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15/06/2022 às 19h20min - Atualizada em 15/06/2022 às 19h20min

Minas Gerais investiga duas novas suspeitas de varíola dos macacos em Belo Horizonte

Suspeita em Uberlândia foi descartada; paciente em Ituiutaba segue sob investigação, além de outros dois na capital do estado

DHIEGO BORGES E IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) confirmou nesta quarta (15) que investiga três casos suspeitos de varíola dos macacos no estado. Segundo o comunicado, dois novos pacientes foram identificados em Belo Horizonte, sendo um deles residente em BH e outro em Ouro Preto. Ainda não há casos confirmados em Minas.

Com a atualização, o estado tem quatro notificações, sendo que uma delas foi descartada pelo Ministério da Saúde (MS) também nesta quarta (15). Além dos dois casos suspeitos registrados na capital, ainda segue em investigação um terceiro paciente da cidade de Ituiutaba (MG), no Pontal do Triângulo, notificado pelo Município no domingo (12).

O caso já descartado trata-se de um homem de 41 anos, que morreu no último sábado (11), em um hospital particular de Uberlândia. A vítima era um policial penal que morava em Uberlândia e trabalhava em um presídio de Araguari.  O profissional procurou a unidade de saúde no dia 10 de junho com queixa de febre, dor no corpo e várias vesículas. Por meio de nota, o Ministério da Saúde informou que as causas reais do óbito do policial ainda estão em investigação.

Segundo a SES-MG, até o momento, os casos suspeitos não têm histórico de deslocamentos ou viagens para o exterior. Dentre os contatos próximos, ainda não há nenhum caso sintomático. A SES-MG e as secretarias municipais estão investigando os casos, monitorando os contatos próximos e fazendo as recomendações necessárias.

A Secretaria também disse que está finalizando uma nota orientativa aos municípios sobre a identificação dos casos e coleta de amostras para análise pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). Todos os dados clínicos também estão em análise pela equipe técnica da SES-MG e do Ministério da Saúde para investigação e encerramento dos casos.

ORIENTAÇÕES MÉDICAS
Diante do crescimento das notificações suspeitas no estado e na região, o Diário de Uberlândia conversou com a infectologista Sílvia Nunes Szente Fonseca, que deu mais detalhes sobre a enfermidade.

Segundo a especialista, a varíola dos macacos, também chamada de monkeypox foi descoberta no final da década de 50, quando houve surtos de uma doença semelhante à varíola em colônias de macacos na África. De acordo com ela, a enfermidade ressurgiu nos últimos anos nas partes central e ocidental do continente africano, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem tentando identificar as causas e sintomas desde então.

A infectologista explica que a nova variante é causada por um primo da mesma família da varíola original, mas seu impacto é mais brando. Conforme dito pela médica, a comunidade científica já sabe qual é o agente causador da enfermidade, o que facilita os próximos passos da OMS em caso de uma nova epidemia.

“O que se observou é de que o vírus habita roedores na África, e as pessoas têm muito contato com animais da floresta nessa região. É uma doença que causa febre, deixa os gânglios inchados, mal-estar e lembra muito as lesões da varíola. Ela começa na face e se espalha pelo corpo, como se fosse uma catapora mais endurecida com uma base vermelha. A doença é uma zoonose que mora entre os animais, e quando o homem cruza o caminho, ele pode se contaminar”, explicou.

Até o fechamento desta reportagem, o Ministério da Saúde havia confirmado cinco casos de varíola dos macacos no Brasil, sendo três em São Paulo, um no Rio Grande do Sul e um no Rio de Janeiro. De acordo com a médica ouvida pelo Diário, a distância das notificações é um bom sinal, uma vez que comprova que a transmissão não acontece de maneira agressiva em comparação à covid-19.

