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09/07/2022 às 13h00min - Atualizada em 09/07/2022 às 13h00min

De volta às ruas de Uberlândia, Festa do Congado espera mobilizar 20 mil pessoas até outubro

Movimento cultural e religioso terá participação de 24 grupos neste ano, com expectativa de movimentar R$ 1 milhão na economia

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Festividades contarão com a participação de 24 grupos neste ano I Foto: ARAÍPEDES LUZ/SECOM/PMU
Após dois anos de interrupção devido à pandemia causada pela covid-19, a Festa do Congado volta a figurar na cena cultural e religiosa de Uberlândia. Às 19h deste domingo (10), a Igreja do Rosário, localizada no centro da cidade, recebe a tradicional cerimônia de Bandeira de Aviso, marcando o início das festividades no município. A expectativa, segundo os organizadores, é que cerca de 20 mil pessoas participem do movimento, com programação prevista até outubro.   
 
Promovida pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, a benção das bandeiras ocorre com a presença de 24 ternos de congado. Antes disso, às 16h, a sede da instituição recebe um encontro de congadeiros no bairro Nossa Senhora Aparecida. Às 16h30, acontece a carreata do local até a Praça do Rosário.
 
Segundo o presidente da irmandade, Denilson Nascimento, a expectativa para a retomada presencial da Festa do Congado é a melhor possível. Em conversa com a reportagem, ele ressaltou a importância da manifestação para o povo negro e para a cultura da cidade de Uberlândia.
 
“Os congadeiros estão eufóricos com a possibilidade de fazer a festa presencialmente. Todos eles estão com muita fé e alegria para cantarem e agradecerem. É um misto de emoções muito forte. Será uma festa também de muita saudade, por todos aqueles congadeiros que nos deixaram durante a pandemia”, disse.
 
Nascimento explica que após a cerimônia de domingo, os grupos de congado vão começar a realizar as rezas e terços nas casas dos devotos. De acordo com a programação, no dia 30 de setembro as novenas serão abertas nas portas da igreja e a grande Festa do Congado acontece nos dias 9 e 10 de outubro.
 
Em 2022, participam das festividades o Grupo Marinheiro de Nossa Senhora do Rosário, Grupo Marinheiro de São Benedito, Grupo Congo Camisa Verde, Grupo Congo Santa Ifigênia, Grupo Congo Rosário Santo, Grupo Congo Prata, Grupo Congo Verde e Branco, Grupo Congo São Domingos, Grupo Congo Sainha, Grupo Catupé, Grupo Catupé Azul e Rosa, Grupo Catupé de Nossa Senhora do Rosário e Grupo Catupé Martins.
 
Integram a lista ainda o Grupo Marujos Azul de Maio, Grupo Moçambique Estrela Guia, Grupo Moçambique Princesa Isabel, Grupo Moçambique do Oriente, Grupo Moçambique de Belém, Grupo Moçambique Guardiões de São Benedito, Grupo Moçambique Pena Branca, Grupo Moçambique de Angola, Grupo Moçambique Raízes, Grupo Moçambique Quilombo dos Palmares e Grupo Congo Amarelo Ouro.
 
“São 145 anos de uma manifestação muito forte, de resistência do povo negro aqui na nossa cidade. A Igreja do Rosário foi construída há mais de 100 anos e quis o destino que o local se tornasse o hipercentro de Uberlândia. O congado é uma manifestação cultural muito importante para a história dessa cidade”, disse Denilson Nascimento.


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LUTA ANTIRRACISTA
Representante do Grupo de Congado Marujos Azul de Maio, Rubens Aparecido não esconde a alegria e a ansiedade de voltar às ruas para homenagear seus ancestrais. Segundo ele, a Festa do Congado representa um forte movimento cultural e religioso, além de ser uma manifestação da resistência antirracista do povo negro.
 
“Uberlândia é uma cidade extremamente racista, então o nosso movimento também é de resistência. Queremos mostrar ao povo que durante os 145 anos do congado, há uma grande contribuição do negro para o desenvolvimento cultural e social na cidade. Não existe manifestação cultural maior do que a Festa do Congado em Uberlândia”, disse Rubens.
 
