Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
08/03/2023 às 09h10min - Atualizada em 08/03/2023 às 09h10min

No ringue, no volante e no ar; veja exemplos de mulheres de Uberlândia que superaram barreiras em áreas com maioria masculina

Diário traz entrevistas com profissionais que passaram por cima do preconceito em busca de reconhecimento no mercado e na sociedade

REPORTAGEM: SÍLVIO AZEVEDO I PRODUÇÃO: ALLANA LIMA I EDIÇÃO: BRUNA MERLIN

Nos últimos anos, as mulheres conquistaram cada vez mais espaço no mercado de trabalho e, apesar dos desafios, provaram que são qualificadas para ocupar qualquer profissão. Para celebrar o Dia Internacional das Mulheres, comemorado nesta quarta-feira (8), o Diário de Uberlândia conversou com profissionais que passaram por cima do preconceito e se estabeleceram em segmentos que, até pouco tempo, eram dominados por homens. 

Mecânica de formação, Laura Nalli,  de 30 anos, trabalha como assessora de uma rede de escolas de mecânica após se especializar na área. Envolta por vários homens, Laura diz que foram muitos desafios para provar que uma mulher pode liderar uma equipe com predominância masculina. 

 

“Esse desafio me encoraja a buscar mais conhecimento para mostrar a minha equipe que era expert no assunto. Foi um trampolim. O preconceito existe, hoje menos, mas passei por alguns desafios, como instrutores fazendo perguntas porque não busquei área comercial ou administrativa. Com o tempo isso me fez querer buscar mais conhecimento e poder liderar e ter conhecimento da área junto à equipe. O preconceito foi o combustível”.


A força e determinação de Laura serviu de inspiração a outras mulheres que também queriam seguir o mesmo caminho. Desde que abriu a unidade em Uberlândia, há cinco anos, a escola de mecânica já formou cerca de 30 mulheres na profissão.

“Hoje, a gente enquanto escola, temos um app que chama Emprega Mecânico, que já empregou mais de mil mulheres. Isso foi outro combustível para querer fazer entrar na área técnica. Há oficinas hoje que nos buscam para contratar mulheres. Acho que dentro da área técnica é visionário, ter uma gestão do todo. Tanto o segmento de linha leve e pesado, tem aberto as portas para as mulheres”.


NOS ARES


A engenheira aeronáutica, Isabella Ferreira, 26 anos, trabalha como instrutora de voo no Aeroclube de Uberlândia e afirma que a área é, majoritariamente, ocupada por homens. “Onde eu atuo, por exemplo, deve ter 1 mulher para cada 30 homens. Querendo ou não, você não se encaixa em todos os assuntos e em todas as rodas”.

Apaixonada pela aviação desde criança, foi uma das poucas mulheres das turmas de graduação e, também, dos projetos de extensão.  “Conseguir me formar em engenharia aeronáutica e ter conseguido bom destaque nos projetos de extensão em equipes, onde havia só eu de mulher, foram duas grandes conquistas na aviação. Na faculdade de engenharia e nos projetos de extensão, o número de mulheres também era bem reduzido, com uma proporção de uma para 10 homens”.

Isabela contou ainda que sente que existe preconceito por parte de alguns alunos somente pelo fato de ser mulher, o que faz com que ela se empenhe ainda mais para mostrar competência que carrega com sua experiência. 
 

“O preconceito existe sim. Nunca sofri nada diretamente. Mas querendo ou não, os alunos pilotos acham que você entende menos da parte técnica do avião pelo simples fato de você ser mulher. Em qualquer lugar que uma mulher trabalhe onde a maioria é homem, ela terá que estudar mais para conseguir se destacar e mostrar credibilidade”.


NO VOLANTE


 

Quem sobe no ônibus do transporte coletivo da linha T-610 Parador, que transporta passageiros entre os terminais Central e Novo Mundo, pode encontrar a Ermelina Gonçalves Pacheco, de 39 anos, que é motorista em Uberlândia há cerca de oito anos.

Ermelina é responsável por transportar, mensalmente, mais de 19 mil passageiros entre os terminais de ônibus, e faz isso com muita dedicação. “Carregamos o amor da vida de muita gente. Além de motorista, às vezes, faço o papel de psicóloga também. Ouvimos muitas histórias no nosso dia a dia que dariam um livro, com certeza”.
 

Mesmo em um ambiente dominado pelos homens, ela se sente acolhida pelos colegas. “Todo mundo sabe que acontece discriminação com mulheres motoristas. Mas dentro da empresa, com os colegas, nunca vi. Pelo contrário, sempre que tenho alguma dúvida, estão sempre prontos para ajudar. Mas nas ruas, até mesmo de mulheres, sofri preconceito”.