“Acredita-se que a varíola dos macacos é transmitida por contato e dificilmente por gotículas, como é o caso da covid-19. É um vírus que conhecemos há algumas décadas. Neste ano, nós começamos a observar casos de pessoas que não haviam viajado. Tudo começou no Reino Unido, com pessoas contaminadas que passaram a apresentar as lesões”, disse a médica.
Ainda segundo Sílvia Nunes Szente Fonseca, todas as mortes de varíola dos macacos foram registradas em países africanos. A doença geralmente acomete crianças com baixa imunidade e pessoas com problemas de saúde. 

CIÊNCIA PREPARADA
Caso a monkeypox avance no Brasil, o problema pode ser resolvido com a aplicação da vacina da doença original. É isso o que aponta a especialista, afirmando que o imunizante diminui em 80% os casos da nova variante. Como ela mesmo disse, os laboratórios já possuem a fórmula pronta caso a aplicação seja necessária.

“Nós conhecemos muito bem a varíola, e já tem vacina para ela, mesmo que ela não esteja amplamente distribuída. Tudo já foi sintetizado, só que hoje não temos o imunizante para 7 bilhões de pessoas, e nem sabemos se será necessário vacinar todo mundo. O que tem acontecido em todo o mundo é a análise de perfil dos pacientes com a varíola dos macacos e como a transmissão está acontecendo”, detalhou.

Assim, Sílvia afirma que não há motivo para alarde e que o momento é de orientação e prevenção, ao contrário do início da pandemia do coronavírus. Em sua visão, um bom sistema de vigilância sanitária pode bloquear a monkeypox no Brasil e não deixar que a doença se torne endêmica.
“Nós estamos em uma posição diferente de março de 2020. Naquela época, não sabíamos qual era o agente da doença, precisamos fazer testes e um ano depois conseguimos a vacina. Se precisarmos usar a vacina da varíola, ela deve ser usada em quem teve contato com a doença. Não sabemos ainda o que vai acontecer, mas a situação atual é mais favorável”, finalizou a infectologista.

PROCEDIMENTOS
Em resposta ao alerta da varíola dos macacos, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) produziu o “Protocolo Clínico para orientações gerais, prevenção e controle do monkeypox”. O documento traz informações necessárias à assistência segura ao paciente de infecção pelo vírus que transmite a doença.

O secretário de Estado de Saúde, o médico Fábio Baccheretti, afirmou que o protocolo é fundamental para o reconhecimento precoce dos pacientes suspeitos e também para ações de vigilância sanitária pela SES-MG. “Esse protocolo vai orientar as equipes da Fhemig e vai ser utilizado também pelos outros hospitais que, comumente, adotam os protocolos desenvolvidos pela Fundação”, disse.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que a pasta, por meio da Sala de Situação e do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) Nacional, segue em articulação direta com os estados para monitoramento dos casos e rastreamento dos contatos dos pacientes.

 

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BRASIL
Até esta quarta (15), o Ministério da Saúde tinha a confirmação de dois novos casos de monkeypox no Brasil, sendo um no estado do Rio de Janeiro e um no estado de São Paulo.

O caso do Rio de Janeiro trata-se de um brasileiro de 38 anos, residente em Londres (Inglaterra), que chegou ao Brasil em 11 de junho para visita familiar.

O caso foi confirmado por exame laboratorial do tipo RT-PCR seguido de sequenciamento pelo Laboratório de Biologia Molecular de Vírus do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho e Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O paciente está em isolamento domiciliar, assim como os seus contatos, apresenta quadro clínico estável e segue sendo monitorado pelas secretarias de saúde do estado e município.

O caso de São Paulo trata-se de um homem de 31 anos, residente no município de São Paulo. O paciente possui histórico de viagem para a Europa, com retorno ao Brasil em 6 de junho. O caso também foi confirmado laboratorialmente com exame RT-PCR, seguido de sequenciamento pelo Instituto Adolfo Lutz.

No momento, o Brasil registra cinco casos confirmados, sendo três em São Paulo, um no Rio Grande do Sul e um no Rio de Janeiro.

*Matéria atualizada às 20h07 para acréscimo de informações.

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