvir um disco novo, gravava fita, discutia sobre. Íamos nas lojas de disco e ficávamos maravilhados com aquilo tudo”.

Além da paixão, quando começou a trabalhar, Neto gastava boa parte em CDs, pois já tinha muitos vinis. “Quando comecei a trabalhar, nos anos 90, comprava muito CD, quando deu o boom e era a época da MTV, que sempre lançava muita banda nova, e eu ia lá comprar. Inclusive eu fui um dos primeiros que comprou o dos Mamonas Assassinas, que ouvi em um programa de rádio da época”. 

Sobre sua coleção, Neto afirma ter em torno de 1 mil CDs e 500 vinis. “É pouco, já vi gente com muito mais. Mas é o que eu gosto. Queria ter mais”.

Neto conta ainda que não tem muitos discos e CDs raros, mas alguns ele guarda com muito carinho. “CD da trilha sonora do filme Platoon, que nunca vi a venda. Tenho alguns CDs de pouca tiragem, que logo a banda acabou. Já os vinis, tenho alguns interessantes, entre eles um com a Xuxa na capa, antes de fazer sucesso. Além de um vinil da série Confissões de Adolescente. Esse não sai da minha coleção”.


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UM MUSEU DE CONHECIMENTOS
Quem também coleciona vinis é o fotógrafo Beto Oliveira, que tem uma coleção enorme de discos, incluindo alguns dos mais raros, como o já citado anteriormente, Paebiru, do Zé Ramalho.

“A paixão é a questão do saudosismo, questão tátil, pegar o disco e colocar. Eu ouço a música. Escutar, eu escuto em uma caixinha de som qualquer, fazendo alguma coisa. Tem muita coisa que vamos aprendendo”, contou Beto.

A paixão faz com que ele invista pesado, não só em vinis, mas também em equipamentos. O toca discos custa R$ 15mil, a agulha, cerca de US$ 800. Beto lembra que tem gente que gasta R$ 60 mil em um par de caixas de som. Tudo pela experiência de ouvir um som mais real. 

“Os graves e agudos são mais perceptíveis. Não sou técnico para falar, mas por mim, mesmo que tenha um chiado, é uma coisa gostosa. Mas o digital, em 1991, quando ouvi um CD, é tudo limpinho”.

Recentemente, o gosto do fotógrafo pelos discos foi expandido por meio de um projeto com a esposa, a museóloga Daniela Franco Carvalho, para a criação do Museu Virtual de Discos de Vinil (MDVD), nascido durante a pandemia em que ficaram afastados da sociedade.

“A gente estava em pandemia, o Beto, fotógrafo, sem oportunidade de trabalho e, coisas de passar os dias escutando discos de vinil. Ele me contava, para cada disco, histórias sobre esse vinil. Fomos colecionando historias a partir da escolha dos discos, E como trabalho com museu, dei a sugestão”, contou Daniela.

Para colocar em prática o projeto, Beto e Daniela conseguiram, através do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC), criar um ambiente virtual onde as pessoas podem conhecer um pouco da história de alguns discos por meio de pessoas que narram algumas situações envolvendo esses álbuns.

“A pessoa encontra um ícone, escolher a capa, por categoria ou nome do disco, e ele escuta um áudio e vídeo, explicativos sobre capa, encaixes, caixas, e histórias de pessoas de vivência única em relação a cada disco. Trazer peculiaridades sobre a vida em relação ao disco”, explica Beto.

Atualmente são 31 álbuns disponíveis no museu, divididos em quatro categorias, de artistas que vão desde Jorge Bem, a Novos Baianos, Raul Seixas, até raridades como Cilibrinas do Éden, conjunto formado por Lúcia Turnbull e Rita Lee, após deixar Os Mutantes, e que foi o embrião para a formação da Tutti Frutti.

Quem se interessar em conhecer o projeto Museu Virtual de Discos de Vinil (MDVD) pode acessar o site

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