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21/09/2022 às 15h56min - Atualizada em 21/09/2022 às 15h56min

Ranking lista Uberlândia como a segunda do país em acesso à saúde e a 41ª no quesito qualidade

Levantamento, no entanto, aponta que a cidade ainda tem desafios para melhoria do serviço; usuários relatam demora no atendimento

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Diário esteve na UAI Pampulha e ouviu usuários do sistema público de saúde I Foto: SECOM/PMU
Uberlândia conquistou o segundo lugar em acesso à saúde no Ranking de Competitividade dos Municípios 2022, saltando 142 posições na comparação com o ano passado. Apesar do destaque positivo, o levantamento também aponta que a cidade possui desafios quando o assunto é a qualidade do serviço, uma vez que o município ocupa a 41ª posição no indicador.
 
O ranking é uma ferramenta que tem como objetivo apoiar líderes públicos brasileiros na tomada de decisões, com foco na melhoria da gestão das cidades. A terceira edição do estudo analisou 415 municípios brasileiros com mais de 80 mil habitantes, de acordo com a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o ano de 2021.
 
O levantamento do Centro de Liderança Pública (CLP) levou em consideração 65 indicadores organizados em 13 pilares temáticos e três dimensões: instituições, sociedade e economia. No ranking geral, Uberlândia subiu seis posições e ocupa a 26ª colocação a nível nacional. No âmbito estadual, a cidade do Triângulo Mineiro fica atrás apenas da capital Belo Horizonte.
 
Através da divulgação do resultado, é possível perceber que o acesso à saúde é o principal potencial positivo de Uberlândia. Entre os diversos indicadores analisados dentro desse universo estão a cobertura de atenção primária (68ª posição a nível nacional), cobertura de saúde complementar (75ª), cobertura vacinal (7ª) e atendimento pré-natal (5ª).
 
Para o médico especialista em saúde pública, Nilton Pereira Júnior, o resultado positivo em Uberlândia é reflexo da alta cobertura de saúde suplementar existente na cidade, que, segundo ele, possui uma média de assistência maior do que a nacional.
 
De acordo com o especialista, a 68ª colocação da cobertura de atenção primária em Uberlândia deve ser analisada com cuidado e reflete a inadequação de políticas e investimentos em Estratégias de Saúde da Família (ESFs).
 
“A cobertura da família é desenvolvida nas UAIs, nos ambulatórios e na urgência e emergência. O mundo já mostrou que o ideal é que sejam feitos serviços de perfil específico. Uberlândia dá acesso para a atenção básica, mas o modelo não é o mais adequado. Isso explica o motivo de a qualidade da saúde não estar com bons indicativos”, argumentou Nilton.
 
DESAFIOS
Ainda segundo o especialista, com o acesso à saúde obtendo bons índices, é preciso que o Município passe a se preocupar com a qualidade ofertada na rede pública, já que, conforme o levantamento do Ranking de Competitividade dos Municípios, a cidade ocupa apenas o 41º lugar.
 
Entre os itens analisados, estão a mortalidade materna, que ocupa a 148ª posição no ranking nacional, desnutrição na infância (48ª), obesidade na infância (19ª), mortalidade na infância (74ª) e mortalidade por causas evitáveis (50ª). Na visão de Júnior, o índice de mortalidade materna não deveria apresentar tal nível.
 
“Se temos acesso à saúde, não podemos aceitar que morram mulheres em idade fértil. Isso não é aceitável para uma cidade rica que tem cobertura grande de saúde suplementar. Uberlândia vive um dilema no acesso ao parto. Nós temos só duas maternidades na rede pública, uma no Hospital de Clínicas e uma no Hospital Municipal. A UAI Martins é apenas uma porta de entrada”, exemplificou o médico.
 
A mortalidade na infância também chamou a atenção do especialista ouvido pelo Diário, além do indicativo de mortalidade por causas evitáveis. O médico explica que o indicador faz referência a óbitos decorrentes de doenças que possuem tratamento ou prevenção, como é o caso do sarampo, rubéola e poliomielite.
 
“É inconcebível pessoas morrerem em decorrência dessas doenças, porque elas têm vacina. Muitas pessoas morrem de diabetes, que é uma doença que tem tratamento e acompanhamento. Isso tudo são causas evitáveis. É preocupante, porque tem o acesso, mas o acesso não ocorre com qualidade, não está melhorando a vida das pessoas e não está reduzindo a mortalidade”, disse.
 
Ainda de acordo com Nilton Pereira, o modelo de funcionamento da rede de saúde de Uberlândia poderia melhorar o índice de mortalidade infantil, que na visão dele, está em um nível muito alto. Para o médico, é fundamental investir adequadamente em atenção primária e em redes hospitalares, além de aumentar a rede de urgência e emergência.
 
“Uberlândia tem déficit de 600 leitos hospitalares. Nós não temos nem o Samu rodando dentro de Uberlândia. Isso poderia melhorar muito a mortalidade infantil e a mortalidade de causas evitáveis. Com a melhora e melhor organização no acesso da rede de urgência e emergência, grande parte dos óbitos seriam evitáveis”, detalhou.


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COBERTURA VACINAL
A baixa cobertura vacinal em Uberlândia foi outro ponto abordado pelo especialista em saúde pública. No início do mês, a Prefeitura de Uberlândia anunciou a prorrogação da campanha contra a poliomielite na cidade. A meta inicial era vacinar 95% do público-alvo, mas a cidade só atingiu 40%. No Brasil, o índice era ainda pior, com 32,5% das pessoas imunizadas.
 
De acordo com o médico, a cobertura em 2021 foi de 84%, número abaixo do preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e Ministério da Saúde, de 90% a 95%. O especialista lembra que neste ano diversas doenças estão com 50% de cobertura vacinal, sendo que algumas estão até mesmo com apenas 20%.
 