Atualmente, o grupo de Rubens conta com mais de 300 pessoas e, de acordo com o congadeiro, um dos maiores desafios dos últimos dois anos foi manter o ânimo dos participantes. Na visão dele, tão importante quanto o congado como forma de expressão é a manutenção dos costumes da festividade entre a população local.
 
“Muitas pessoas ficaram mais resistentes em voltar a participar da festa, depois de ficarmos dois anos sem os nossos eventos. A expectativa é de que a gente consiga levar muita gente nova e entregar a congada às pessoas que estavam com saudades. Hoje, eu tenho 60 anos, então é preciso trazer mais jovens para esse movimento, temos que valorizar a congada”, explicou.
 
Ainda de acordo com o líder do Marujos Azul de Maio, a Festa do Congado é um dos eventos que mais movimenta a economia de Uberlândia. A estimativa é de que apenas a instituição de Rubens já tenha desembolsado cerca de R$ 70 mil para poder ir às ruas.
 
“Em termos de vestimenta, a nossa festa é considerada uma das mais luxuosas do país. O custo dessa festa é alto e mexe com o comércio, com prestadores de serviços, salões de beleza, costureiras, sapateiros. Em 2022, são 24 grupos participantes. Se a média for parecida, estamos falando de mais de R$ 1 milhão em movimentação apenas dos grupos, fora as pessoas que vão nos prestigiar”, detalhou Rubens Aparecido.
 
HISTÓRICO
A Festa do Congado é registrada como Patrimônio Imaterial Cultural de Uberlândia. Segundo a Prefeitura, o movimento começou na cidade no ano de 1874 através de Sr. André. Ele reunia os negros do Rio das Velhas e Olhos D’água, que saiam “batendo caixa”, venerando e pedindo a Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros, para libertá-los da escravidão.
 
A história do congado é diretamente ligada ao período em que os negros africanos foram trazidos para o Brasil a bordo de navios negreiros. Além da saudade de seus países, de onde foram arrancados, a comunidade também trouxe em seus prantos e lamentações a fé no culto e ritos religiosos de diversas regiões. Como os senhores de escravos não permitiam que eles tivessem sua própria religião, os negros foram obrigados a se cristianizarem.
 
Com o passar dos anos, eles sentiram a necessidade de realizar a Festa do Congado na cidade. Naquele tempo, os negros vinham em carros de bois e se agrupavam de baixo de uma grande árvore, onde hoje se encontra a Praça Tubal Vilela. Depois eles seguiam por uma trilha até a Capela de Nossa Senhora do Rosário, construída de pau-a-pique e buritis, onde é hoje a Praça Dr. Duarte, e ali realizavam a Festa. Esta Capela foi construída por volta de 1880.
 
Em princípios de 1891, Arlindo Teixeira, conceituado político e escritor da época, se propôs mudar e construir no terreno vago da atual Praça Rui Barbosa, a segunda Capela, que foi construída com a frente voltada para o bairro General Osório (Fundinho) porque ali era o centro da cidade.
 
Para o lançamento da pedra fundamental, os negros da Irmandade do Rosário, já sob a presidência do Sr. Manoel Francisco do Nascimento (Manoel Angelino) realizaram uma procissão, carregando um cruzeiro de madeira, da antiga capela até onde seria construída a outra. Esta outra capela foi construída, com estrutura de madeira, tijolos de adobe e telha comum. O sino era dependurado do lado de fora, no baldrame da Igreja.
 
Com o crescimento da cidade, esta segunda capela precisou ser ampliada. Para tanto, se formou uma comissão composta de homens influentes da cidade, tais como Cícero Macedo de Oliveira, Dr. Abelardo Moreira dos Santos, Arlindo Teixeira e Manoel Naves de Ávila, que conseguiram donativos com os moradores da cidade.
 
Para os negros, instituiu-se uma mensalidade de um mil réis. A pedra fundamental da edificação foi solenemente lançada em 29 de junho de 1929, com discursos e Banda de Música. A Igreja foi inaugurada em 10 de maio de 1931, com a presença do então Bispo de Uberaba, D. Frei Luiz Maria de Santana. Entre 1987 e 1988 ela foi tombada e restaurada e hoje pertence ao Patrimônio Cultural da cidade.
 
 

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