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30/08/2022 às 17h37min - Atualizada em 30/08/2022 às 17h37min

Varíola dos macacos: especialistas de Uberlândia explicam como doença afeta humanos e animais

Uberlândia tem 20 casos confirmados da doença; Minas Gerais registrou a primeira infecção animal do país

SÍLVIO AZEVEDO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
A doença tem um período de incubação, que varia de 6 a 21 dias | Foto: Agência Brasil
O aumento do número de casos da varíola dos macacos tem preocupado a população que ainda vive os resquícios deixados pela pandemia da covid-19. Em Uberlândia, as notificações positivas sobem a cada dia e, conforme o boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) nesta segunda-feira (29), a cidade já tem 20 casos confirmados da doença. O Diário conversou com especialistas que explicam sobre como a enfermidade é transmitida para humanos e animais, e quais medidas devem ser tomadas quando ocorre a infecção pelo vírus. 

Segundo a infectologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), Francielly Gastaldi, o vírus acomete mamíferos de diversas espécies e a transmissão ocorre através das secreções presentes nas lesões da pele. 

“Devido a necessidade do contato pele a pele, uma das possibilidades de aquisição da doença é por meio de relação sexual. O uso do preservativo é muito importante, mas não evita, por completo, a transmissão da doença, já que podemos ter lesões no corpo todo”, explicou.

Ainda segundo a infectologista, a doença tem um período de incubação, que é o tempo entre o contato com o vírus e o surgimento dos sintomas, de 6 a 21 dias. 

“Inicialmente pode haver apenas sintomas inespecíficos, como dor de cabeça, febre, linfadenomegalia e mal-estar.  Na maior parte das vezes, por volta do quinto dia, surgem as lesões cutâneas nas pele.  Elas podem ser manchas (máculas), elevações que vão evoluindo para bolhas e posteriormente para crostas. Podem estar em qualquer local do corpo, acometendo mucosa ou pele. Mas vemos um predomínio da região genital/perineal”.

Francielly explicou ainda que todas as fases das lesões transmitem a doença. Com isso, o isolamento deve ser mantido até o desaparecimento das mesmas, inclusive a queda das crostas de maneira espontânea. O prazo, de acordo com a profissional, pode durar de 21 a 28 dias.

“Existem pacientes que não apresentam lesões visíveis de pele. Esses geralmente apresentam lesões apenas genitais, como sangramento retal, edema, lesão peniana ou lesão retal. É importante mantermos as recomendações de higiene das mãos. Se há suspeita de monkeypox, é importante procurar atendimento médico e iniciar com isolamento, a fim de evitar a disseminação”.

VARÍOLA DOS MACACOS X VARÍOLA HUMANA
Muitas pessoas ainda não entendem a diferença entre a varíola humana e a varíola dos macacos. Desde 1973, o Brasil é certificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um país onde a doença está erradicada. No mundo, a erradicação ocorreu em 1980. 

Francielly Gastaldi explicou que a varíola humana possui um grau de infectividade maior que a varíola dos macacos, sendo mais transmissível e provocando sintomas mais graves. Já a monkeypox é mais branda, não apresentando um nível de mortalidade significativo até mesmo em pacientes não imunizados. Formada por um DNA de dupla fita, a monkeypox apresenta baixa capacidade de mutação e, por isso, pode ser facilmente controlada.

“A varíola humana é uma doença mais grave, com maiores taxas de complicações. Geralmente as lesões mucocutâneas surgem todas de uma vez e todas evoluem juntas, desaparecendo após aproximadamente 2 semanas. Por ter maior risco de complicações, apresenta maior morbimortalidade”.

VACINA
A aquisição da vacina e de medicação antiviral são medidas importantes para controle da doença, porém, de acordo com Francielly, elas são reservadas para casos específicos, sobretudo em situações em que envolve populações de risco.

“Por geralmente ser decorrente de vírus vivo atenuado, não é recomendado a realização ampla de tal vacina pelo risco de efeitos adversos em determinadas populações. Além disso, diante de uma doença de pequena mortalidade, devemos sempre avaliar risco de benefício sobre a indicação ampla e sem restrições de medidas terapêuticas e vacinas”, disse.

ANIMAIS
Na última semana, Minas Gerais registrou o primeiro caso de monkeypox em animais. Um cachorro contraiu a doença após ter contato com um humano infectado em Juiz de Fora. De acordo com o coordenador do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Anhanguera Uberlândia, André Madeira Silveira França, a principal forma de contágio dos animais ocorre por meio do contato direto com lesões de humanos acometidos pela doença. “No entanto, contato com saliva, gotículas, suor e tecidos contaminados também se têm apresentado como formas de transmissão da doença”, acrescentou.

Conforme a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), a transmissão de animais infectados para humanos também pode ocorrer. Portanto, André Madeira Silveira França indica que o isolamento do humano ou animal infectado seja feito assim que os primeiros sintomas aparecerem. 

Apesar dos poucos relatos descritos em animais domésticos, segundo André, as características das lesões são semelhantes às dos humanos, como lesões de pele e de mucosas, que geram coceira, em formato arredondado e com aspecto de bolhas que, com o curso da doença, tendem a cicatrizar. 

“Além disso, o processo pode vir acompanhado de febre e aumento dos linfonodos ou ínguas. As lesões podem estar espalhadas por diversas áreas do corpo, mas, especificamente no caso confirmado em Juiz de Fora, foram observadas no pescoço e dorso do animal”. 

Porém, André fala que a situação ainda não é de alarde para os tutores, já que a forma grave da doença não é comum e a contaminação dos animais domésticos ainda não está bem descrita. 

“Como o primeiro caso em animais domésticos foi descrito há poucas semanas, em um cão na França, é muito difícil precisar se a doença justifica a produção de uma vacina específica, em função da baixa gravidade dos casos existentes”.

Entre as maneiras de se prevenir o contágio por animais está evitar o contato com seres humanos com a monkeypox, ou que esteja com suspeita da doença. “Outra forma é manter as lesões, boca e olhos protegidos, impossibilitando que o animal tenha contato ou que ocorra a contaminação do ambiente. Assim, o ideal é o uso de roupas de manga longa, luvas, máscaras e óculos de proteção. Recomenda-se que se deve realizar tais estratégias por 21 dias ou até a cicatrização total de todas as lesões de pele. Em casos de suspeita da doença no animal, é essencial que este seja avaliado por um médico veterinário”, explicou André. 


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