E a vocação para ser motorista vem da família e do marido, que também trabalha no transporte coletivo. “Minha irmã é, mas não profissional. Meu marido também é motorista do transporte coletivo e meu maior incentivador, inclusive para tirar a primeira CNH. Ele vendo minha aptidão para direção, perguntou porque não tentar trabalhar com isso. Respondi que iria ver, mas quando fiz a primeira aula no micro-ônibus me apaixonei por dirigir e vi que era o que queria fazer na minha vida. Amo dirigir”.

A vontade de seguir o sonho também serve de inspiração para outras mulheres. “Minha mensagem é a mesma que falo para as mulheres que chegam em mim e dizem que acha lindo, que sempre tiveram vontade. Corre atrás, não deixa o medo segurar. O lugar da gente na sociedade é onde a gente quiser. Temos que correr atrás do que quer e ninguém pode limitar nossos sonhos”, diz Ermelina.


NOS RINGUES DO MMA


Nascida em Uberlândia e criada no bairro Dona Zulmira, Mayra Bueno Silva é conhecida no mundo do MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas) como Sheetara. Atualmente, ela mora nos Estados Unidos e luta pelo Ultimate Fighting Championchip (UFC), uma das maiores, senão a maior, organização de MMA do mundo.

Competindo na divisão peso galo, Sheetara é a 11ª colocada no ranking feminino da organização e tem no cartel do UFC, cinco vitórias, um empate e duas derrotas. O último confronto, contra a sueca Lina Lansberg, no UFC 2019, terminou com uma finalização da uberlandense.
 

“É um esporte ainda tido como masculino, mas tem se tornado grande. Sou a 11ª colocada no ranking feminino. Entre os meus resultados mais satisfatórios estão poder fazer uma luta da noite, muito difícil de alcançar no maior evento de MMA do mundo, e ser a 11ª colocada é uma coisa muito legal. Sair do meu bairro, Dona Zulmira, do meu país, e hoje estar podendo ter uma carreira de sucesso fora é bem legal”.


Mayra começou treinando jiu jitsu com os amigos e teve o apoio de outra lenda do MMA em Uberlândia, o lutador Evangelista Santos “Cyborg”. 

“Um dia eu decidi treinar para saber o que eles falavam e me apaixonei. Através dele, eu conheci o projeto social que o Cyborg tinha na cidade e ele me chamou, e disse que eu tinha talento e seria uma grande lutadora de MMA. Vi como uma oportunidade de trabalho, para mudar a minha vida e a da minha família, e comecei a lutar MMA profissionalmente”, contou Mayra.

Por se tratar de um esporte de contato, Mayra precisou lutar, inclusive, com o preconceito dentro de casa para seguir no esporte, que a consagra como uma das maiores atletas da cidade. “Meu maior desafio, até dentro de casa, tivemos bastante preconceito por ser um esporte masculino, minha família não aceitava muito bem, não queriam que eu lutasse. No início de carreira ninguém me apoiava, então tive que fazer acontecer sozinha”.

Entre suas inspirações estão a esposa, Glória de Paula, que também é lutadora de MMA, e as duas sobrinhas. “Elas são minha base, minha inspiração para levantar todos os dias. Então são pelas três que eu levanto todos os dias para treinar e me sinto inspirada para mostrar para elas que a gente pode conseguir inspirar outras pessoas”.


DADOS E COMUNICAÇÃO


 

O segmento da tecnologia da informação é outro muito ligado ao trabalho masculino. Mas, aos poucos, as mulheres têm encontrado espaço em um setor bastante importante para toda a nossa civilização atual.

E o desafio da matemática incluída no processo de TI foi o que atraiu a Valquíria Aparecida Rosa Duarte, de 38 anos, para esse universo. Hoje, ela é professora e coordenadora dos cursos de Tecnologia da Informação e Computação do Centro Universitário Una em Uberlândia.
 

“A minha escolha de ser uma profissional de TI foi no sentido de sempre gostar de ser desafiada e sempre entendi que a área de exatas é difícil, que exigia muito do indivíduo, desafiadora. Os meus professores de segundo grau sempre diziam que eu deveria ser da matemática, porque era muito boa, mas escolhi fazer Ciências da Computação”, contou. 


Mesmo atuando em uma área com predominância masculina, não encontrou um sistema machista. “A tecnologia sempre foi uma área cuja maioria dos profissionais são homens, porém nunca senti que fosse uma área machista. Sempre tive apoio e bom relacionamento com meus colegas de trabalho e pesquisa, me sentindo tão produtiva, capaz e reconhecida como os outros profissionais da área”, contou Valquíria.

Ela conta que, na área de TI, ainda tem poucas alunas nas salas de aula e, consequentemente, poucas mulheres atuantes no mercado. Contudo, segundo ela, já existem programas focados somente na formação de mulheres. “Ainda somos minoria e precisamos aproveitar essa oportunidade de entrar nesse mercado muito aquecido e altamente promissor, que é o mercado de tecnologia. Inclusive, existem vários programas de formação de profissionais na área de TI focados exclusivamente na formação e inserção de mão de obra feminina”.

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90