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03/09/2022 às 14h00min - Atualizada em 03/09/2022 às 14h00min

Cerca de 44% da população de Uberlândia está negativada; cartão de crédito lidera índice de inadimplência

Em julho, o número de uberlandenses com o “nome sujo” subiu para 307,8 mil

IGOR MARTINS | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
De acordo com a Serasa Experian, 6,4 milhões de mineiros ficaram com o nome negativado no início do segundo semestre | Foto: Pixabay
Em Uberlândia, cerca de 307,8 mil pessoas fecharam o mês de julho inadimplentes, segundo o indicador do Mapa da Inadimplência da Serasa Experian. O número representa que 44% da população total da cidade está endividada. O setor que lidera o ranking de clientes negativados a nível nacional é o de bancos e cartões de crédito, com 28,6% do montante total de dívidas. 

Conforme divulgado pela Serasa, o índice de inadimplência tem subido nos últimos anos no município. Em janeiro de 2019, por exemplo, o número de pessoas endividadas em Uberlândia era de 258.722. Já em julho deste ano, a quantidade de cidadãos negativados atingiu a maior taxa dos últimos três anos, chegando a 307.829, um aumento de 18,9%.

A jornalista Beatriz Evaristo conta que ficou com algumas pendências nos últimos meses, mas conseguiu escapar da negativação após quitar todas as suas obrigações. Segundo ela, foi necessário priorizar as contas mais importantes e tentar evitar ao máximo o uso do cartão de crédito, um dos principais inimigos dos inadimplentes.

“O que eu recebia não era compatível com o que eu precisava pagar. Eu tinha que deixar de lado algumas contas para poder conseguir pagar outras, daí eu ficava com essas pendências. Era um malabarismo financeiro mesmo. Precisava pagar aluguel, condomínio, água e energia. Era complicado”, disse.

Atualmente, Beatriz consegue viver com as contas em dia, mas afirmou que a situação econômica vivida no país não permite tantas regalias, como pagar uma consulta no dentista ou no nutricionista. As compras no supermercado também precisam ser realizadas com bastante cautela para não ter nenhum tipo de surpresa no fim do mês.

“Eu já fiz empréstimo para pagar o cartão de crédito, já parcelei a fatura por não ter o dinheiro suficiente para passar o mês. Eu tenho limites maiores do que eu recebo, então se acontece algum imprevisto, eu uso ele. É um problema, porque chega a hora de pagar a fatura e eu não tenho o tanto que eu preciso pagar. Quando acho que estou saindo das dívidas, aparece outro imprevisto e faço uma nova dívida”, ressaltou a jornalista.

Quem também teve dificuldades na hora de pagar as contas foi a universitária Kamila Cristina, de 24 anos. Em conversa com a reportagem, ela disse que é difícil não ficar negativada nos dias atuais, reflexo da inflação e da queda do poder aquisitivo do cidadão brasileiro. Para driblar a inadimplência, ela conta que precisa exercer duas atividades diferentes enquanto faz faculdade.

“Eu trabalho e sou freelancer para complementar a renda. Tenho as minhas contas, cartão de crédito, aluguel, e com o preço que as coisas estão, um salário mínimo não é suficiente para sobreviver. O que a gente ganha não dá, a dificuldade principal é essa, infelizmente este é o cenário atual”, relatou.

TRAGÉDIA ANUNCIADA
Os casos de Beatriz e Kamila são semelhantes a milhares de outros brasileiros. A inadimplência em Minas Gerais chegou ao maior índice da história dos meses de julho. De acordo com a Serasa Experian, 6,4 milhões de mineiros ficaram com o nome negativado no início do segundo semestre. O total de inadimplentes já representa 30% da população total do estado, estimada em 21,4 milhões de habitantes pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Se considerada somente a população adulta, aproximadamente 38,7% das pessoas acima de 18 anos em Minas Gerais estão com pendências financeiras, o maior percentual da história. De acordo com o estudo, são mais de R$ 25 milhões em débitos atrasados, um valor médio de R$ 3,9 mil por cidadão.

Além dos bancos e cartões, que representam 28,6% de todo o montante de inadimplência no país, os setores mais comuns no índice de endividados contemplam contas básicas como água, gás e energia (22,2%), despesas financeiras (13,7%), varejo (12,4%), serviços (10,1%), telefonia (6,8%) e securitizadoras (2,1%).

Na visão do economista Cesar Piorski, o crescimento de pessoas endividadas era uma “tragédia anunciada” há pelo menos oito anos. Em entrevista cedida ao Diário, o especialista diz que o ciclo de crise econômica começou ainda em 2014 e culminou com a piora das taxas de inflação e desemprego nos últimos anos.

De acordo com Piorski, antes do período analisado, o brasileiro costumava ter rendimentos maiores do que seus gastos, o que mudou a partir de 2014, quando o cidadão começou a gastar mais do que ganhava, fruto da inflação e da queda do poder aquisitivo. Agora, ele afirma que a população perdeu o controle total de suas finanças e precisa apelar para o chamado “malabarismo financeiro”.

Em sua visão, o uso do cartão de crédito é um dos culpados pelo alto índice de inadimplência vivido não apenas em Uberlândia, mas em todo o Brasil. “Se eu estou ganhando R$ 200 e gasto R$ 300, quem permite isso é o crédito. Se eu tenho acesso a crédito rápido e fácil e não preciso sentar na cadeira do gerente para negociar, eu corro para o crédito rápido. O risco disso é que ele precifica isso na taxa de juros e eu, como consumidor, não percebo. Isso leva a uma explosão da dívida a médio e longo prazo”, explicou.

Cesar Piorski relata que o endividamento excessivo das famílias brasileiras começou no início de 2022, fruto da crise econômica do país, queda da renda e a alta da inflação. De acordo com ele, a única saída é esperar a economia voltar a crescer e a massa salarial do trabalhador aumentar, o que ainda pode levar um tempo, em sua opinião.

PRIORIDADES
Para sair da inadimplência, o economista alerta para a priorização de contas essenciais, tais como moradia e alimentação. Tudo aquilo que for supérfluo deve ser deixado de lado caso a pessoa esteja passando por dificuldades financeiras.

“O analfabetismo financeiro é um problema que a gente vive no Brasil. Com a facilidade do empréstimo e dos limites do cartão, as pessoas recorrem a isso e nem percebem. Se a pessoa não tem boa educação financeira, a queda de renda te coloca no cheque especial e nem percebe. Você só vai perceber quando o banco te cobrar”, falou o especialista.


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