“Apesar de Uberlândia estar bem colocada na cobertura vacinal, o governo tem que intensificar as campanhas. A cobertura vacinal tem que ser uma preocupação real de todas as famílias, porque isso vai trazer impactos a curto e longo prazo. No ano que vem, devemos ter aumento na mortalidade infantil. É uma bola de neve que está se formando por falta de acesso e de conscientização das famílias e de priorização dos governos”, alertou.
 
HOSPITAL DE CLÍNICAS
Para o reitor em exercício da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Carlos Henrique Martins da Silva, o desempenho obtido no acesso à saúde na cidade não surpreende. Segundo ele, o resultado tem ligação direta com o trabalho desempenhado pelo Hospital de Clínicas (HC-UFU), referência em média e alta complexidade para mais de 50 municípios do Triângulo.
 
Criado há 52 anos, o HC-UFU serve a população local no atendimento de situações complexas, envolvendo cirurgias cardíacas, tratamentos oncológicos, traumas e outras especialidades da medicina. De acordo com Silva, o Ranking de Competitividade dos Municípios 2022 concretiza os esforços que foram feitos na prospecção de atendimento de pacientes da região.
 
“É uma excelente notícia. Prestamos um serviço com muita competência e evidentemente estamos evoluindo com a construção do novo bloco do hospital. Certamente, ele trará mais conforto e melhoria nos nossos atendimentos, sobretudo de pacientes de urgência e emergência. É um esforço não apenas da universidade, mas da gestão municipal, estadual e de recursos de emendas parlamentares que vão garantir mais benefício para a população”, comemorou.



 
VISÃO DE USUÁRIOS
A reportagem do Diário esteve na Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do bairro Pampulha e ouviu usuários da rede pública de saúde de Uberlândia. Para o aposentado Djalma Gonçalves Júnior, de 69 anos, a unidade oferece qualidade no atendimento médico na maioria das vezes em que ele precisa se deslocar até o local.
 
“Eu uso o sistema público de saúde desde que mudei para Uberlândia, há 22 anos. A unidade é excelente para mim e para a minha esposa. Tem algumas coisas que não saem tão rápido, mas o atendimento é bom, eu não tenho nada a reclamar. Venho ao pronto socorro e faço consultas, tem que ter paciência e educação para estar aqui”, disse.
 
A técnica de laboratório Letícia Ferreira da Silva também elogiou o atendimento dos profissionais de saúde da unidade. Na manhã desta terça (20), a goiana de Itumbiara passou por um retorno de uma consulta após fraturar o pé. Apesar de bem atendida, ela conta que esperou mais de uma hora para ser avaliada por um médico.
 
“Tirando a demora, eu gosto bastante. Quebrei o pé e consultei aqui mesmo, hoje estou tento o retorno. Hoje o atendimento foi melhor, mais rápido, mas eu demorei uma hora e meia para ser atendida”, relatou.
 
Quem também utiliza o sistema público de saúde com frequência é a dona de casa Anita Esteves, de 51 anos. Ela foi à UAI Pampulha marcar um exame para o esposo e conta que sempre que precisa, vai até a unidade para receber atendimento.
 
“Minha família toda usa muito o sistema público. Meu esposo está fazendo tratamento, os exames saem rápidos, geralmente não tenho dificuldades. Às vezes é um pouco lento, mas é muito bom para a gente”, disse a uberlandense.
 
Já o jornalista Paulo Gabriel Mota conta que utiliza frequentemente a ala pediátrica da rede pública de Uberlândia. Pai do Antony, de apenas dois anos, ele disse que geralmente procura a UAI São Jorge e que nunca teve problemas para garantir o atendimento para o filho.
 
“O máximo que esperei foram uns 40 minutos. O acesso é bom e os médicos geralmente avaliam meu filho corretamente. Quase sempre consigo resolver meus problemas pelo pronto socorro. Meu filho sempre sai melhor do que chegou”, detalhou.
 
O QUE DIZ O MUNICÍPIO
A Prefeitura de Uberlândia enviou uma nota ao Diário com um posicionamento a respeito dos resultados obtidos pela cidade dentro do ranking. Confira na íntegra:
 
“A Prefeitura de Uberlândia credita o excelente desempenho da cidade no quesito "acesso à saúde" às políticas públicas implementadas e ao trabalho realizado pela gestão municipal na atenção primária, que é a área constitucionalmente de responsabilidade dos municípios.
 
Dentre as políticas bem sucedidas na atenção primária, estão em destaque programas como Mãe Uberlândia (que acompanha as mulheres e crianças do pré ao pós-parto) e o de imunização (com ações em escolas e nas 74 salas de vacinação existentes em todo o município), além das ações para ampliação da Rede Municipal de Saúde.
 
Desde 2017, a Prefeitura de Uberlândia entregou para a população novas oito unidades básicas de saúde da família (UBSFs), ampliou as unidades de atendimento integrado (UAIs) Planalto e Pampulha e o Centro de Especialidades Odontológicas, além de reformar outras dez unidades de saúde, restaurar o Campus Municipal de Atendimento à Pessoa com Deficiência (com ampliação da cobertura) e modernizar equipamentos utilizados na atenção primária, como os três ultrassons de alta tecnologia adquiridos recentemente.
 
A Prefeitura de Uberlândia também destaca que, reiterando o seu compromisso com a qualidade e acessibilidade dos serviços oferecidos à população e a boa governança, promove regularmente treinamento e capacitação em todas as áreas do setor de saúde e, para fortalecer o contato com os usuários da rede, disponibiliza um canal direto de comunicação por meio da Ouvidoria da Saúde (que recebe sugestões, solicitações, reclamações e denúncias via 0800-940-1480).”


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