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11/08/2022 às 16h27min - Atualizada em 11/08/2022 às 16h27min

Usuários do transporte público relatam falta de manutenção e superlotação dos ônibus em Uberlândia

Mesmo com intervenções financeiras do Município, serviço continua sendo alvo de críticas da população da cidade

IGOR MARTINS | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Moradores pedem por melhorias no serviço de transporte público do município | Foto: PMU/Divulgação
O transporte público de Uberlândia continua sendo alvo de críticas dos usuários do serviço. De acordo com a população, os problemas começaram a ser notados durante a pandemia da covid-19 e se agravaram com a retomada das atividades econômicas. Entre as principais reclamações estão a superlotação e falta de manutenção dos veículos. 

Em abril deste ano, o Diário noticiou problemas enfrentados pelos moradores em relação ao transporte público da cidade. Uma das entrevistadas relatou que diversas pessoas sequer conseguiam entrar nos ônibus, devido à grande quantidade de usuários que se aglomeram nas portas do veículo, gerando atrasos na vida da população que precisar trabalhar ou estudar. 

Além disso, no fim do mês de julho, um ônibus do transporte público da empresa AutoTrans quebrou o eixo e teve as rodas traseiras deslocadas durante uma viagem. Em um vídeo obtido pela produção, é possível observar o eixo das rodas arrancado, o que deixou o veículo levemente tombado para um dos lados. O ocorrido foi registrado próximo ao Terminal Santa Luzia.

A realidade do transporte público do município é vivida todos os dias pela estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Maria Júlia Pelucio. De acordo com ela, ir até a faculdade tem sido complicado devido à grande quantidade de pessoas dentro dos ônibus que passam pela região do Santa Mônica.

Segundo a estudante, tem dias que ela não consegue entrar dentro do veículo e precisa andar a pé para conseguir realizar suas atividades. Os problemas são mais comuns nos horários de pico, como às 7h e 19h. “É impossível entrar no ônibus ou sentar. É uma fila tão grande que não dá nem para entrar de tão lotado que ele fica, e parece que nunca esvazia”.

Maria Júlia também questionou a falta de manutenção em alguns veículos das concessionárias do transporte da cidade. “É muito ônibus antigo, parece que está despedaçando. A gente anda e o veículo fica quicando, parece que estamos em um liquidificador. Está assim desde 2019, quando comecei a usar o transporte público, e nunca mudou. Parece que não tem manutenção, é difícil”, disse.

A esteticista Marcia Adriana Dias da Silva também enfrenta dificuldade com o serviço da cidade. Diariamente, a profissional pega um ônibus no bairro Alvorada para ir ao trabalho, e, segundo ela, os atrasos são bastante comuns.

Ela explica que no início das manhãs, por volta de 6h30, é praticamente impossível encontrar um veículo que não esteja com superlotação. Às vezes, Marcia se desloca até o Terminal Novo Mundo. A aglomeração e a lotação é tamanha que muitos dos motoristas acabam passando direto pelo ponto.

"Eu já cheguei atrasada no serviço muitas vezes porque os ônibus são muito lotados e eles passam direto. Quando eles param, o ônibus também está sempre muito cheio", disse.

Ainda de acordo com a esteticista, de 43 anos, diversas linhas de ônibus sofrem com a falta de manutenção. Outra reclamação feita por Márcia é a falta de organização de filas nos principais terminais dentro da cidade.

"Tem muito tempo que vários ônibus estão em situação precária. Tem alguns que estão arrumados, mas a maioria dos ônibus estão judiados. É complicado, porque não tem ninguém para organizar as filas nos terminais, fica aquele tumulto, aquele tanto de gente, o pessoal fica empurrando, é até perigoso", detalhou.

ACESSIBILIDADE
Walter Siron é usuário do transporte público da cidade há algum tempo. O goiano, que vive em Uberlândia, sofreu uma lesão medular há aproximadamente 10 anos e só consegue se movimentar utilizando uma cadeira de rodas. Ele conta que ser cadeirante e pegar ônibus na cidade é uma tarefa difícil.

Além da acessibilidade precária dos veículos, Siron reclamou da falta de manutenção dos elevadores de acesso para cadeirantes. De acordo com o aposentado de 42 anos, uma situação específica causou um grande constrangimento após o equipamento deixar de funcionar por uma falha do veículo.

