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09/10/2022 às 11h00min - Atualizada em 09/10/2022 às 11h00min

Custos com veículo próprio levam usuários a optarem por corridas de aplicativo em Uberlândia

Especialista analisa qual opção vale mais a pena: ter um veículo ou terceirizar o transporte

IGOR MARTINS | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Levantamento aponta que carro quitado é a melhor opção, mas custos variam de acordo com a realidade de cada pessoa | Foto: Agência Brasil

Combustível, seguro, lavagem, manutenção e diversos impostos. Os custos para manter um carro nos dias atuais são muitos, o que tem mudado a opinião de muita gente na hora de adquirir o veículo próprio. Moradora do bairro Santa Mônica, em Uberlândia, Thuanne Santos é uma das pessoas que desistiram de deixar o automóvel na garagem. A solução, segundo ela, é utilizar as corridas de aplicativo.

Natural de Tupaciguara (MG), Thuanne se mudou para a cidade há poucos meses com o marido para estudar. O carro que o casal possuía ficou no município, já que na realidade do casal o uso do veículo não seria financeiramente sustentável em Uberlândia. Para não ficar no vermelho, ela passou a se locomover de ônibus e com os aplicativos oferecidos na região.

“Nós fizemos contas e concluímos que o carro não caberia no nosso orçamento, mas as corridas de aplicativo seriam mais viáveis. A gente tinha um gasto de R$ 500 mensais com o carro, mas com os aplicativos a gente gasta muito menos. Neste mês, eu tinha um teto de R$ 200 para me locomover, e não atingi esse teto”, disse.

Além do ganho financeiro, Thuanne Santos explica que a utilização das corridas também oferece mais comodidade no trânsito. A mineira tem uma moto na garagem, mas disse que evita usar o automóvel por ainda não estar totalmente confiante para andar nas ruas de Uberlândia. 

Outro ponto positivo abordado por Thuanne é com relação à concorrência. De acordo com ela, os preços para o mesmo destino variam conforme o aplicativo. Em certas ocasiões, a estudante conseguiu economizar até R$ 5 durante uma corrida. “Eu sempre tento dar essa manobrada para diminuir a questão dos gastos. Eu pego o que está mais barato”, argumentou.

Apesar disso, a tupaciguarense admite que ter um carro próprio oferece mais liberdade e independência. Em conversa com a reportagem, a estudante afirmou que gostaria de adquirir um veículo futuramente, mas apenas sob a circunstância de aumento da família. Até lá, Thuanne Santos afirmou que as corridas de aplicativo seguirão atendendo muito bem.

“A gente pensa sim em ter carro, mas apenas quando ele se tornar uma necessidade. No meu caso, seria quando tiver mais membros na família, como filhos. Aí eu realmente não sei se compensaria usar apenas os aplicativos. Eu vou ao mercado e a consultas médicas com os aplicativos, mas com crianças não acho que faça sentido”, falou Thuanne.

IPCA
No início de setembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que registrou deflação em agosto pelo segundo mês consecutivo. Entretanto, alguns serviços e produtos subiram o preço, como é o caso do “Transporte por Aplicativo”, que teve elevação de 43,80% em todo o país.

O aumento já foi sentido pelo jornalista Guilherme Amaral em um dos aplicativos usados por ele frequentemente. Mesmo com a alta, o mineiro natural de Araxá (MG) explica que é possível encontrar preços de corrida mais baixos devido à concorrência, com a oferta de cupons de desconto e chegada de novas empresas do setor a Uberlândia.

Amaral relata que não tem condições financeiras de adquirir um carro. Segundo ele, seu gasto com as corridas de aplicativo ficam entre R$ 200 e R$ 300 todos os meses, com uso semanal para suprir suas necessidades. “Eu uso bastante o aplicativo, porque preciso me deslocar algumas vezes ao trabalho, ao médico e outras coisas”, disse.

Ao Diário, Guilherme Amaral relatou que gostaria de ter um carro, mas a aquisição de um veículo envolve vários fatores, especialmente o local onde ele está alocado. Em cidades como Araxá e Uberlândia, por exemplo, o mineiro acredita ser viável ter um automóvel para ter mais liberdade. A realidade, no entanto, seria diferente em uma grande metrópole como São Paulo.

