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10/09/2022 às 14h00min - Atualizada em 10/09/2022 às 14h00min

No mês dedicado à saúde mental, psicólogo de Uberlândia reforça a importância de resolver conflitos internos

Levantamento do HC-UFU mostra que mais de 90 pacientes já foram atendidos somente neste ano após tentativas de suicídio

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Município de Uberlândia realiza ações nas CAPS e UAIs neste mês I Foto: SECOM/PMU
Setembro é o mês que marca ações em prol da prevenção ao suicídio. Criada com o intuito de ampliar a conscientização sobre a importância da saúde mental, a campanha do Setembro Amarelo ganha força neste sábado (10), data conhecida como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Em Uberlândia, de acordo com um levantamento do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), somente em 2022, 91 pessoas foram atendidas na unidade após tentativa de autoextermínio.
 
Os dados foram computados pelo hospital e retratam pacientes que deram entrada na casa de saúde entre janeiro e agosto deste ano. Conforme apontado pelo balanço do HC-UFU, o mês com mais registros de tentativa de suicídio foi fevereiro, com 16. Julho (15), março e maio (14) completam a lista com mais ocorrências do tipo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 38 pessoas tiram a vida por dia no Brasil, uma média de 14 mil suicídios por ano.
 
O Setembro Amarelo foi inspirado na história do norte-americano Mike Emme, que cometeu suicídio aos 17 anos em setembro de 1994. Ele tinha um carro amarelo e, no dia do seu velório, os pais e amigos distribuíram cartões com fitas amarelas e frases motivacionais para pessoas que pudessem estar enfrentando transtornos mentais e emocionais. A conscientização surgiu pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e é endossada pela OMS, chamando a atenção dos governos e da sociedade sobre a importância de falar do assunto.
 
Em entrevista ao Diário, o psicólogo José Lucas Nunes afirmou que a existência da campanha é fundamental para prevenir tentativas de autoextermínio, além de mostrar maior conscientização da população com relação ao tópico. Segundo ele, a maior abrangência do Setembro Amarelo começou com o advento das redes sociais e dos cuidados da geração atual.
 
De acordo com o psicanalista, a cultura no Brasil ainda é pautada no socorro quando algo grave acontece com uma pessoa que passa por transtornos mentais e emocionais. Com a existência da campanha, o trabalho preventivo ganhou força e contribuiu para a popularização do acesso a psicólogos e psiquiatras.
 
“A geração anterior, das pessoas que atualmente têm mais de 40 anos, achavam que falar de saúde mental era frescura e que tudo era resolvido pelo silêncio. Hoje não é assim, partimos para uma geração que entende os efeitos disso. A conscientização ainda é baixa, muitas pessoas só buscam ajuda quando a situação agrava, mas a situação já melhorou”, disse.
 
Na visão do especialista, a pandemia da covid-19 agravou os problemas emocionais da população como um todo. Isso acontece, segundo ele, devido à quebra de expectativa e pelo momento de incerteza propiciado pela enfermidade. Com o isolamento social, as pessoas passaram a se sentir mais sozinhas, gerando traumas e outros agravantes.
 
“As pessoas começaram o ano de 2020 cheias de expectativas, com diversos planos. Veio a pandemia mundial e pegou todo mundo de surpresa. O isolamento social gera angústia e reações negativas. Várias pessoas perderam os momentos de lazer e diversão, agravada ainda pela ruptura dos planejamentos e medo de perder um membro familiar. O Setembro Amarelo é importante por isso, é sobre prevenção e saúde mental. É olhar para a própria vida e perceber que é possível viver diante dos problemas”, explicou.



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CONFLITOS INTERNOS
Ainda na visão do psicanalista, a principal forma de melhorar a saúde mental e viver com mais qualidade emocional é através da resolução de conflitos internos. O especialista afirma que os transtornos mentais e emocionais podem aparecer por aspectos individuais e sociais, indo de uma angústia no trabalho a até mesmo más condições de moradia.
 
Para ele, ter saúde mental é viver com qualidade digna de vida, com bom estado de saúde físico, acesso à moradia, saneamento básico e comida na mesa. Além disso, é fundamental que uma pessoa que esteja angustiada tenha condições de se expressar, o que não acontece na maioria das vezes, de acordo com o psicólogo.
 
“A ansiedade tem a ver com o conflito, conflito esse de desejos e ensejos. Temos uma cultura de varrer tudo para dentro do tapete, de evitar falar e fingir que nada está acontecendo. Tudo o que a gente põe debaixo do tapete, uma hora volta. Volta o sofrimento, os pensamentos negativos. A melhor coisa a se fazer é resolver todos esses conflitos internos”, detalhou.
 
Pensando no estado individual, Nunes aponta que tomar boas decisões, cuidar da alimentação e da saúde contribuem para a melhora a saúde mental. Apesar disso, o aspecto social pode impactar diretamente em problemas emocionais. O desemprego, por exemplo, é um dos fatores que prejudicam o bem-estar da população.
 
De acordo com o psicólogo e psicanalista, também é fundamental que as ações de conscientização do Setembro Amarelo sejam realizadas para combater o preconceito existente acerca do assunto. Segundo Nunes, não existe solução única para combater tentativas de autoextermínio e pensamentos negativos, mas uma simples consulta com um psicólogo ou psiquiatra pode mudar o caso de muitos pacientes.
 
“A saúde mental está muito ligada ao social, ao biológico e ao espiritual. Precisamos conscientizar a população, especialmente as pessoas com mais de 40 anos, que não é frescura procurar atendimento. Muitos casos poderiam ser evitados com tratamento e informação de qualidade. A qualquer sinal de problema, é preciso escutar sem julgamentos e exercer a empatia. São ações que podem salvar um amigo, um familiar ou um colega de trabalho”, contou o especialista.
 
A Prefeitura de Uberlândia informou que neste mês, o Município está reforçando as ações que já realizam durante o ano todo. Os atendimentos são feitos por equipes multiprofissionais e acontecem nas unidades de Atenção Primária à Saúde, nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e nos Pronto Atendimentos das Unidades de Atendimento Integrado (UAIs).
 
LIGUE 188
O Centro de Valorização da Vida (CVV) também realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias.
 
O paciente é atendido por um voluntário, com respeito, anonimato, que guardará estrito sigilo sobre tudo que for dito. Os voluntários são treinados para conversar com todas as pessoas que procuram ajuda e apoio emocional. Basta ligar para o 188.

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