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13/09/2022 às 17h49min - Atualizada em 13/09/2022 às 17h49min

Mais de 70% dos casos de violência sexual em Uberlândia são de estupros de vulneráveis

Neste ano, HC-UFU atendeu 70 vítimas de agressão sexual, sendo a maioria adolescentes em situação de desamparo familiar

SÍLVIO AZEVEDO I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Em Uberlândia, diversas instituições oferecem apoio às vítimas de violência sexual I Foto: FREEPIK
Mais de 70% dos casos de violência sexual registrados entre janeiro e julho deste ano em Uberlândia se tratam de estupros de vulneráveis. Conforme apontam dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG), com informações coletadas pelas polícias Militar e Civil, e Corpo de Bombeiros, a cidade computou 55 ocorrências de agressão sexual contra mulheres no período, sendo 13 estupros consumudos, um estupro tentado e 41 estupros de vulneráveis consumados.

De acordo com o Código Penal, o estupro de vulnerável é a conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso com menores de 14 anos, com ou sem consentimento. Além disso, o crime também configura quando a vítima que, por enfermidade ou deficiência mental, não possui o discernimento necessário para a prática do ato, bem como, por qualquer outra razão, não possa oferecer resistência.

Em Uberlândia, diversas instituições oferecem apoio às vítimas de violência sexual. É o caso do Núcleo de Atenção Integral às Vítimas de Agressão Sexual (Nuavidas), que atua no Ambulatório Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU).

De janeiro a junho deste ano, o Hospital de Clínicas realizou 70 atendimentos de amparo médico, psicológico e jurídico. O número é menor do que o registrado no mesmo período de 2021, quando foram atendidas 113 vítimas de violência sexual.

Segundo a psicóloga Luzia Silva dos Santos, as mulheres chegam ao Nuavidas, na maioria das vezes, após receberem o atendimento de urgência e emergência no pronto socorro do HC.

“Desse modo, os primeiros cuidados emergenciais já foram feitos e elas chegam para dar continuidade no tratamento dos agravos da violência, que são muitos, como investigação e tratamento de possíveis DSTs, gestação, afastamento do agressor, fragilização ou ruptura do vínculo familiar, social ou profissional, sintomas e transtornos psicológicos advindo ou intensificados pela violência”.

Ainda de acordo com a psicóloga, o perfil das vítimas mais atendidas no Nuavidas são as de classe baixa, cor parda ou negra, adolescentes e mulheres que apresentam uma grande vulnerabilidade social, muitas vezes com transtornos mentais, sem suporte familiar e dependentes de álcool e drogas.

“Os relatos mais frequentes envolvem violências ocorridas com adolescentes e mulheres adultas. Em adolescentes ocorre, principalmente, por familiares ou pessoas próximas da vítima, como pai, padrasto, tio ou avô. Elas demoram algum tempo para conseguir denunciar a violência porque têm medo do julgamento da família, de que as pessoas não acreditem. Já nas mulheres adultas, o tipo de violência mais comum que vemos ocorrer é por desconhecidos em festas, bares e lugares noturnos. Na maioria das vezes, a vítima estava em alguma situação que dificultava que se defendesse ou pedisse ajuda”.

Segundo Luzia, o tratamento psicológico para pessoas vítimas de violência no Nuavidas é muito necessário devido aos inúmeros transtornos, crises e sofrimentos que são gerados. “Diante disso, temos uma equipe de psicologia que realiza condutas de acolhimento, suporte emocional, avaliação, cuidados psicológicos, psicoterapia e encaminhamentos necessários. Nosso objetivo é fornecer um espaço privado e sigiloso de proteção e tratamento psicológico”.

Outra instituição que dá suporte às vítimas de violência sexual é o “Coletivo Todas Por Ela”, que presta assistência jurídica e gratuita a mulheres hipossuficientes financeiramente, vítimas de violência doméstica, familiar e de gênero. “Ao encontrar um serviço jurídico gratuito de qualidade, elas se sentem mais amparadas e mais fortalecidas para enfrentar a situação em que se encontram”, disse Rosângela Ribeiro Silva Machado da Silveira, coordenadora das advogadas voluntárias do projeto.

Atualmente, o projeto tem 82 casos em tramitação, alguns em etapas iniciais e outros em fase de finalização e o perfil mais comum de mulheres atendidas são de idades entre 25 e 55 anos, hipossuficientes, dependentes financeiramente e que sofreram violência emocional, física, financeira e abuso sexual.

“Em sua grande maioria, as mulheres chegam extremamente fragilizadas, desacreditadas e muitas vezes envergonhadas. Se sentem impotentes e diminuídas além de muito amedrontadas”, disse Rosângela.

Ainda segundo Rosângela, a equipe do coletivo é composta por 11 advogadas, sete estagiárias voluntárias, uma assistente social e a equipe de atendimento. O projeto de assessoria e extensão sobre violência doméstica e sexual é ligado ao Escritório de Assessoria Jurídica Popular (ESAJUP/UFU).

“As componentes do projeto lutam para combater e coibir todos os tipos de violência contra a mulher e nosso trabalho representa na grande maioria das vezes, a possibilidade de reconstrução da vida das assistidas”, disse Rosângela.


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