“Eu gostaria de ter um carro em Uberlândia. É até um interesse que eu tenho de fazer conta para ver se compensa. Hoje, eu uso muito o aplicativo, então preciso ver se vale a pena continuar assim. Em cidades muito grandes acho que a necessidade demora mais para ser sanada”, detalhou.

PONTA DO LÁPIS
Na visão do economista Cesar Piorski, a discussão sobre ter um carro ou usar aplicativos acontece desde que as primeiras empresas chegaram a Uberlândia. Ele explica que é preciso sentar e calcular com calma todos os prós e contras nas duas situações, avaliando o preço dos combustíveis, depreciação do veículo, seguro, documentação e gastos extras.

Para o especialista, a resposta para a pergunta não é simples e depende da forma como a pessoa vive. Fora do âmbito econômico, ter um carro entrega mais liberdade, sendo que o dono pode fazer o que quiser na hora que quiser, algo que não acontece com quem depende exclusivamente das corridas de aplicativo.

“O que precisamos avaliar é quantos quilômetros a pessoa se desloca durante o mês. A pessoa precisa pagar o IPVA, o licenciamento, a depreciação e entra as questões variáveis, como gasolina, seguro, estacionamento, lavagem e manutenção. Ter um carro financiado vai aumentar um pouco a conta”, contou.

Conforme solicitado pelo Diário, o especialista elaborou um estudo para descobrir o que compensa mais: ter um carro próprio ou utilizar corridas de aplicativo. Para tal, Cesar Piorski levou em consideração um veículo 1.0 de 2020, avaliado em aproximadamente R$ 48 mil, de acordo com a Tabela Fipe.

Para o cálculo, foi tomado como base o consumo de 25 quilômetros por dia (ou 750 quilômetros por mês), com o preço médio do combustível de R$ 3,19/litro de etanol, com o veículo rendendo 8km/litro. Além disso, utilizou-se o procedimento contábil que considera a vida útil do veículo em cinco anos. Desse modo, o valor de R$ 48 mil foi dividido por 60 meses, a fim de obter o valor mensal.

Piorski explica ainda que o DPVAT não foi considerado no cálculo, já que está suspenso e o seguro foi calculado conforme o veículo equivalente. O levantamento leva em consideração ainda gastos com estacionamento e manutenção. Confira abaixo:

Com o carro próprio quitado:

Gastos fixos:

IPVA: R$ 160
Licenciamento: R$ 11,32
Depreciação: R$ 800

Gastos variáveis:

Seguro: R$ 146
Combustível: R$ 299,06
Manutenção: 120
Estacionamento: R$ 132

Custo total mensal: R$ 1.666,38
Custo por quilômetro: R$ 2,22

 

Com carro financiado:

Gastos fixos:

IPVA: R$ 160
Licenciamento: R$ 11,32
Depreciação: 800
Financiamento: R$ 1.141

Gastos variáveis:

Seguro: R$ 146
Combustível: R$ 299,06
Manutenção: 120
Estacionamento: R$ 132

Custo total mensal: R$ 2.809,38
Custo por quilômetro: R$ 3,75

 

Corridas de aplicativo:
A conta realizada em um aplicativo levou em consideração uma distância de 3,9 quilômetros no horário do almoço, por volta de 12h. É importante ressaltar que o valor é dinâmico, podendo ter valores mais baixos ou mais elevados de acordo com a demanda e horários de pico. Além disso, os aplicativos oferecem categorias mais econômicas e mais exclusivas.

Para fazer o cálculo, os 750 quilômetros mensais foram divididos pela distância aproximada de quatro quilômetros solicitada pela reportagem. O valor obtido foi multiplicado pelo valor da primeira corrida e posteriormente foi dividido pela quantidade de quilômetros rodados no mês, chegando ao valor de R$ 2,99 por quilômetro.

Custo total mensal: R$ 2.242
Custo por quilômetro: R$ 2,99

Dessa forma, o cálculo feito por Cesar Piorski revela que sob essas condições, ter um carro quitado é a melhor opção, enquanto um carro financiado possui maiores gastos. Entretanto, os custos devem ser feitos de acordo com a realidade de cada pessoa, uma vez que os custos variáveis mudam de pessoa para pessoa.

“A pessoa precisa analisar. Muita gente gosta de ter liberdade, enquanto outras preferem evitar a dor de cabeça. Os aplicativos variam muito o preço, então é preciso sempre simular para comparar e chegar na melhor decisão”, disse.


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