“Teve um dia que o ônibus parou em uma das estações da avenida João Naves de Ávila e o carro desligou, parou de funcionar. O elevador só funciona se ele estiver ligado. Todas as pessoas desceram e eu fiquei preso dentro do ônibus, tive que esperar cerca de 20 minutos. Foi um constrangimento muito grande, só consegui descer porque ainda tenho certa mobilidade”, disse.

A superlotação dos veículos é outro problema relatado por Walter Siron. Segundo ele, é muito difícil conseguir entrar em uma vaga destinada a pessoas com necessidades especiais. Primeiro, porque faltam espaços destinados a essa população e, segundo, porque muitos usuários acabam não respeitando os direitos das pessoas com algum tipo de deficiência.

A saída para evitar o constrangimento e o estresse com a precariedade do serviço público é deixar de utilizar o transporte diariamente. O cadeirante relatou que tem feito planejamentos para resolver situações pessoais que envolvam o uso do ônibus em determinados dias da semana, tudo para “evitar mais uma humilhação” no transporte coletivo da cidade.

“Hoje, eu ando no transporte público de Uberlândia com medo. Os ônibus estão sempre lotados, só falta as pessoas passarem por cima de mim. Não existe horário em que você consegue andar tranquilo dentro do ônibus. Nós, cadeirantes, sofremos muito com a falta de acessibilidade e manutenção no transporte da cidade. Já cansei de trocar peças da cadeira de rodas, então não faço mais o uso de ônibus todos os dias”, detalhou Walter Siron.

INTERVENÇÕES
A Prefeitura de Uberlândia já realizou três intervenções no transporte coletivo da cidade. A primeira foi em 2020, em razão da pandemia. Na ocasião, o Município deu um aporte para as empresas de R$ 25 milhões. Já em 2021, foram mais de R$ 24 milhões repassados por meio de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC).

Em março deste ano, a Prefeitura fez a terceira ação para as empresas que operam o transporte público na cidade. Um acordo entre a Prefeitura e as empresas manteve o preço da passagem para os usuários em R$ 4,50 até dezembro. 

As empresas chegaram a aumentar o valor do bilhete para R$ 6,30, mas o Município arcará com R$ 1,80 de cada passagem para que a população não seja afetada. De acordo com a Prefeitura, deverão ser repassados cerca de R$ 4 milhões mensais para as operadoras do serviço, que atendem, em média, 2,548 milhões de passageiros por mês. 

POSICIONAMENTOS
Por meio de nota, O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Triângulo Mineiro (Sindett) e empresas de transporte urbano de Uberlândia informaram que, juntos, trabalham para o bom funcionamento do transporte coletivo na cidade e disseram que as empresas e a Prefeitura mantém monitoramento constante da demanda e oferta de viagens no sistema, adequando esta relação quando identificada alguma necessidade pontual.

"Toda a frota passa por vistorias constantes e todos os motoristas são treinados rigorosamente para o bom atendimento dos nossos clientes. Por fim, mais uma vez, todos os veículos passam por inspeções diárias buscando manter o bom funcionamento de toda a frota", consta a nota. 

Por sua vez, a Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Settran) disse que o Sistema Integrado de Transporte (SIT) possui uma frota de 403 veículos, que opera das 4h30 à meia-noite, diariamente, atendendo uma demanda mensal de mais de 3 milhões de passageiros. 

Considerando o fluxo de atendimento da segunda maior cidade de Minas Gerais, a averiguação de ocorrências eventuais pode ser direcionada ao Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da Ubertrans pelo (34) 3210-2040. A Diretoria de Fiscalização da Settran também realiza monitoramento do SIT periodicamente, bem como recebe e averigua demandas dos usuários de transporte coletivo pelo (34) 3210-6923. Os usuários também contam com o aplicativo UdiBus para verificar as linhas mais próximas, bem como horários disponíveis do SIT na cidade. "Somente entre os dias 13 de junho e 12 de julho deste ano, o aplicativo UdiBus teve mais de 2 milhões de acessos, sendo um importante canal para os usuários do transporte público em Uberlândia".


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