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24/09/2022 às 12h07min - Atualizada em 24/09/2022 às 12h07min

Queda no preço do gás de cozinha não chega ao bolso do consumidor em Uberlândia

Petrobras anunciou redução de 4,7% na última semana, mas distribuidoras também reajustaram valor no início do mês

IGOR MARTINS | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Empresários relatam queda na margem de lucro após reajustes consecutivos do botijão | Foto: Agência Brasil
A redução do preço médio do gás de cozinha ainda não chegou ao bolso do consumidor em Uberlândia. Revendedores do produto na cidade, ouvidos pelo Diário, relatam que a queda anunciada pela Petrobras na última semana foi menor do que o reajuste estabelecido pelas distribuidoras no início de setembro, devido ao dissídio.

O dissídio trata de uma recomposição de preços na distribuição e revenda, devido a correções salariais que geralmente acontecem nesta época do ano. De acordo com a dona do Plantão Gás e Água, Carla Oliveira de Brito Teodoro, houve reajuste de quase R$ 5 pelas companhias de gás na primeira semana do mês.

A empresária explica que a queda anunciada pela estatal não vai fazer diferença para o consumidor final. Segundo a companhia, o valor do quilo do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) passou de R$ 4,23 para R$ 4,03, representando uma queda de 4,7%. Em nota, a Petrobras informou que a redução acompanha a evolução dos preços de referência e é coerente com a prática de mercado.

Conforme divulgado pela estatal, o preço médio de 13 quilos, correspondente à capacidade do botijão de uso doméstico, sofreu uma redução de R$ 2,60. Apesar disso, a empresária ouvida pela reportagem argumenta que é praticamente impossível repassar o preço final para o consumidor, que no fim das contas, vai precisar desembolsar a mesma quantia independentemente da redução da Petrobras.

“O dissídio sempre ocorre em setembro, e neste ano tivemos esse aumento de quase R$ 5. A redução da Petrobras é de R$ 2,60, então o consumidor não sentiu diferença por conta disso, até porque o dissídio não é divulgado para a população. Antes de setembro, eu cobrava R$ 120 para o gás e precisei aumentar para R$ 125. Com o reajuste da Petrobras, resolvi abaixar novamente para R$ 120, mas ciente de que vou ter prejuízo. Foi uma opção nossa de praticar o valor levando em consideração a concorrência”, detalhou.


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Mesmo com a retomada da economia local, Carla disse que os reajustes do gás de cozinha afetaram diretamente o negócio dela, que fica no bairro São Jorge. Para ela, a inflação elevou todos os custos operacionais, especialmente durante a pandemia de covid-19, o que fez com que ela precisasse se adaptar às condições que o momento pedia.

“Está sendo muito difícil para a maior parte dos revendedores, porque não conseguimos repassar todos esses reajustes. Tivemos 12 aumentos em apenas um ano, a margem de lucro vai só diminuindo. Eu tive que me readaptar, dispensar funcionários, diminuir a frota de veículos e, consequentemente, deixar de atender em alguns bairros. O custo operacional do gás é muito caro”, disse a empresária.

MARGEM DE LUCRO
Proprietário do Gás Uberlândia, Helton Luiz Ferreira da Silva, também afirmou que a redução da Petrobras praticamente não fez diferença para o bolso dos consumidores.

Atualmente, Silva comercializa o botijão doméstico a R$ 120. Com o dissídio coletivo do início de setembro, o item passou a ser vendido por R$ 125. Assim como no caso de Carla, o empresário optou por diminuir R$ 5, pensando em estratégias comerciais e concorrência. A medida, conforme relatado por ele, gera queda na margem de lucro da empresa.

“A margem de lucro vem diminuindo conforme temos os aumentos. Cada vez que aumenta, fica difícil repassar para o cliente. O custo operacional está caro. O faturamento cresce porque o preço aumenta, mas com isso os impostos também ficam mais caros”, disse.

Buscando minimizar os impactos dos reajustes do gás de cozinha, Sila disse que precisou repensar o modelo de negócio e precisou restringir a área de atuação do depósito de gás. Antes, ele contava com cinco funcionários, mas agora possui apenas um. A situação, segundo ele, não deve mudar nos próximos meses.

“Apesar de estar com o custo menor, o valor agregado fica sempre mais caro. Os repasses dos últimos dois meses deram algo entre R$ 6 e R$ 7, mas a redução foi só de R$ 2,60. Vou acabar ficando no prejuízo. Muitas pessoas não ficam sabendo do dissídio”, argumentou.

RESTAURANTE
Os reajustes do gás de cozinha dos últimos meses foram sentidos por Wellington de Lima Souza, dono do restaurante Terra Branca, no bairro Jardim Ipanema. Segundo ele, o aumento do preço do botijão elevou as despesas do estabelecimento e consequentemente gerou redução na margem de lucro.

Mesmo com os aumentos, Souza explica que para não perder a clientela não tem repassado todo o preço para o consumidor. Às vésperas do período eleitoral, o comerciante espera por tempos melhores, mas não acredita em uma mudança brusca a curto prazo. “Estamos tentando segurar os preços. Tivemos redução na margem de lucro. O faturamento só aumentou porque o preço também precisou aumentar. Precisei até mexer no cardápio, evitando frituras e fazendo mais assados”, disse.

CONSUMIDOR
Conforme o último levantamento divulgado pela Petrobras, realizado entre 28 de agosto e 3 de setembro, o botijão de gás de 13 kg estava custando ao consumidor em média R$ 111,57. A estatal calcula ser responsável apenas por 49,2% desse valor. Atualmente, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Produtos (ICMS), tributo estadual, responde por 10,6%. O restante do preço é de responsabilidade das distribuidoras, que leva em conta os gastos logísticos e a margem de lucro.

A composição do preço leva em conta a suspensão da incidência dos impostos federais sobre o GLP de uso doméstico. Uma medida provisória que abre essa possibilidade foi assinada em março do ano passado pelo presidente Jair Bolsonaro, sendo posteriormente aprovada no Congresso Federal. Foram zeradas as alíquotas dos programas de Integração Social (PIS) e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep) e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

Sem mudanças significativas na política de preços da Petrobras, a desoneração tem sido o caminho adotado pelo governo federal para baixar os preços não apenas do GLP, mas também da gasolina, do etanol, diesel e do Gás Natural Veicular (GNV). Outra lei proposta pelo governo federal entrou em vigor no final de junho limitando as alíquotas do ICMS que incidem sobre itens considerados essenciais.

A queda na arrecadação dos estados deverá ser compensada por meio do abatimento de valores da dívida pública que eles têm com a União. A medida, no entanto, gerou questionamentos dos estados e também de prefeituras, que recebem uma parcela do ICMS. No cálculo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a perda apenas dos municípios é de quase R$ 20 bilhões. Além disso, divergências em torno do prazo para realização dessa compensação têm sido tratadas no âmbito judicial.

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